Na última terça-feira (7), a Meta revelou que irá encerrar seu programa de verificação digital nos Estados Unidos. Em seu lugar, será implementado um sistema de notas de contexto, ou da comunidade, similar ao que é usado pela rede social X.
Mas o que são essas notas de contexto? São uma ferramenta de moderação coletiva de conteúdos que aparecem abaixo de algumas publicações potencialmente enganosas.
O Twitter começou a usar essa ferramenta em 2021, e em 2022 ela foi amplamente adotada pela rede social, que foi comprada e renomeada como X pelo bilionário Elon Musk em 2022.
As notas são propostas e escritas por usuários voluntários, que precisam se inscrever previamente. Elas não são editadas pelas equipes do X.
Outros usuários avaliam se a nota é útil ou não, com base em critérios como a pertinência das fontes e a clareza das informações explicou Lionel Kaplan, presidente da agência de criação de conteúdos em redes sociais Dicenda
“Se houver avaliações positivas suficientes, a nota aparecerá abaixo do post, fornecendo informações adicionais”, detalhou.
As avaliações “levam em conta não apenas o número de colaboradores que classificaram uma publicação como útil ou inútil, mas também se as pessoas que a avaliaram parecem pertencer a diferentes esferas”, explica o X em seu site oficial. O princípio é semelhante ao da Wikipédia.
Nós nos baseamos nos usuários mais ativos de uma rede social ou plataforma para aumentar a qualidade dos conteúdos acrescentou Kaplan
A Meta, que anunciou que seu programa de notas será similar ao da X, considera o sistema “menos parcial” do que o fact-checking. Mas quais são os riscos?
O Facebook possui um programa de fact-checking em mais de 26 idiomas que remunera mais de 80 organizações de mídia em todo o mundo, incluindo a AFP, para usar suas verificações de fatos em suas plataformas, como WhatsApp e Instagram.
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Com as avaliações, “o problema é que a verificação depende da multidão”, aponta Christine Balagué, professora do Instituto Mines-Télécom e fundadora da rede de pesquisa “Good in Tech”, que trabalha com desinformação.
A multidão pode dizer o certo, mas também pode haver pessoas mal-intencionadas que estão ali para disseminar informações erradas alerta
“Essa decisão afetará os usuários que buscam informações precisas e confiáveis”, comentou no X Angie Drobnic Holan, diretora americana da Rede Internacional de Fact-Checking (IFCN, na sigla em inglês).
Os checadores nunca demonstraram parcialidade em seu trabalho, e essas críticas vêm de pessoas que acreditam que podem exagerar os fatos e mentir sem serem refutadas ou contraditadas acrescentou, destacando o clima de pressão política nos Estados Unidos às vésperas da posse do presidente eleito Donald Trump
Bill Adair, cofundador da IFCN, afirmou que é “preocupante ver Mark Zuckerberg ecoar os ataques políticos aos checadores, já que ele sabe que os participantes de seu programa assinaram uma carta de princípios que exige transparência e imparcialidade”.
Trump, que foi especialmente crítico em relação à Meta e ao seu CEO nos últimos anos, acusando a empresa de viés progressista, declarou que “provavelmente” influenciou a decisão.
As avaliações são eficazes contra a desinformação? Pesquisadores mostraram que as notas de contexto “reduzem a disseminação de desinformação em cerca de 20%” no X, admitiu Balagué.
E, embora esse sistema “não seja 100% confiável”, Kaplan acredita que as notas de contexto são eficazes. Ele considera que permitem processar um maior volume de informações do que o fact-checking, que é “complicado de aplicar”. Também destaca o funcionamento “democrático”, que permite “ter e confrontar diferentes pontos de vista”.
O X, no entanto, é frequentemente acusado de permitir a difusão de informações falsas desde que Musk reduziu drasticamente as equipes de moderação. Mas, segundo o especialista, isso se deve principalmente ao fato de que “o X incentiva o radicalismo”, tornando os conteúdos falsos mais visíveis do que em outras plataformas.
A Meta informou que os usuários poderão começar a se inscrever a partir de segunda-feira para escrever notas assim que o programa for lançado, mas não forneceu detalhes sobre os critérios de participação.
A empresa também anunciou que dará aos usuários mais controle sobre a quantidade de conteúdo político que desejam ver no Facebook, Instagram ou Threads. Resta saber se esse sistema aumentará a disseminação de informações falsas.
De acordo com Kaplan, a Meta não tem necessariamente interesse em destacar conteúdos controversos, pois isso poderia desagradar os anunciantes.