Juliana Oliveira, ex-assistente de palco do programa The Noite (SBT), fez sua primeira declaração sobre a acusação de estupro contra Otávio Mesquita. Ela afirma que a emissora não tomou as providências necessárias após sua denúncia.
O relato do ocorrido
Juliana relata que Otávio Mesquita não cumpriu o que havia sido acordado durante a gravação. “Na hora de [gravar] valendo, é o que vocês viram. O cara já chegou com as duas mãos na minha bunda, no meu peito. Eu dei um chega pra lá nele, mas ele não parava. Quando ele desvirou, foi pior ainda. […] Não contente com isso, ele ainda me volta no meio do palco pra falar sobre meu corpo. Aquilo não foi consentido”, disse.
Ele me agarrou à força. Aquilo foi uma violência. Até minha cabeça no meio das pernas dele ele colocou. Ele não parava afirmou Juliana Oliveira.
A ex-assistente de palco refutou a alegação de Otávio Mesquita, que disse que a esquete tinha sido combinada. “Esse cara andou falando que aquilo foi uma brincadeira combinada. Combinada com quem, Otávio Mesquita? Com quem você combinou aquela brincadeira? Aquilo não foi uma brincadeira, foi uma violência. É nítido meu desconforto no vídeo.”
Medidas tomadas após o ocorrido
Juliana contou que fez reclamações sobre o ocorrido a Danilo Gentili, ao diretor e à produção do programa. “Eu falei que esse cara tinha passado do ponto, que ele passou a mão em todo o meu corpo. Eu expliquei isso para o meu apresentador, pro diretor, pra produção.”
Otávio Mesquita teria sido “banido” do programa, mas frequentemente invadia o estúdio. “Uma forma que eles acharam para me blindar foi que a partir daquele dia, foi [decidir que] o Otávio não seria mais convidado para entrevista no The Noite. […] Ele nunca mais foi dar entrevista, mas não quer dizer que ele não invadia o The Noite quando estava rolando gravação para gravar bastidor.”
Juliana revelou que a produção a trancava no banheiro para evitar encontros com o apresentador. “A produção me escondia no banheiro. Isso não aconteceu, uma, duas, três vezes, nem dez vezes. Aconteceu muito mais.”
Eu era trancada no banheiro como se a errada fosse eu. Como se a culpada fosse eu. Como se a criminosa fosse eu. Eu fiquei por muitos anos assim, sendo trancada no banheiro disse Juliana Oliveira.
Ela conta ter percebido a seriedade do caso quando viu Danilo Gentili apoiar Dani Calabresa em relação a Marcius Melhem, em 2020. “Eu falei: ‘Caramba, Danilo. Isso aconteceu debaixo do seu nariz e você não fez nada? Eu tenho que ser branca, rica, tenho que ser o quê pra você me defender? Sua comoção é seletiva?’. Acho que ele entendeu a gravidade, o diretor entendeu a gravidade e eles me ofereceram denunciar o Otávio na empresa.”
Inicialmente, ela hesitou em denunciar Mesquita por receio de perder seu emprego. “Eu tinha medo de denunciar esse cara e perder o emprego. Eu tave mexendo com gente grande, eu tinha noção disso. Meu pânico era ele falar que eu queria o dinheiro, ele falar que jamais faria isso com a mulher e o filho dele na plateia. Tudo isso está registrado por mensagem. Eu tinha pânico. Eu só falei: ‘Não quero estar perto desse cara. Não quero lidar com ele’ A partir dali, ele nunca mais invadiu o The Noite e eu não fui mais trancada no banheiro.”
Juliana relata que, ao deixar o The Noite, buscou a direção do SBT para registrar uma denúncia. “Eu precisava que a diretoria do SBT soubesse de tudo que tinha acontecido comigo. Eu fiz uma série de reuniões pra explicar tudo. A própria direção do SBT me encaminhou para o compliance. […] Eles viram a gravidade, eles viram como eu tava transtornada da cabeça, eles viram como tava minha saúde mental.”
Depois da denúncia, ela afirma que sua presença na emissora diminuiu até ser demitida. “Minha carreira estava em ascensão no SBT, mas foi só eu denunciar, que foi se perdendo. […] O compliance aconteceu entre agosto e setembro. […] Passou dezembro, janeiro, fevereiro, me chamaram para conversar e [me dispensaram].”
Eu fiz uma denúncia pra uma empresa comandada por mulheres e nem ao menos elas me ouviram. […] Todo o ódio que eu recebi na internet falando: ‘por que eu não fiz tal coisa’, eu fiz. Eu fiz todo o procedimento. Eu nunca quis que isso se tornasse público. Eu só fui na Justiça porque o SBT não fez p*rra nenhuma declarou Juliana Oliveira.
Otávio Mesquita nega acusação
Ele afirma que tudo foi uma “brincadeira combinada de maneira informal“. “Tudo foi ao ar há quase 10 anos e hoje nasce aí essa essa acusação caluniosa contra mim, gente. Que absurdo isso, né? Então, sinto muito, se exagerei na brincadeira, agora vendo o vídeo com o olhar dos tempos atuais, sei que não repetiria isso, né? Porque naquela época podia brincar muito, mas enfim. A distância entre o que aconteceu no palco e um estupro é gigantesca mesmo, é absurdo isso“, comentou.
Otávio acrescenta que “não tem idade para fazer nada de errado“. “Fico muito triste quando as pessoas fazem coisas que não são reais. Agora, eu saio fora e deixo que a parte jurídica siga. Agradeço todos que são meus amigos.”
Cena foi ao ar em 2016
Em entrevista ao portal Splash, Hédio Silva, advogado que representa Juliana, afirma que a ex-assistente de palco de Danilo Gentili foi submetida a atos libidinosos sem seu consentimento.
O profissional destaca que a jurisprudência atual indica que “a prática de atos libidinosos configura estupro“, mesmo na ausência de penetração. “Lei passou por reformulação em 2009. O judiciário tem reconhecido o estupro mesmo quando a pessoa não toca na vítima, por exemplo“.
No programa disponível no YouTube, é possível observar Juliana Oliveira sendo tocada nos seios após a entrada de Otávio Mesquita, que aparece no palco pendurado por um cabo de aço. Logo depois, enquanto Juliana tenta remover os equipamentos de segurança do apresentador, ele a segura e simula movimentos sexuais.
Quando vi o vídeo, eu fiquei estupefato. Como alguém grava um vídeo daquele jeito? É um sentimento de impunidade. Ele aproxima as partes íntimas da boca dela, joga a Juliana no sofá… Quase quatro minutos de agressão. Ela reage, dá tapa, chuta, protesta. Depois, o Danilo Gentili a chama de volta para o palco, ela volta constrangida. Ela saiu com a noção exata de que foi violentada, mas não entendia a gravidade. Quando me contratou, analisei o material e disse: ‘Isso foi estupro com tudo gravado’. Ele ainda confessa no final ao se referir aos seios de Juliana como ‘durinho’. É uma violência sem tamanho disse Hédio Silva, advogado de Juliana Oliveira.
A defesa argumenta que cada indivíduo possui um tempo diferente para fazer denúncias, algo reconhecido pelos tribunais, e que Juliana tentou buscar apoio no SBT sem êxito. “No último trimestre de 2024, ela levou a questão ao conhecimento da emissora, mas não teve a resposta que esperava. Isso adoece a pessoa. E entra o componente racial, a ideia de que o corpo da mulher é público“.
O advogado de Juliana afirma que Mesquita entraria pendurado e que Juliana deveria ajudá-lo sem qualquer contato físico. “Ele apalpa as nádegas, os seios, simula o ato. Nos primeiros segundos, ela defere tapa, chutes… Quando volta ao palco, a expressão é de descontentamento. O Danilo Gentili chegar a falar ‘a Ju está com cara de que não está curtindo, mas ela gosta’“.