Certa vez assisti uma matéria que apresentava um costume japonês, realizando cerimônias de divórcio. Um ato de passagem, de um ciclo que se encerra (os noivos juntos quebram a aliança com um martelo), mas que pela tradição japonesa é realizado com respeito, honestidade e participação de amigos e parentes. Sim, as mesmas testemunhas da cerimônia de casamento.
Por que será que o casamento é realizado com toda pompa e circunstância, odes à alegria e exaltação do mais sublime amor? E, na hora do término, divórcio ou separação esse encerramento seja tratado com o mais profundo descaso, como quem descarta uma roupa velha que não lhe serve mais?
Claro que ninguém está falando em fazer uma festa de comemoração ao divórcio, se bem, que alguns até mereceriam! Dependo de como termina há dor e pra quem estiver doendo, qualquer cerimônia pode parecer o vilipêndio de um coração ferido. Lembrei-me dessa matéria e compreendi que o que a tradição japonesa tem algo a nos ensinar: CUIDADO AO SE DESPEDIR.
Não importa muito porque razão o término se deu, se foi traição, perda do encantamento, mudança de objetivos de vida, incompatibilidades de gênio (que se alteram ao longo da jornada), seja lá qual for, vale entoar o refrão do Paralamas: “cuide bem do seu amor, seja quem for”.
Não vale terminar por mensagem, por mais que nossa comunicação hoje em dia esteja cada vez mais tecnológica, não vale deixar pertences na portaria, como quem entrega um SEDEX do correio como se fosse um desconhecido. Se a mágoa ou a raiva for muito grande, com certeza deve haver algum amigo que possa fazer essa árdua tarefa de entrega dos pertences.
Não vale terminar quando seu amor está convalescendo e precisando de cuidados, se por acaso for uma doença mais permanente, seja digno de assumir seu egoísmo e incapacidade de cuidar de quem cuidou de você e comunique isso aos amigos.
Não vale fazer deboche, piadas da dor do outro que está sofrendo por você, apesar desse sofrimento ser enobrecedor ao ego, fica feio rir disso. Evitar ambientes comuns por um tempo pode ser bom, ninguém precisa se privar de nada, eu sei, mas com tanto lugar para passear você precisa mesmo ir nos mesmos lugares que iam antes, que tal mudar de ares e conhecer novos ambientes.
Voltando a nossa famigerada tecnologia, não é necessário estampar seu rosto de felicidade, seu olhar brilhando porque já encontrou o novo amor. Sua felicidade não será menor se não for postada na rede social. Ela será a mesma, viva o que tiver que viver, mas não precisa fazer da rede social um rolo compressor da dor alheia. Talvez, eu mesma já tenha falhado e cometido um dos erros que aponto aqui, mas de certo, se os cometi não quero repetir.
Começamos uma relação de amor com uma alma, não podemos dar adeus à carniça, como quem desova um corpo num matagal qualquer. Amigos merecem respeito, familiares também, você não pode cear no Natal na casa de uma família que não é a sua e depois nunca mais desejar Feliz Natal para aquela família.
Enfim, sabemos que as relações humanas estão cada vez mais descartáveis, mas lembre-se: “cuide bem do seu amor, mesmo se ele não mais o for”.