A pequena Letícia, de apenas 6 anos, tinha como hábito preferido ouvir o pai contar histórias antes que ela dormisse. Na noite da última quarta-feira, ela pediu a mãe para ficar acordada até tarde esperando que o pai chegasse do trabalho para lhe contar a historinha do dia na cama, mas ele não chegou. Confundido com um ladrão, ele foii morto a tiros pelo vizinho Aurélio Alves Bezerra, que é Sargento da Marinha, quando chegava no condomínio onde ambos moravam, em São Gonçalo.
Casada com Durval há 13 anos, a viúva, Luziane Teófilo, ainda não contou para a filha sobre o ocorrido. De acordo com ela, a menina era muito apegada com o pai e foi deixada aos cuidados da avó, pois a mãe ainda não sabe o que fazer.
— Ele era o melhor pai possível, sempre agarrado com ela. O que ela mais gostava era quando ele sentava e contava historinhas para ela dormir. Mesmo depois de uma jornada de trabalho desgastante, ele fazia questão de ficar com ela. Ontem quando ele saiu para trabalhar ela disse que queria ouvir e esperou ele voltar para contar historinha. Ela esperando o pai ligar. Eu sinceramente ainda não sei o que fazer. Não tive coragem de contar para ela, não sei como vou fazer. Por enquanto ela está aos cuidados da minha mãe – contou Luziane.
Além da família, Durval tinha também outra grande paixão: o Botafogo. Torcedor do time da estrela solitária, ele queria passar a paixão para a filha.
— Ele era botafoguense, amava muito o time, totalmente apaixonado e passava isso para nossa filha. Também gostava de praticar esportes, frequentava uma academia aqui no Columbandê – disse a viúva.
Entre os vizinhos, a vítima também era muito querida. Mesmo trabalhando em um mercado em Niterói, ele era bastante prestativo e costumava estar sempre de olhos em problemas estruturais do condomínio e ajudava com reparos, quando preciso.
— Era uma pessoa muito amável e querida por todos. Todo mundo gostava dele aqui. Ele ajudava muito a todos e sempre sem cobrar nada em troca. Até para o zelador ele sempre oferecia ajuda nos serviços mais pesados – concluiu.
Polícia prende sargento da Marinha
A Polícia Civil prendeu em flagrante o sargento da Marinha Aurélio Alves Bezerra, suspeito de matar com um tiro o vizinho Durval Teófilo Filho, de 38 anos, na noite de quarta-feira, no bairro do Columbandê, em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio. A vítima e o autor do disparo eram vizinhos de condomínio, e o militar disse ter efetuado o disparo ao confundir Durval com um ladrão, quando chegava em casa de uma viagem.
Em depoimento a policiais militares que atenderam a ocorrência, o sargento afirmou que retornava de viagem à noite e que, ao chegar em casa, na Rua Capitão Juvenal Figueiredo, avistou um homem se aproximando do seu carro muito rapidamente. Aurélio não o reconheceu, pegou a sua arma e disparou três vezes contra a vítima. Ao sair do carro, ele viu que o homem não estava armado e teria informado ser morador do condomínio.
Em seguida, o militar teria socorrido Durval e o levado até o Hospital Estadual Alberto Torres, também em São Gonçalo, onde a vítima foi atendida, mas não resistiu aos ferimentos, morrendo ainda durante a noite. Aurélio justificou a policiais miloitares que foram ao local que atirara, pois “a localidade é perigosa e costuma ter muitos assaltos”. Ele foi detido pelos agentes e levado primeiro para a 74ª DP, em Alcântara, e depois para a Delegacia de Homicídios de Niterói e São Gonçalo, onde está preso.
Adjunto da Delegacia de Homicídios de Niterói e São Gonçalo, o delegado Mario Lambret informou que deve dar procedimento à ocorrência na tarde desta quinta-feira e encaminhar o caso para a Justiça.
— Esse caso foi analisado pelo delegado de plantão. Pelo que vi houve a prisão em flagrante do autor do disparo e agora vai seguir os trâmites da Justiça, e será direto com a vara que ficará responsável pelo caso — explicou ele.
A Polícia Civil também vai investigar uma versão preliminar dada por vizinhos de que Durval estaria tentando abrir um portão eletrônico de entrada do condomínio e que estava emperrado. Ele estaria abaixado tentando forçar o portão e, nesse momento, teria sido baleado por Aurélio.
Em nota, a Polícia Militar informou que foi acionada e enviou uma guarnição com dois agentes para o Hospital estadual Alberto Torres para verificar o óbito de um homem não identificado que deu entrada naquela unidade com perfurações provocadas por projétil de arma de fogo.