A convivência com animais domésticos está cada vez mais presente na vida de muitas pessoas, sendo associada a inúmeros benefícios para a saúde física e emocional.
O tema do vínculo com os pets vem ganhando destaque, especialmente em tempos em que o bem-estar mental se tornou uma prioridade.
Para alguns, o apego aos animais é profundo, quase como se fizessem parte da família. Para outros, porém, esse tipo de relação parece distante ou até incompreensível.
Não são raras as frases que refletem essa diferença de perspectiva.
Quem não gosta de bicho, bom sujeito não é dizem alguns, expressando certa desconfiança em relação àqueles que não demonstram afeto pelos animais
Mas até que ponto essa visão é justa? O que realmente determina se uma pessoa se conecta ou não com seres de outras espécies?
A resposta está longe de ser simples. Fatores como personalidade, experiências de vida, cultura e até predisposições biológicas entram em cena para moldar nossa capacidade de criar vínculos emocionais com animais. E, como a ciência mostra, essa afinidade não é uniforme nem universal.
Entendendo a paixão ou a indiferença pelos animais
Pesquisas na área da psicologia indicam que traços como gênero e perfil de personalidade estão ligados à maneira como nos relacionamos com os animais.
Estudos apontam que indivíduos que se identificam com o gênero feminino tendem a ter atitudes mais empáticas em relação aos direitos dos animais. Além disso, pessoas mais sociáveis, cooperativas e abertas ao diálogo mostram maior propensão a formar vínculos com eles.
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Em contraste, indivíduos com perfis mais autoritários ou dominantes frequentemente adotam uma visão mais hierárquica sobre a relação entre humanos e outras espécies. Nessas perspectivas, o animal muitas vezes ocupa uma posição de subordinação, o que pode limitar a criação de laços afetivos.
Também existem motivações práticas que influenciam esse vínculo. Algumas pessoas veem nos animais uma forma de facilitar interações sociais, o que aumenta a empatia e o afeto.
Para outras, no entanto, ter um pet é sinônimo de responsabilidade excessiva, custos elevados e mudanças de rotina que não se encaixam em estilos de vida mais autônomos ou instáveis.
Há ainda quem tenha construído uma relação negativa com animais a partir de traumas, como mordidas ou alergias, ou mesmo por associações culturais que ligam determinados bichos à sujeira, ao perigo ou à inutilidade.
Essas experiências, muitas vezes originadas na infância, podem gerar um distanciamento emocional que se estende até a vida adulta.
Uma questão de empatia e de predisposição
A empatia desempenha um papel central na capacidade de se conectar com os animais. Algumas pessoas têm maior facilidade em interpretar emoções e intenções em seres diferentes delas, o que facilita a formação de laços afetivos com animais.
Essa habilidade, em muitos casos, possui componentes inatos: há indivíduos que nascem com maior sensibilidade para decodificar sinais sutis de comportamento e emoção em outras espécies.
Esse tipo de empatia não está presente em todos. Pessoas que não possuem essa predisposição natural podem ter mais dificuldade em compreender ou se sensibilizar com os sentimentos de um animal, o que reduz a probabilidade de criar uma conexão emocional.
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Ainda assim, isso não significa ausência de respeito — apenas uma diferença na forma de se relacionar.
Por que não sentimos o mesmo por todos os animais?
Nossa relação com os animais é repleta de contradições. Enquanto cães e gatos muitas vezes são tratados como membros da família, outros bichos são vistos como fonte de alimento, pragas ou ameaças.
Essa diferença de percepção é parcialmente explicada pela nossa evolução: tendemos a sentir mais empatia por animais que compartilham conosco características sociais, como comportamento parental, linguagem corporal e organização em grupos.
Mamíferos, por exemplo, são mais parecidos com os humanos em vários aspectos e, por isso, despertam mais facilmente nossa empatia. Já animais que não fazem parte do convívio urbano ou que são biologicamente mais distantes de nós — como répteis, peixes ou insetos — tendem a não provocar a mesma resposta emocional.
O contato direto também influencia. Crianças expostas desde cedo a pets, especialmente cães e gatos, desenvolvem maior capacidade de reconhecer suas emoções. Já animais que não fazem parte do cotidiano urbano permanecem distantes, muitas vezes invisíveis emocionalmente.
Outros fatores como o tipo de dieta familiar também desempenham um papel relevante. Crianças criadas em lares vegetarianos ou veganos costumam desenvolver uma relação mais empática com diferentes espécies, enquanto dietas carnívoras estão mais associadas a visões utilitárias dos animais.
Pesquisas sugerem que pessoas vegetarianas e veganas tendem a ser mais abertas a novas experiências e reflexões éticas, o que pode ampliar sua percepção sobre o sofrimento e os direitos dos animais de maneira mais abrangente.
Para além das preferências: repensando nossa relação com os animais
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Compreender por que algumas pessoas têm mais facilidade para se conectar com os animais do que outras exige uma análise multifatorial. Fatores evolutivos, biológicos, culturais e emocionais estão todos envolvidos nesse processo.
No entanto, é importante separar afinidade de respeito. Não sentir um forte apego por animais não torna ninguém menos ético — desde que esse distanciamento não se traduza em crueldade ou desvalorização.
Nossa história evolutiva nos ensinou a nos conectar com aqueles que se assemelham a nós. Mas, assim como aprendemos a construir relações humanas com quem pensa, vive e sente de forma diferente, também podemos expandir esse olhar para outras espécies.
A ciência tem avançado no reconhecimento das habilidades cognitivas e emocionais de animais antes subestimados, como aves, anfíbios e até invertebrados. A ampliação desse conhecimento nos convida a rever nossos critérios de empatia e moralidade.
“A reflexão mais importante não é sobre com quais animais sentimos afinidade, mas como podemos aprender a respeitar todos eles, mesmo aqueles que não compreendemos por completo.”