O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou a aplicação de uma tarifa de 10% sobre todos os produtos importados do Brasil. A medida foi confirmada na última quarta-feira (2) e, segundo o governo norte-americano, corresponde ao mesmo percentual de tarifas cobradas pelos países que taxam produtos norte-americanos.
Trata-se de mais um passo no plano do governo republicano de aplicar o que vem chamando de “tarifas recíprocas”, com o objetivo de equilibrar relações comerciais consideradas desfavoráveis.
O chamado “tarifaço” atinge não apenas o Brasil, mas também diversos países como China, Japão, Vietnã, Taiwan, União Europeia, Tailândia e Coreia do Sul. A intenção, de acordo com Trump, é padronizar uma alíquota mínima de 10% sobre todos os produtos de nações que aplicam tarifas sobre bens norte-americanos.
México e Canadá, embora não tenham sido citados na declaração, já haviam sido considerados como possíveis alvos de medidas semelhantes, o que gerou expectativa em torno de seus posicionamentos futuros.
Impacto direto nas exportações brasileiras
Como a nova tarifa se aplica a todas as exportações do Brasil aos Estados Unidos, os efeitos serão generalizados, embora alguns setores devam ser mais impactados que outros.
Entre os principais produtos exportados estão petróleo bruto, minério de ferro, café, pasta de madeira, ferro fundido e carnes bovinas. Em 2024, os óleos brutos de petróleo somaram R$ 5,8 bilhões em exportações para os EUA, representando um dos maiores volumes de comércio entre os dois países.
Confira os 10 produtos mais exportados para os Estados Unidos em 2024, segundo dados do governo brasileiro:
- Óleos brutos de petróleo
- Produtos semimanufaturados de ferro ou aço não ligado, com baixo teor de carbono
- Café em grão, não torrado e não descafeinado
- Pastas químicas de madeira à soda ou ao sulfato, semibranqueadas ou branqueadas
- Ferro fundido bruto com baixo teor de fósforo
- Aviões e veículos aéreos com peso superior a 15.000 kg
- Outras gasolinas, exceto para aviação
- Veículos aéreos a turbojato entre 7.000 kg e 15.000 kg
- Carnes bovinas desossadas e congeladas
- Produtos semimanufaturados de ligas de aço
A maior parte desses itens atualmente não está sujeita a tarifas de importação nos EUA, o que torna a nova medida um retrocesso nas relações comerciais bilaterais. A expectativa do governo brasileiro é que o impacto financeiro se estenda de forma significativa aos exportadores nacionais.
Entrada em vigor e possíveis exceções
Segundo a Casa Branca, as tarifas básicas passarão a valer a partir das 0h01 de sábado, 5 de abril. Já as chamadas “tarifas recíprocas”, com alíquotas ajustadas de acordo com as taxas praticadas por cada país, terão vigência a partir das 0h01 de quarta-feira, 9 de abril. Ainda não foi divulgada uma lista oficial dos produtos que estarão sujeitos a essas alíquotas variáveis.
No entanto, a Casa Branca adiantou que itens como automóveis, aço, alumínio, cobre e madeira não estão incluídos nesta primeira etapa. Já há expectativa de que novas rodadas de tarifas específicas sejam anunciadas nos próximos dias, abrangendo setores como semicondutores, produtos farmacêuticos e minerais essenciais.
Reação do governo brasileiro
Em nota oficial, o Itamaraty lamentou a decisão do governo dos Estados Unidos e classificou a medida como prejudicial às exportações nacionais.
O comunicado afirma que o Brasil permanece aberto ao diálogo, mas que também avalia “todas as possibilidades de ação para assegurar a reciprocidade no comércio bilateral, inclusive recurso à Organização Mundial do Comércio, em defesa dos legítimos interesses nacionais”.
A medida impactará todas as exportações brasileiras de bens para os EUA afirmou o governo brasileiro
Em resposta imediata, o Senado Federal e a Câmara dos Deputados aprovaram um projeto de lei que estabelece diretrizes para a reciprocidade econômica, permitindo que o Brasil adote medidas semelhantes contra países que adotem restrições comerciais consideradas desleais.
A decisão de Trump aumenta a tensão no comércio internacional em um momento de desaceleração global e pode ter efeitos colaterais significativos nas cadeias produtivas que envolvem empresas brasileiras e norte-americanas.
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A depender da repercussão entre aliados e parceiros comerciais, o movimento pode também influenciar futuros acordos bilaterais e as relações diplomáticas entre os dois países.
Leia o texto completo:
O governo brasileiro lamenta a decisão tomada pelo governo norte-americano no dia de hoje, 2 de abril, de impor tarifas adicionais no valor de 10% a todas as exportações brasileiras para aquele país. A nova medida, como as demais tarifas já impostas aos setores de aço, alumínio e automóveis, viola os compromissos dos EUA perante a Organização Mundial do Comércio e impactará todas as exportações brasileiras de bens para os EUA.
Segundo dados do governo norte-americano, o superávit comercial dos EUA com o Brasil em 2024 foi da ordem de US$ 7 bilhões, somente em bens. Somados bens e serviços, o superávit chegou a US$ 28,6 bilhões no ano passado. Trata-se do terceiro maior superávit comercial daquele país em todo o mundo.
Uma vez que os EUA registram recorrentes e expressivos superávits comerciais em bens e serviços com o Brasil ao longo dos últimos 15 anos, totalizando US$ 410 bilhões, a imposição unilateral de tarifa linear adicional de 10% ao Brasil com a alegação da necessidade de se restabelecer o equilíbrio e a “reciprocidade comercial” não reflete a realidade.
Em defesa dos trabalhadores e das empresas brasileiros, à luz do impacto efetivo das medidas sobre as exportações brasileiras e em linha com seu tradicional apoio ao sistema multilateral de comércio, o governo do Brasil buscará, em consulta com o setor privado, defender os interesses dos produtores nacionais junto ao governo dos Estados Unidos.
Ao mesmo tempo em que se mantém aberto ao aprofundamento do diálogo estabelecido ao longo das últimas semanas com o governo norte-americano para reverter as medidas anunciadas e contrarrestar seus efeitos nocivos o quanto antes, o governo brasileiro avalia todas as possibilidades de ação para assegurar a reciprocidade no comércio bilateral, inclusive recurso à Organização Mundial do Comércio, em defesa dos legítimos interesses nacionais.
Nesse sentido, o governo brasileiro destaca a aprovação pelo Senado Federal do Projeto de Lei da Reciprocidade Econômica, já em apreciação pela Câmara dos Deputados.