O homem que fez o sequestro de um ônibus ontem na Rodoviária Novo Rio, localizada no centro do Rio de Janeiro, afirmou que os policiais “atrapalharam” em sua viagem com destino a Minas Gerais.
O que aconteceu
Ele deu o depoimento ao deixar a delegacia. Quando questionado sobre o que o motivou a realizar o sequestro, Paulo Sérgio de Lima afirmou:
Eu estava indo viajar e me atrapalharam, os policiais. [Inaudível] Eu estava indo viajar, estragaram a minha viagem. Tá tranquilo, tá suave.
A declaração foi transmitida pelo SBT Rio e Balanço Geral (Record TV).
O preso adquiriu uma passagem para Juiz de Fora (MG). Poucas horas depois, ele fez reféns 16 pessoas em um ônibus e baleou outras duas.
Uma reportagem do portal UOL revelou que Lima chegou ao guichê 38 por volta das 13h50 e fez o pagamento em dinheiro. O valor da passagem para a cidade mineira chega a R$ 121.
Lima foi transferido ontem (13) para o presídio de Benfica e a audiência de custódia está agendada para hoje (14). Ele deve enfrentar acusações de tentativa de homicídio qualificado, sequestro e cárcere privado, além de porte ilegal de arma de fogo de uso restrito.
Sequestrador trocou tiros com os policiais
Lima entrou em confronto com policiais e fez 16 reféns por aproximadamente três horas — depois, se entregou. Durante seu depoimento, ele afirmou que confundiu um passageiro com um policial.
Quando os passageiros estavam entrando no ônibus, ele [suspeito] achou que seriam policiais e fez menção de entregar a arma contou o delegado Mário Andrade, da 4ª DP.
“O passageiro se assustou, saiu correndo, e ele [Lima] efetuou os disparos.”
O sequestrador buscava escapar do Rio após “desavenças com facção criminosa”, de acordo com a Polícia Militar. A reportagem tentou contato com sua defesa, porém não recebeu resposta até a publicação deste texto.
Os 16 reféns estão em bom estado e foram dar seus depoimentos na delegacia na noite passada. Entre eles, havia crianças e idosos.
O Grupo Guanabara, da empresa Sampaio, proprietária do ônibus, afirmou que disponibilizou psicólogo e advogado para dar suporte às vítimas. No Instagram, também relatou que enviou um ônibus para doação de sangue em nome do passageiro ferido que ainda está hospitalizado.
Tornozeleira eletrônica descarregada
Lima já tinha cinco registros na polícia, de acordo com o delegado Andrade. Dois no Rio, por assalto a ônibus e roubo, e três em Minas Gerais, por dano qualificado, roubo e homicídio.
A PM relata que ele foi detido em 2019 e liberado do sistema penitenciário em 2022. Ele permitiu que a tornozeleira eletrônica descarregasse em outubro de 2022 e não a reativou.
Além desse episódio, a Seap (Secretaria de Administração Penitenciária) já havia notificado outras quatro infrações cometidas pelo sequestrador à Justiça.
Em seis ocasiões, a Seap e o Ministério Público solicitaram o retorno de Lima à prisão devido ao não cumprimento do uso da tornozeleira eletrônica. O TJRJ (Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro) não se manifestou sobre o pedido.
Foi instaurada uma Sindicância Administrativa para apurar especificamente as circunstâncias processuais e cartorárias relacionadas aos fatos noticiados, assim como as correspondentes responsabilidades Nota do TJRJ
Rodoviária foi evacuada
Vídeos divulgados nas redes sociais mostram a corrida e o desespero das pessoas que tentavam se proteger dos tiros.
Duas pessoas foram baleadas — uma está em estado grave. Bruno Lima da Costa Soares, 34 anos, estudante e funcionário concursado da Petrobras, sofreu perfurações no coração e pulmão e teve o baço removido durante a cirurgia. A outra vítima foi atingida de raspão e está bem.
A rodoviária confirmou que ocorreu um evento dentro de um ônibus na plataforma central. “Imediatamente acionamos as autoridades policiais e bombeiros”, afirma o comunicado divulgado pela concessionária ontem.
O terminal foi esvaziado e as operações interrompidas durante as negociações. O local foi reaberto por volta das 19h30. A instrução era para remarcar as viagens.