Recentemente, a influência do tipo de exercício físico sobre a libido tem sido um tópico de grande interesse, impulsionado por vídeos que se tornaram virais nas redes sociais.
As discussões se concentram em entender se atividades como crossfit, corrida ou musculação podem afetar o desejo sexual, positiva ou negativamente.
Por que a musculação pode ser mais vantajosa para a libido?
De acordo com especialistas, a musculação pode ter um efeito particularmente positivo sobre a libido, desde que praticada com uma intensidade adequada.
Fabiene Bernardes Castro Vale, presidente da Comissão Nacional Especializada de Sexologia da Febrasgo, destaca que tanto a musculação quanto a corrida beneficiam a função sexual, porém de maneiras diferentes.
A musculação se destaca por sua capacidade de influenciar diretamente os níveis de testosterona e, consequentemente, a libido.
Em contrapartida, a corrida, apesar de ser benéfica, não afeta tão diretamente a testosterona como a musculação. Contudo, a corrida melhora a circulação sanguínea, reduz o estresse e promove a liberação de endorfinas, o que também pode potencializar o desejo sexual.
Os efeitos da alta intensidade no desejo sexual
Exercícios de alta intensidade, como o crossfit, têm um papel controverso em relação à libido. Se praticados excessivamente, podem levar a uma redução no desejo sexual.
Isso também se aplica à corrida, principalmente quando envolve treinos rigorosos de atletas profissionais. O segredo para manter uma libido saudável parece residir no equilíbrio entre a intensidade do treino, o descanso adequado e uma nutrição correta.
Para entender completamente como cada prática esportiva influencia a libido, é essencial considerar as particularidades de cada atividade e como elas interagem com o corpo de cada indivíduo. A seguir, exploramos mais a fundo esses impactos e como otimizar seu treinamento para benefício da saúde sexual.
Musculação: uma poderosa aliada da libido
A prática de musculação é amplamente reconhecida por seus benefícios à saúde sexual, atuando diretamente na regulação hormonal, no aprimoramento do condicionamento físico e no aumento da autoestima, todos fatores cruciais para uma libido robusta.
Os exercícios de força são eficazes na diminuição dos níveis de cortisol, conhecido como o hormônio do estresse, que pode suprimir a produção de hormônios sexuais quando em excesso.
A musculação tem um impacto direto nos hormônios sexuais, aumentando os níveis de testosterona e diminuindo o cortisol, o que pode potencializar a libido afirma Vale
Influência da testosterona na saúde sexual
O aumento da testosterona após a prática de musculação é um fenômeno bem documentado. O processo inicia no hipotálamo, que libera um hormônio estimulante que ativa a glândula pituitária, que por sua vez estimula os testículos a produzirem mais testosterona. Este hormônio não só é vital para a libido, mas também para o ganho de energia e massa muscular.
Após o exercício, os níveis de testosterona aumentam temporariamente, o que favorece o crescimento muscular e pode melhorar a libido. Esse processo é mais pronunciado nos homens, já que eles produzem mais testosterona do que as mulheres explica o urologista do hospital Vila Nova Star, Daniel Cernach Ayres
Além disso, a musculação fortalece o músculo do assoalho pélvico, o que é crucial para uma boa ereção e pode ajudar a prevenir a ejaculação precoce nos homens, conforme aponta a endocrinologista Deborah Beranger, com especialização em endocrinologia e metabologia.
Impactos na autoimagem e satisfação sexual
A musculação também exerce um efeito significativo sobre a imagem corporal e a autoestima, aspectos que são particularmente importantes para as mulheres. Aquelas que praticam musculação regularmente reportam um aumento na satisfação sexual, impulsionado pela melhoria na percepção de sua própria imagem e um aumento na força física.
Um estudo intitulado “Physical Activity and Female Sexual Dysfunction” de 2021 revela que mulheres que mantêm uma rotina regular de musculação experimentam um aumento no desejo sexual e uma menor incidência de disfunções sexuais, atribuído principalmente à elevação da autoestima e aos benefícios da testosterona.
Essas informações ressaltam a importância da musculação não apenas como uma atividade para melhoria da forma física, mas como um elemento integral para o bem-estar sexual e emocional, reforçando seu valor em um estilo de vida saudável e equilibrado.
Corrida: efeitos positivos e limitações na libido
A prática regular da corrida e de outros exercícios aeróbicos é conhecida por beneficiar a libido, através da melhoria da circulação sanguínea, da redução de estresse e do aumento na produção de endorfinas.
Contudo, é importante observar que a intensidade excessiva nos treinos pode impactar negativamente o desejo sexual.
Como a corrida influencia positivamente a saúde sexual
Exercícios aeróbicos, como a corrida, melhoram significativamente a circulação sanguínea, o que contribui para um melhor suprimento de sangue aos órgãos genitais e, por consequência, uma maior facilidade de excitação sexual.
Ademais, a corrida estimula a liberação de neurotransmissores como as endorfinas e a dopamina, que são substâncias associadas ao bem-estar. Esses neurotransmissores ajudam a reduzir o estresse e a ansiedade, elementos que podem afetar adversamente o desejo sexual.
Exercícios aeróbicos melhoram a circulação, aumentando o suprimento de sangue para os órgãos genitais, o que favorece a excitação sexual. E a prática da corrida libera neurotransmissores, como endorfinas e dopamina, que promovem bem-estar, reduzindo o estresse e a ansiedade, fatores que podem interferir no desejo sexual explica Vale
Outro benefício da corrida é a melhoria na sensibilidade à insulina, o que auxilia na manutenção de um equilíbrio hormonal adequado, incluindo os hormônios sexuais.
Limites da corrida na libido
Atenção! Apesar dos benefícios, um estudo realizado em 2020 com mais de mil corredores apontou que os homens que treinam intensivamente para maratonas apresentam uma libido cerca de 20% inferior em comparação a outros corredores. Esta diminuição do desejo sexual pode estar associada à Síndrome de
Deficiência Energética Relativa no Esporte (RED-S), uma condição que afeta negativamente os níveis hormonais e a função reprodutiva.
Crossfit e treinamento intenso
Práticas de treinamento de alta intensidade, como o Crossfit, são conhecidas por seus potenciais efeitos adversos sobre a libido quando realizadas em excesso. De acordo com o estudo “Physical Activity and Female Sexual Dysfunction” de 2021, esta relação é significativa.
Impactos negativos dos exercícios intensos na libido
Os exercícios extenuantes podem provocar um aumento nos níveis de cortisol, o que, por sua vez, interfere na produção de testosterona e outros hormônios sexuais. Este aumento de cortisol pode resultar em fadiga e uma redução notável no desejo sexual.
Um dos principais problemas ocorre quando o corpo não recebe tempo suficiente para recuperar-se. Este cenário pode comprometer o sistema endócrino, levando a um estado de fadiga crônica e desequilíbrios hormonais.
Uma ingestão calórica inadequada durante períodos de treinamento intenso também pode prejudicar significativamente a produção hormonal.
Além disso, o overtraining pode induzir um estado inflamatório no corpo, impactando negativamente a produção hormonal, aumentando o estresse físico e causando um desequilíbrio energético.
Tais condições são propícias para a diminuição da libido e a piora da função erétil em homens. Essa alta intensidade é comum em esportes como corrida, ciclismo e triatlo.
Para mitigar esses efeitos negativos, é crucial manter um equilíbrio entre treino, descanso e alimentação adequada.
Definindo limites no treinamento para manter a saúde sexual
Identificar o limite adequado de exercício é essencial para preservar níveis saudáveis de testosterona e manter uma vida sexual satisfatória. Vale enfatiza a importância de um equilíbrio entre treinamento e recuperação.
Alguns parâmetros podem ajudar a monitorar esse equilíbrio:
- Frequência cardíaca: estudos indicam que a zona ideal de treinamento para maximizar os benefícios hormonais e melhorar a libido está entre 50-70% da frequência cardíaca máxima. Manter-se acima desse limite por períodos prolongados pode causar fadiga e elevar os níveis de cortisol.
- Tempo de atividade: segundo a pesquisa “A Systematic Review on the Relationship Between Physical Activity and Sexual Function in Adults” de 2023, até seis horas de exercício por semana são benéficas. Exceder essa quantidade pode ter efeitos contrários.
- Sinais corporais: sintomas como fadiga extrema, insônia, queda na libido e dificuldade de recuperação muscular são indicativos de que o treinamento pode estar além do limite ideal.
Um estudo relevante publicado na “Medicine and Science in Sports and Exercise” examinou 1.077 homens que praticam esportes de resistência e constatou que aqueles com libido normal ou alta geralmente treinavam entre quatro e dez horas semanais.
No entanto, no grupo com baixa libido, 65% excediam dez horas de treinamento semanal, frequentemente com exercícios de alta intensidade.
É importante notar que a libido é influenciada por uma complexidade de fatores, que vão além dos hormonais, incluindo aspectos psicológicos e emocionais.
