Já se sentiu desconfiado durante uma conversa, mesmo sem saber exatamente o porquê? Aquela sensação de que algo não está certo pode ter fundamento. Detectar mentiras nem sempre é fácil — principalmente quando quem fala é convincente.
No entanto, especialistas revelam que há sinais linguísticos e comportamentais que podem indicar quando alguém está tentando enganar.
De acordo com o advogado criminalista Jefferson Fisher, há um detalhe simples na fala que pode funcionar como um alerta: o uso de palavras extremas.
Em entrevista recente em um podcast, ele apontou termos como “nunca” e “sempre” como possíveis indícios de falsidade. Fisher exemplifica com uma situação comum: se alguém é questionado sobre usar o celular enquanto dirige e responde
Nunca uso o celular no trânsito a ênfase no “nunca” pode soar como um esforço exagerado para sustentar uma imagem, e não uma resposta sincera
Segundo o especialista, declarações absolutas tendem a ser imprecisas, porque a maioria das pessoas já cometeu pequenas falhas, mesmo sem má intenção.
Ele explica que, quando alguém tenta ocultar algo, é comum recorrer a palavras definitivas para reforçar a própria versão dos fatos — o que, ironicamente, pode gerar ainda mais suspeitas.
Velocidade na resposta e mudança de discurso também são sinais
Fisher ainda aponta que quem está mentindo tende a responder de forma acelerada, como se tivesse ensaiado o discurso.
Esse comportamento, segundo ele, se intensifica quando a pessoa é confrontada ou pressionada. Alterações no tom ou na escolha das palavras também são comuns.
Por exemplo, alguém que afirma com firmeza “nunca fiz isso” pode, em seguida, suavizar a postura e dizer “na verdade, quase nunca”. Esse tipo de ajuste revela inconsistência — e, muitas vezes, uma tentativa de controlar os danos da mentira.
A habilidade de detectar essas nuances verbais exige atenção, mas pode ser desenvolvida com prática. Observar como a pessoa fala, mais do que apenas o que ela diz, pode oferecer pistas valiosas sobre sua honestidade.
Sobrecarga mental pode desestabilizar quem mente
Além dos sinais linguísticos, estudos na área da psicologia também indicam estratégias cognitivas para identificar mentirosos.
Uma delas é induzir a pessoa a realizar uma tarefa mental paralela enquanto responde. A ideia, sustentada por pesquisas, é que mentir consome mais energia cerebral do que dizer a verdade — pois exige inventar informações, mantê-las coerentes e evitar contradições.
Quando o cérebro está sobrecarregado, a chance de cometer deslizes aumenta. Isso pode ser feito, por exemplo, ao pedir para a pessoa resolver um cálculo simples — como multiplicar números de cabeça — enquanto responde a uma pergunta delicada.
Estudos reforçam a eficácia do método
O psicólogo Aldert Vrij, da Universidade de Portsmouth, no Reino Unido, é um dos principais estudiosos do tema. Ele demonstra que, quando mentirosos dividem a atenção entre formular respostas e executar outra tarefa, suas histórias perdem coerência com mais facilidade.
Já pessoas que dizem a verdade tendem a manter a consistência, mesmo sob pressão. Isso acontece porque a verdade é baseada em memória real, que exige menos esforço cognitivo do que uma história inventada.
Esse tipo de abordagem tem sido cada vez mais utilizado em entrevistas investigativas e testes comportamentais, e os resultados mostram que a técnica aumenta significativamente a taxa de detecção de mentiras.
Nem todo exagero é mentira, mas vale observar o contexto
Apesar das evidências, especialistas lembram que nenhuma técnica é 100% eficaz. Pessoas ansiosas ou nervosas podem parecer suspeitas mesmo sendo sinceras, enquanto mentirosos experientes conseguem manter a calma. Por isso, a recomendação é analisar padrões de comportamento em vez de julgar com base em uma única fala.
Além disso, o contexto importa. Em conversas informais, como entre amigos ou familiares, o uso de palavras como “sempre” ou “nunca” pode ser apenas força de expressão. Já em ambientes formais, como entrevistas, negociações ou depoimentos, cada palavra deve ser analisada com mais atenção.
Atenção aos detalhes transforma qualquer um em bom observador
Ao juntar conhecimento psicológico com escuta atenta, qualquer pessoa pode melhorar sua capacidade de identificar inconsistências.
Não é necessário equipamento especial nem formação técnica. Basta observar o conteúdo, o tom e o ritmo das respostas. Às vezes, a pausa antes de responder ou o olhar que foge podem dizer mais do que mil palavras.
Da próxima vez que ouvir uma afirmação como “Eu nunca chego atrasado” ou “Jamais mentiria para você”, reflita: a verdade não costuma precisar de tanto esforço para ser defendida.
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