Embora frequentemente relacionado a pessoas mais velhas, o câncer está sendo identificado em idades cada vez mais jovens. Este fenômeno alarmante tem sido notado em escala global. Um estudo abrangente revisou dados significativos sobre essa questão.
Nos últimos trinta anos, houve um aumento impressionante de 79% no número de novos casos de câncer diagnosticados anualmente em indivíduos com menos de 50 anos.
Os casos de tumores de mama, intestino, próstata e outros tipos estão aparecendo cada vez mais cedo. O risco de desenvolvimento desses cânceres parece aumentar a cada geração, e essa tendência tem se manifestado de maneiras diversas. Em escala global, destacam-se os tumores de mama, tireoide e colo do útero, com um aumento de 26% nos novos casos de câncer entre pessoas de 20 a 39 anos em 2022, em comparação com 2012.
Nos Estados Unidos, o aumento notável do câncer de intestino entre jovens nas últimas décadas fez desse tumor a principal causa de morte por câncer em homens com menos de 50 anos no país. Além desses, tumores menos comuns, como os de intestino delgado, vesícula e o sarcoma de Kaposi, também têm mostrado uma incidência crescente.
A situação no Brasil não parece divergir do que ocorre em outras partes do mundo. Um exemplo claro disso é o crescimento da incidência de câncer de mama entre mulheres com menos de 40 anos.
Segundo uma análise realizada pelo ICESP (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo), a proporção de casos nessa faixa etária aumentou de 8% em 2009 para 22% em 2020. Esses números desafiam a antiga percepção de que o câncer é uma enfermidade restrita a pessoas mais velhas.
É fundamental ressaltar um aspecto crucial: em indivíduos mais jovens, o câncer frequentemente se manifesta de maneira mais agressiva e é detectado em estágios mais avançados. Tomemos como exemplo o câncer de mama, que se divide em três subtipos principais.
O primeiro é o luminal, caracterizado pela presença de receptores hormonais, mas sem uma quantidade significativa da proteína HER-2. O segundo é o HER-2 positivo, que apresenta um excesso dessa proteína. Por fim, temos o triplo-negativo, que não possui receptores hormonais nem HER-2 em abundância.
Jovens tendem a ter câncer mais agressivo
Mulheres jovens têm uma probabilidade maior de desenvolver subtipos mais severos de câncer de mama, com riscos aumentados de recorrência e disseminação para outros órgãos, como é o caso do triplo-negativo. Este subtipo é particularmente desafiador e menos comum em mulheres mais velhas, nas quais o tumor luminal tende a ser predominante.
A maior agressividade e a tendência a diagnósticos mais tardios fazem com que o câncer de mama em mulheres jovens se apresente em estágios mais avançados. Isso ocorre porque muitas jovens estão fora da faixa etária recomendada para exames de rotina, como a mamografia, e frequentemente subestimam os sintomas iniciais devido à baixa conscientização sobre o risco de câncer nessa idade. Além disso, a maior densidade das mamas em mulheres mais novas pode dificultar a precisão dos exames.
Importância da conscientização e prevenção
Por essa razão, os programas de conscientização são fundamentais, assim como a revisão das estratégias de prevenção. Um exemplo disso é a colonoscopia para câncer de intestino, agora indicada mais precocemente, a partir dos 45 anos, ao invés dos 50 anos anteriormente recomendados. Simultaneamente, iniciativas promissoras, como o uso de inteligência artificial para análise de mamografias, também buscam melhorar a detecção de tumores, especialmente em mamas mais densas.
Além desses aspectos, é importante reconhecer que os jovens diagnosticados com câncer enfrentam desafios físicos e emocionais únicos devido à doença e ao tratamento, que têm impactos significativos na qualidade de vida como um todo.
A perda de cabelo, as mudanças de peso, cirurgias e eventuais cicatrizes podem afetar profundamente a autoimagem, os relacionamentos, a saúde mental e também a sexualidade. Além disso, alguns tratamentos podem provocar alterações nos níveis hormonais, levando até mesmo à menopausa precoce e infertilidade permanente, trazendo todas as consequências físicas e emocionais para uma população que está em plena idade fértil.
Da mesma forma, o caminho percorrido desde o diagnóstico até o tratamento e a recuperação impacta profundamente a rotina diária e as interações sociais, além de influenciar significativamente as finanças, os estudos e a trajetória profissional dos pacientes que estão em plena fase ativa de suas vidas. Todos esses aspectos precisam ser considerados no tratamento e no acompanhamento desses indivíduos.
Importância de mudanças no estilo de vida
Diante desse cenário preocupante, surge a questão: o que podemos fazer para transformar essa realidade? Em primeiro lugar, é fundamental aprimorar nosso estilo de vida. Embora os fatores genéticos tenham uma relevância significativa, especialmente entre os mais jovens, eles não são os únicos responsáveis.
Na verdade, mais de 80% dos tumores nessa faixa etária não têm origem hereditária. Portanto, é crucial que os resultados dos testes genéticos sejam sempre analisados por um médico especialista. Apenas ele possui o conhecimento necessário para esclarecer o verdadeiro impacto desses resultados no risco de desenvolver câncer e orientar sobre as medidas a serem tomadas.
Embora a genética desempenhe um papel importante, são os hábitos de vida pouco saudáveis — que se tornam cada vez mais comuns globalmente — os principais responsáveis por essa tendência alarmante. Estima-se que pelo menos 30% de todos os casos de câncer poderiam ser evitados com mudanças no estilo de vida.
Mesmo aqueles que possuem mutações genéticas, os quais têm um risco elevado de desenvolver câncer, podem ver esse risco reduzido através de mudanças no estilo de vida. Uma dieta desbalanceada, rica em açúcar, farinha refinada como pão e arroz branco, alimentos ultraprocessados e carne vermelha, é um fator que eleva o risco de câncer.
Isso ocorre porque tal alimentação promove uma inflamação crônica no organismo, criando um ambiente favorável para o surgimento e a sobrevivência de células tumorais. A inflamação contínua pode comprometer o sistema imunológico, causar danos ao DNA e liberar substâncias que incentivam o crescimento de células cancerígenas.
Além disso, o tabagismo, o consumo de álcool, a obesidade e o sedentarismo também exercem um impacto negativo significativo. No caso específico da obesidade, ela não apenas induz uma inflamação crônica no corpo, mas também provoca um desequilíbrio hormonal que facilita o desenvolvimento de tumores. Em contrapartida, a prática regular de atividades físicas oferece um efeito protetor, podendo reduzir o risco de câncer em uma faixa de 10% a 40%.
Diante desse cenário, é urgente que aprimorarmos nossos hábitos de vida o quanto antes para minimizar as chances de desenvolver essa condição ao longo do tempo. Quanto mais cedo adotarmos mudanças positivas, mesmo durante a fase adulta, maior será o efeito benéfico na nossa saúde geral e na diminuição do risco de desenvolver câncer.
O aumento dos casos de câncer em jovens é uma realidade preocupante que demanda nossa atenção imediata. É crucial lembrar que não estamos desamparados diante dessa situação. Adotar hábitos saudáveis é uma estratégia poderosa e eficaz na luta contra o câncer e na sua prevenção.