Para muitos casais, dormir juntos é sinônimo de intimidade e conexão emocional — mas e se isso estiver atrapalhando, em vez de ajudar?
A ideia pode parecer contraditória à primeira vista, mas especialistas têm apontado que o chamado “divórcio do sono”, quando os parceiros decidem dormir em camas ou quartos separados, pode ser uma das chaves para melhorar a qualidade do sexo no relacionamento.
Roncos, insônia, despertares noturnos e diferentes ritmos de sono são fatores que interferem diretamente no descanso — e um corpo cansado, mal dormido, dificilmente estará disponível para o desejo.
Dormir separado não significa distanciamento afetivo, mas sim o cuidado mútuo com o bem-estar físico e emocional, que pode refletir positivamente na vida íntima. Entenda como essa mudança aparentemente simples pode trazer um novo fôlego para a relação.
O sono compartilhado pode ser mais complexo do que parece
Segundo Wendy Troxel, cientista comportamental da RAND Corporation e autora de “Sharing the Covers: Every Couple’s Guide to Better Sleep”, dormir bem torna-se mais difícil quando se divide a cama com outra pessoa.
Muitas pessoas gostam da sensação de segurança que vem de compartilhar a cama com o parceiro, mas, para alguns casais, a perturbação pode superar os benefícios psicológicos afirma Troxel
Uma pesquisa realizada pela SleepFoundation em janeiro de 2023 apontou que 53% dos participantes que optaram por dormir em camas separadas relataram melhora na qualidade do sono. No entanto, adotar o chamado “divórcio do sono” não é a única solução possível.
Decifrando a inquietação: pode haver uma causa clínica
O professor Philip Gehrman, da Penn Medicine, alerta que o termo “dorminhoco inquieto” é vago e pode esconder um distúrbio de sono real.
Incentive seu parceiro a procurar seu médico de atenção primária. Ele pode indicar um centro de sono ou especialista para investigar condições como apneia do sono, síndrome das pernas inquietas ou insônia crônica orienta Gehrman
A neurologista Shelby Harris, do Albert Einstein College of Medicine, lembra que muitas pessoas evitam estudos do sono por acharem que precisam passar uma noite em laboratório, mas exames domiciliares são cada vez mais comuns, práticos e não invasivos.
Ajustes na cama podem fazer toda a diferença
Desconforto físico pode ser um dos fatores da inquietação noturna, explica Harris. Modificar a estrutura da cama pode trazer benefícios surpreendentes.
Unir dois colchões de solteiro com um conector permite que cada pessoa escolha a firmeza ideal para seu lado da cama, o que ajuda a reduzir o impacto dos movimentos do outro afirma a médica
Troxel também sugere o uso de cobertores separados, que ajudam a evitar puxões e desconfortos térmicos. Se a estética for uma preocupação, um edredom maior pode ser colocado por cima.
Harris complementa que camas ajustáveis e protetores de colchão com funções de aquecimento ou resfriamento individualizados são boas alternativas para casais com diferentes necessidades de conforto.
Respeitar ritmos diferentes é fundamental
Os padrões de sono têm bases biológicas, o que pode criar dificuldades para casais com ritmos opostos. Uma pessoa mais noturna pode acabar atrapalhando o sono do parceiro que dorme cedo.
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Existe essa ideia equivocada de que dormir no mesmo horário é sinal de um relacionamento saudável. Mas não há nada de errado se um parceiro precisa se deitar mais cedo e já estar dormindo quando o outro chega explica Gehrman
Ele ainda recomenda que a pessoa madrugadora entre no quarto apenas 30 a 45 minutos depois, respeitando o estágio de sono profundo do outro.
Antes de culpar o outro, olhe para seus próprios hábitos
Troxel destaca que, muitas vezes, o problema do sono é interno, mas acaba sendo atribuído ao parceiro. Fatores como estresse, uso de álcool, cafeína ou maus hábitos de sono podem estar interferindo diretamente na qualidade do descanso.
Observar esses aspectos e ajustar sua higiene do sono é uma etapa essencial antes de responsabilizar o outro pela insônia ou sono fragmentado.
O “divórcio do sono” não precisa ser tabu
Para alguns casais, camas ou quartos separados podem ser a melhor solução, especialmente quando a inquietação ou o ronco se tornam incontroláveis.
Shelby Harris recomenda reservar momentos de conexão antes de dormir — como ler juntos ou deitar de conchinha — para preservar a intimidade.
É importante que ambos tenham um espaço confortável para dormir. Conversar abertamente sobre essas questões é, na verdade, um ato de cuidado com a relação afirma Harris
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Dormir bem é uma necessidade física e emocional. E quando feita com empatia e diálogo, a busca por soluções — mesmo as mais inusitadas — pode fortalecer o casal. Afinal, passamos cerca de um terço da vida dormindo, e isso deve acontecer com qualidade.