Condenado por planejar e participar do sequestro e assassinato de Eliza Samudio em 2010, Bruno vive atualmente em liberdade condicional, distante do glamour da elite do futebol e dos luxos que desfrutou durante sua passagem pelo Flamengo.
Na várzea, no entanto, ele ainda é admirado e tratado como um ídolo, mesmo após o escândalo que chocou o país.
Presença em campeonato amador
Na última quarta-feira (12), o portal UOL esteve presente no Campeonato de Verão de Futebol do Açu, um torneio amador realizado em São João da Barra (RJ), cidade localizada no interior do Rio de Janeiro. É nesse cenário que Bruno defende o time Independente de Mato Escuro.
Naquela noite, o goleiro foi poupado, pois sua equipe já havia garantido antecipadamente a classificação para as semifinais da competição, mas mesmo assim atraiu a atenção dos fãs.
Fã devoto atrai atenção
Um admirador — que curiosamente também se chama Bruno — chamou a atenção: ele exibe uma grande tatuagem do rosto do goleiro em sua panturrilha esquerda.
Além disso, estava vestido com uma camisa personalizada que o Flamengo fez para Bruno em 2009. Para completar seu “kit fã”, ele ainda tinha uma foto do ex-goleiro como proteção de tela em seu celular.
Confesso admirador, ele surpreendeu Bruno com um pedido inusitado na partida da semana anterior: que autografasse sua perna para que pudesse tatuar a assinatura logo abaixo da imagem. A promessa foi cumprida, e enquanto conversava com o portal UOL, mostrava o local ainda avermelhado devido ao procedimento.
Esperei anos por este momento. Sempre fui muito fã dele. Depois do que aconteceu (assassinato de Eliza Samudio), eu dei uma parada, mas um tempo depois voltei a idolatrá-lo. Eu o adicionei no Instagram, depois nos falamos por telefone e avisei que viria aqui para pegar o autógrafo para a tatuagem e também para tirar uma foto contou Bruno Bueno, fã do goleiro.
Desempenho invicto no torneio
Bruno ainda não sofreu gols nos três jogos que disputou até agora. Além disso, sua equipe lidera a competição de forma invicta. Para muitos, o goleiro de 40 anos ainda faz uma grande diferença atuando na várzea.
“Apostei aqui que ele não vai sofrer gol a competição inteira“, comentou um torcedor que assistia à partida sentado em uma cadeira de praia.
O portal UOL também conversou com um colega de equipe de Bruno, que pediu para permanecer anônimo, mas não poupou elogios: “Ele é um cara tranquilo. Nos orienta e é uma liderança no nosso time, além de ter muita qualidade embaixo das traves“.
Premiação de R$ 4,7 mil e jogo interrompido por falta de luz
O passado glamouroso dos profissionais ficou para trás, assim como as recompensas. No Campeonato de Verão de Futebol do Açu, a recompensa prometida ao time vencedor é de R$ 4,7 mil, que será dividido entre todos os atletas.
As partidas do torneio ocorrem no campo Geraldo Nunes Barreto, localizado no distrito de Açu, onde o gramado é irregular e não há arquibancadas.
Na quarta-feira à noite (12), por exemplo, aproximadamente 100 pessoas assistiam ao jogo sentadas em cadeiras de praia ou plásticas ao redor do campo, que é cercado por uma grade. Um bar e duas barracas — uma de pipoca e outra de churrasquinho — serviam petiscos e bebidas para os presentes.
Entretanto, o tão esperado jogo começou com atraso e teve a duração reduzida a apenas um tempo. Isso ocorreu devido à falta de energia durante o intervalo, quando o placar estava empatado em 0 a 0. A eletricidade não foi restabelecida.
A arbitragem foi compreensiva e aguardou cerca de trinta minutos; esse tempo foi utilizado por um jogador do Juventude — o rival do time de Bruno — para se alimentar na lateral do campo com um prato de churrasquinho, arroz, farofa e molho vinagrete.
Sem a volta da luz, o árbitro apitou o término da partida, gerando frustração entre os torcedores presentes. A prefeitura ainda não se pronunciou sobre a possibilidade de retomar o jogo ou declarar um empate.
Bruno trabalha como entregador de móveis
As atuações como goleiro em campos amadores do interior do Rio de Janeiro são um “bico” para Bruno. Atualmente, o ex-jogador do Flamengo atua como entregador de móveis na Região dos Lagos (RJ).
Em setembro de 2024, um vídeo dele desempenhando essa função se espalhou rapidamente nas redes sociais e, poucos dias depois, a equipe do UOL visitou a loja “Casa Unimar“, onde ele trabalha há mais de um ano.
Os colegas de trabalho o descreveram com adjetivos positivos: “pontual“, “dedicado” e que “não dá trabalho“. No entanto, ninguém se dispôs a gravar depoimentos ou se identificar.
Uma das funcionárias que foi entrevistada era mulher e, mesmo com o passado de Bruno, defendeu seu colega de trabalho.
O Bruno é uma pessoa trabalhadora. Nunca nos deu trabalho. Está tentando recomeçar sua vida
Bruno tem tentado ser discreto em sua vida fora das grades. Suas aparições na loja — para recolher móveis e colocar no caminhão — são feitas sem muito alarde. Alguns o reconhecem, outros têm receio, mas muitos custam a acreditar que ele é o famoso ex-goleiro.
Tem gente que fica olhando e não acredita que é o Bruno. Depois que ele vai embora, alguns perguntam se ele é o Bruno mesmo. Alguns acham que é brincadeira quando você diz que é o próprio Vendedor da loja de móveis.
Bruno tem se esforçado para manter um perfil discreto em sua vida após deixar a prisão. Suas visitas à loja — para pegar móveis e carregar no caminhão — acontecem sem grande alvoroço. Alguns o identificam, outros demonstram receio, mas muitos ainda têm dificuldade em aceitar que ele é o renomado ex-goleiro.