O público imediatamente aplaudiu a atitude do mímico, que só precisou usar sinais para chamar a atenção do pai.
O nascimento dos filhos implica numa sucessão de obrigações e deveres que, na quase totalidade dos lares, resultam no cansaço e na sensação de sobrecarga com frequência. Ficar acordada de madrugada, amamentar o pequeno, cumprir as sucessivas rotinas de banho, alimentação e sono, além de se preocupar com sua saúde, são alguns dos pontos mais exigentes.
É justamente por isso que é de suma importância que as famílias possuam uma sólida rede de apoio, que pode ser formada por familiares, amigos e profissionais, auxiliando nesse árduo processo de cuidado e criação infantis. Ainda assim, em muitos momentos — a maioria deles — os cuidados vão ficar a cargo apenas dos genitores, e são as mulheres as que mais precisam lidar com esse trabalho invisível na sociedade.
Recentemente, o vídeo de um casal passeando no parque SeaWorld, em Orlando, nos Estados Unidos, viralizou nas redes sociais. Os dois passeavam com o filho ainda bebê, quando foram surpreendidos por um mímico. A mulher carregava o filho e a mochila do pequeno, enquanto o companheiro estava com as mãos vazias.
Analisando a situação e sem emitir nenhum som, o mímico perguntou à mulher se ela estava sozinha ou onde estava o pai da criança, e a mulher rapidamente apontou seu companheiro, um pouco atrás.
Usando muitas expressões faciais e um gestual capaz de arrancar aplausos dos que estavam na arquibancada assistindo àquela cena, o mímico imediatamente mostrou a mochila da mulher, tirou de seus ombros e deu-a para o pai. A mulher caiu na gargalhada, o público ovacionou o artista e o homem, constrangido com a situação, acatou o pedido, fazendo cara de quem compreendeu muito bem o que estava acontecendo.
O casal continuou seu caminho, e antes que a filmagem acabasse, o mímico ainda fez uma “gracinha”, colocando a mão na orelha e no rosto, imitando um telefone, e dizendo para ela ligar para ele. O público achou ainda mais engraçado, e logo o vídeo se encerrou. Por mais simples que a cena tenha sido, a sobrecarga materna é uma realidade.
Assista ao vídeo:
A sobrecarga materna em dados
Segundo o relatório “Mulheres em tempos de pandemia”, do Think Olga, o trabalho invisível deve ser considerado como um dos principais eixos que subsidiam a economia mundial. Se algumas funções não fossem cumpridas sem nenhuma remuneração, como o cuidado dos filhos, da casa, dos idosos e pessoas doentes, por exemplo, o mundo capitalista no qual vivemos não seria viável.
As disparidades de gênero na sociedade já são consideradas um fenômeno sociológico, e às mulheres ficam as obrigações de distrair as crianças, cuidar da rotina da família, da administração da casa, da limpeza, das compras, da alimentação, além de cumprir suas jornadas de trabalho remunerado.
“Ocupada com o ‘invisível’, ela fica privada do tempo e dos recursos necessários para conquistar sua autonomia financeira, permanecendo presa em um ciclo de exploração”, conforme o relatório. Dados da Pnad Contínua de 2015 ainda mostravam que, de cada 10 casas, quatro eram chefiadas por mulheres, e 41% delas eram donas do próprio negócio.
Por exemplo, apenas nos seis primeiros meses de vida de uma criança, a mulher gasta cerca de 650 horas só com a amamentação, o que implica num trabalho que a impede de se ocupar de outras coisas. As mulheres gastam, em média, 61 horas por semana com os trabalhos não remunerados, um esforço que equivale a 11% do Produto Interno Bruto (PIB).
O cuidado não pago das mulheres equivale a cerca de R$ 60 trilhões, valor que equivaleria ao PIB da quinta economia do mundo. “O impacto na vida das mulheres é imenso: amplia as desigualdades de renda, precariza as condições de vida em todos os âmbitos e ainda acarreta estresse, estafa, depressão, entre outros problemas para a saúde.”
Quando se fala em divisão do trabalho, não é apenas a rede de apoio que precisa auxiliar, os homens também precisam se aprofundar mais nessa área, lutando para que as disparidades de gênero diminuam.