“Nunca houve dois corações mais abertos, nem gostos mais semelhantes, ou sentimentos mais em sintonia.” Jane Austen
Sempre me emociono ao ouvir “Over the rainbow”(Além do arco-íris), composta por Harold Arlen e Yip Harburg no final da década de 30, pela força de expressão em suas infantes palavras (recentemente na voz de Israel Kamakawiwo&aposcole). Mesmo depois de tanto tempo, consegue ilustrar sentimentos bastante atuais e verdadeiros em diversos contextos. Lançando esperanças sinceras de trás das nuvens dos contos de fadas, derretendo problemas como balas de limão.
Reassisti, em uma tarde dessas “A casa do lago” e confesso que por algumas vezes voltei às cenas mais intrigantes, para entender algumas entrelinhas, mensagens que acabam colidindo com minhas experiências, conhecimento e expectativas. Kate Forster (Sandra Bullock) é uma médica, que morava em uma casa à beira de um lago e seu suposto par romântico é Alex Wyler (Keanu Reeves), um arquiteto que mora na mesma casa, porém em outro tempo, dois anos depois.
- 20 mulheres que deram “adeus” à depilação e estão muito felizes com seus corpos!
- “Se te chamarem de feia, não acredite”, escreveu a filha de Cauã e Grazi em bilhete fofo para a madrasta!
O filme ocorre então, com uma diferença de “tempo”, ou seja, os personagens se comunicam através de cartas e se aproximam emocionalmente, porém nunca se encontram pois vivem em anos diferentes.
Ambos são solitários em seus “mundos”, e seguem suas vidas, como pessoas comuns, com dedicação ao trabalho, tentativas de bons relacionamentos e uma busca praticamente incompreensível dentro deles por algo que, embora sutilmente, traria certa completude.
O filme cita um trecho do livro: “Persuasão” de Jane Austen: “Nunca houve dois corações mais abertos, nem gostos mais semelhantes, ou sentimentos mais em sintonia”, explicando como intervalos entre estações do ano, nascer e pôr do sol podem carregar inexplicável concomitância em silêncio. Justificando o cenário de uma casa isolada, num local sem movimento e com nenhum acesso ao lago, apenas uma vista de tudo ao seu redor. Uma visão que não permite o encontro, uma observação de algo que não chega, por não ser alcançado o dado momento.
O filme faz uma personificação desse encontro, mas a busca por algo distante que coexiste, pode ser: o reforço de uma fé esquecida, o resgate de dons ou talentos suprimidos, o abraço a uma causa adormecida.
Pois além do horizonte há um lago, onde tudo acontece, mesmo que não se possa tocar.
O rastreio por algo que já faz parte, mas que está espacialmente longe, justifica as fases da vida: alvorada e entardecer, justifica também o amor, sonhos e a auto-observação. Assim como a provisão que uma canção de décadas atrás carrega em suas estrofes, talvez seja preciso esperar que todas as folhas ventem ao chão para que o outono saiba que passou. Talvez seja preciso ver a neve encobrir o jardim todo, para que o inverno decida ir embora. Talvez seja preciso acreditar que haverá algum lugar, em que pássaros azuis possam voar, onde a casa solitária e fria, abrigará os sonhos mais esperados e os abraços mais quentes no topo da chaminé.
Talvez seja preciso permitir que os novelos se desenrolem ao chão, percorrendo seus próprios fios, como o orvalho que escorre na vidraça. Tecendo um a um, ponto a ponto, nó por nó, reconhecendo o valor dos remendos e das friacas; dos fiapos e dos desencontros; das nuvens e das esperas, até que suas pontas se enlaçem num tecido bem acabado. Ornamentado e arrematado, no instante em que vidas possam ser, enfim colapsadas. Entrelaçadas e bordadas, no tempo certo, em algum lugar, além do arco-íris…
“Somewhere over the rainbow, blue birds fly. And the dreams that you dreamed of.
Dreams really do come true.”
“Em algum lugar além do arco-íris, pássaros azuis voam. E os sonhos que você sonhou. Sonhos realmente se tornam realidade.”
Direitos autorais da imagem de capa: filme “A casa no lago”.