As chamadas canetas emagrecedoras continuam em destaque no mercado, mas agora também estão no centro das atenções da comunidade científica.
Com o aumento da popularidade de medicamentos como Ozempic, Wegovy e Mounjaro, crescem as dúvidas sobre seus reais efeitos, segurança a longo prazo, outros benefícios clínicos e o que acontece após o fim do tratamento. Novas pesquisas divulgadas recentemente apresentam respostas mais claras — e surpreendentes.
Qual é a média de perda de peso com esses medicamentos?
O Mounjaro, novo no Brasil, se destacou como o mais eficaz na redução de peso entre as opções disponíveis. De acordo com os dados do estudo SURMOUNT-5, apresentados no Congresso Europeu de Obesidade (ECO) e publicados na New England Journal of Medicine, os pacientes que utilizaram a tirzepatida — princípio ativo do Mounjaro — perderam em média 20,2% do peso corporal. Já os que tomaram semaglutida (presente no Ozempic e no Wegovy) registraram uma redução de 13,7%.
Na prática, isso representa uma diferença significativa: os usuários de tirzepatida eliminaram cerca de 22,8 kg, enquanto os da semaglutida perderam 15 kg em um período de 72 semanas.
Além disso, 64,6% dos pacientes que tomaram Mounjaro alcançaram pelo menos 15% de perda de peso, contra 40,1% entre os que usaram semaglutida. A redução da circunferência abdominal também foi mais expressiva com a tirzepatida: 18,4 cm contra 13 cm.
Efeitos colaterais e segurança
Os efeitos adversos mais frequentes nos dois tratamentos foram sintomas gastrointestinais leves a moderados. No entanto, o índice de abandono do uso devido a efeitos colaterais foi semelhante ou até menor no grupo da tirzepatida: 6,1% dos usuários desistiram do tratamento, ante 8% entre os que usaram semaglutida.
Esses dados reforçam a necessidade de acompanhamento médico rigoroso e personalizado, já que mesmo os efeitos mais leves podem interferir na adesão ao tratamento.
Como funcionam esses medicamentos no organismo?
A ação principal de tirzepatida e semaglutida está relacionada à simulação do hormônio GLP-1, que atua na regulação do apetite e do metabolismo.
Esses hormônios se ligam a receptores no cérebro, promovendo saciedade, e também retardam o esvaziamento gástrico, reduzindo a ingestão calórica. No pâncreas, estimulam a produção de insulina, sendo benéficos também para pacientes com diabetes tipo 2.
A semaglutida atua exclusivamente como agonista do GLP-1. Já a tirzepatida, considerada uma nova geração de tratamento, é um agonista duplo: ela simula não só o GLP-1, mas também o GIP (peptídeo inibitório gástrico), outro hormônio intestinal que auxilia na regulação da glicose e do peso.
Outros benefícios além da perda de peso
Estudos recentes indicam que os efeitos positivos dessas drogas vão além do emagrecimento e do controle glicêmico. O Wegovy, por exemplo, demonstrou em estudo recente uma redução de 37% no risco de morte cardiovascular, infarto e AVC não fatal após apenas três meses de uso.
Em seis meses, os resultados foram ainda mais expressivos: queda de 50% no risco de morte por doença cardíaca e 59% na taxa de hospitalização ou emergência por insuficiência cardíaca.
Essas conclusões vêm do estudo SELECT, realizado em 41 países com 17.604 pessoas com sobrepeso ou obesidade e doenças cardiovasculares, mas sem histórico de diabetes. Os pesquisadores apontam que a semaglutida parece oferecer proteção cardiovascular independente da perda de peso.
Redução do consumo de álcool: um efeito inesperado
Um novo dado intrigante surgiu no ECO 2025: o uso de análogos do GLP-1 pode diminuir significativamente o consumo de álcool. Segundo estudo da University College Dublin, pessoas em tratamento com liraglutida ou semaglutida reduziram o consumo semanal de álcool em cerca de dois terços em apenas quatro meses. Em números: a média caiu de 11,3 para 4,3 unidades semanais.
Entre os bebedores mais frequentes, a queda foi ainda maior: de 23,2 para 7,8 unidades por semana.
O professor Carel le Roux, líder da pesquisa, explicou:
O mecanismo exato pelo qual os análogos do GLP-1 reduzem o consumo de álcool ainda está sendo investigado, mas acredita-se que envolva a redução da vontade de beber que surge em áreas subcorticais do cérebro que não estão sob controle consciente
A perda de peso é duradoura após o fim do tratamento?
A manutenção dos resultados após o fim do uso ainda é um desafio. Um estudo da Universidade de Oxford comparou 11 pesquisas sobre medicamentos baseados em GLP-1 e concluiu que os pacientes tendem a recuperar grande parte do peso perdido dentro de um ano após a interrupção do tratamento.
Pacientes que usaram semaglutida ou tirzepatida perderam cerca de 16 kg, mas readquiriram aproximadamente 9,6 kg em até 12 meses. Isso significa que, sem a continuidade do uso ou mudanças de estilo de vida sustentadas, o reganho total pode ocorrer em até 20 meses.
Os pesquisadores também compararam com dados de dietas sem remédios. A diferença está na velocidade: enquanto a recuperação de peso com dietas tende a ocorrer ao longo de cinco anos, com os medicamentos, esse processo é acelerado.
Esses medicamentos são muito eficazes, mas quando você os interrompe, o ganho de peso é muito mais rápido do que com as dietas afirma Susan Jebb, professora de Oxford e coautora da análise