Você provavelmente já escutou alguém dizer: “não coma isso, é reimoso!”. Mas será que essa afirmação tem algum fundamento? Os chamados alimentos “reimosos” ou “remosos” fazem parte do vocabulário popular há gerações, especialmente quando o assunto envolve ferimentos, cirurgias ou doenças.
Apesar do forte apelo cultural, o significado desse termo vai além das crenças familiares e pode ser, em parte, explicado pela ciência.
“Para aqueles que desconhecem esse termo, reimoso, segundo a cultura popular brasileira, é denominação dada a alguns alimentos que ‘fazem mal’ aos doentes. Tais alimentos geralmente contêm grande concentração de gordura e por isso de difícil digestão. O excesso de gordura pode provocar dor de estômago, diarreia, mas não vai prejudicar a cicatrização”,
esclareceu Natasha Vilanova, que atua como clínica médica, endocrinologista e nutróloga na Hapvida.
Ou seja, mesmo que determinados alimentos causem desconfortos digestivos ou reações inflamatórias, isso não significa que interfiram diretamente na regeneração dos tecidos.
Segundo Natasha, a ligação entre esses alimentos e a cicatrização não é respaldada por evidências científicas.
Afinal, esses alimentos interferem na cicatrização?

A ideia de que alimentos classificados como reimosos afetam negativamente a cura do corpo é muito difundida no Brasil. No entanto, segundo a médica, essa percepção não condiz com o que se conhece sobre os processos fisiológicos do organismo.
O processo de cicatrização acaba não sofrendo interferência direta de tais alimentos. Portanto, não há evidências científicas que comprovem tal correlação explicou Natasha
Ou seja, a ingestão de alimentos considerados reimosos não tem impacto comprovado sobre a capacidade do corpo de se regenerar após ferimentos, cirurgias ou inflamações.
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O que entra na lista de alimentos reimosos?
Mas então, de onde surgiu essa crença? Segundo a médica, o conceito pode ter origem em reações reais causadas por determinados tipos de alimento, especialmente frutos do mar.
Quando tratamos de outra classe alimentar, como os crustáceos (camarão, caranguejo, lagosta) que produzem substâncias inflamatórias e alérgenicas, podem provocar alguma reação. Desta forma, a razão de terem relacionado a essa crença acrescentou Natasha
Ou seja, não é que esses alimentos interfiram diretamente na cicatrização, mas sim que podem provocar sintomas como alergias ou desconfortos que, somados a um quadro de saúde já fragilizado, reforçam a crença popular de que eles fazem mal durante o processo de recuperação.
Mesmo assim, Natasha faz um comentário bem-humorado e compreensivo:
Mas, se os avós de vocês falarem para não comerem aquele alimento porque é reimoso, eu obedeceria (risos) brincou
Mercado do Ver-o-Peso e o peso da tradição

Apesar da explicação científica, a crença nos alimentos reimosos continua forte em muitas famílias brasileiras. No mercado do Ver-o-Peso, em Belém, por exemplo, o saber popular ainda prevalece — especialmente entre os mais velhos.
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A servidora pública Fátima Costa, de 64 anos, é uma dessas pessoas que acreditam na influência de certos alimentos na cura de ferimentos. Para ela, o conhecimento transmitido pela mãe tem mais valor do que qualquer estudo:
Minha mãe sempre falou de alguns alimentos, como porco, camarão. Eu acredito sim. Recentemente fui ao médico, ele me disse o contrário, mas acredito que quando comemos alguma comida desse tipo, a nossa ferida fica bem pior contou
Fátima relatou um episódio recente que, segundo ela, reforçou ainda mais essa crença. Após levar pontos na perna, estava com o ferimento quase cicatrizado quando, sem lembrar da restrição, comeu camarão. No dia seguinte, notou que a área estava mais inflamada:
Meus filhos também já estão conscientes que não devem ingerir algum alimento reimoso quando estiverem com alguma ferida ou em processo pós-cirúrgico. Eles acreditam demais nisso, inclusive, tenho certeza que eles contam isso para as pessoas finalizou