Na próxima terça-feira, 13 de setembro, um santuário dedicado a Lúcifer será inaugurado em Gravataí, Rio Grande do Sul. O local, que tem gerado bastante discussão nas redes sociais, contará com uma impressionante estátua de Lúcifer com mais de 5 metros de altura, feita de cimento.
A Nova Ordem de Lúcifer na Terra, uma ordem religiosa registrada oficialmente, é a responsável pela construção do santuário. Este localiza-se em um sítio de cinco hectares na região metropolitana de Porto Alegre, que conta com cerca de 280 mil habitantes.
Atualmente, aproximadamente 100 membros ativos da ordem já realizam rituais ao ar livre no sítio, cuja localização exata é mantida em segredo por razões de segurança.
Origens e motivações da Nova Ordem
Fundada há aproximadamente dois anos, a Nova Ordem de Lúcifer na Terra originou-se dentro da Corrente 72, um grupo independente de quimbanda enfocado na evolução pessoal e espiritual através do trabalho com Exus e demônios.
A ordem foi estabelecida devido ao desejo de seus membros de explorar mais a fundo os demônios e questionar a narrativa imposta pelo cristianismo.
Reações e defesa do projeto
O projeto do santuário tem sido alvo de críticas e elogios nas redes sociais. Enquanto alguns aplaudem a iniciativa por fomentar a diversidade religiosa, outros a criticam, associando-a ao culto demoníaco.
Nas redes sociais, os fundadores da Nova Ordem de Lúcifer na Terra apoiam firmemente o projeto.
Os líderes religiosos da Ordem, Mestre Lukas de Bará da Rua e Tata Hélio De Astaroth, declararam que o santuário foi financiado inteiramente pela ordem e que foram necessárias medidas de segurança adicionais devido a ameaças recebidas por meio de comentários e mensagens direcionadas a eles.
Tudo o que está colocado ali é dinheiro próprio, é uma propriedade privada que a nossa ordem adquiriu justamente para o nosso culto. A prefeitura de Gravataí não ajudou com nenhum centavo. Então quem está dizendo que teve dinheiro público, eu gostaria que dissesse e provasse. Vai chegar uma hora que a gente vai começar a se defender e o judiciário nos favorece nisso declarou Mestre Lukas De Bará da Rua.
A prefeitura de Gravataí, por sua vez, emitiu uma nota afirmando desconhecer o projeto até então e negou qualquer apoio financeiro ao mesmo.
Diante da grande repercussão nas redes sociais e questionamentos à prefeitura, a administração municipal informa que não tinha conhecimento até o momento sobre a criação de um santuário dedicado a Lúcifer na cidade. Não há qualquer vínculo ou recurso público da prefeitura no empreendimento Prefeitura de Gravataí.
A vida de Lucas Martins e a dualidade do santuário
Mestre Lukas de Bará da Rua é o nome pelo qual o líder Lucas Martins é conhecido dentro da Ordem. Ele esclarece que é prática comum em sua tradição religiosa que os líderes adotem nomes simbólicos que refletem a entidade espiritual com a qual interagem.
“Mestre” indica seu título, “Lukas” é seu nome pessoal, e “Bará da Rua” representa a entidade espiritual que ele segue.
Além de suas atividades religiosas, em Gravataí, Lucas gerencia uma produtora de eventos, possui duas casas noturnas e está engajado no desenvolvimento de um novo espaço para concertos nacionais na cidade.
A gente leva uma vida normal. Eu tenho os meus clubes, tenho a minha família, viajo, vou à praia, vou a shopping. Mas dentro disso tudo, a gente tem tempo também para dar atenção para os nossos adeptos, para os nossos filhos de religião disse Lucas Martins.
Identidade histórica de Lúcifer
A escultura que será revelada na próxima terça-feira simboliza “a dualidade entre o físico e o espiritual“, de acordo com os líderes da ordem.
Eles argumentam que Lúcifer foi injustamente vilipendiado pela Igreja Católica, e o santuário tem o objetivo de promover uma visão de Lúcifer como “portadora da luz e do autoconhecimento“.
Nas redes sociais, os fundadores detalham que Lúcifer simboliza “a luz e o equilíbrio das energias universais“, e que a ordem busca promover a evolução espiritual e propagar práticas que “desafiam as convenções religiosas tradicionais“.
Apesar dessas intenções, a inauguração da estátua tem causado controvérsia. Tata Hélio revelou que os fundadores da Nova Ordem têm recebido até ameaças por causa do projeto.
Os luciferianos nos apontaram dizendo que a gente está roubando o deus deles, como se esses espíritos tivessem dono. Na verdade, a gente tinha que comemorar juntos. A gente está aqui para abraçar as pessoas que acreditam em Lúcifer. Não para separar. Quanto às pessoas que disseram que iam lá quebrar tudo, eu sou sincero. A gente não tem medo de vocês Tata Hélio De Astaroth.
Em entrevista ao portal UOL, Tata Hélio revelou que a ordem está ativa em quatro estados, escolhendo Gravataí como local devido à “presença energética” significativa de seus membros.
Só nos pronunciamos publicamente nesse caso, pois será a cidade que guardará a sede oficial disse.
Sobre as questões de segurança, o fundador interpretou as ameaças como um reflexo do desconhecimento das pessoas, “que pensam que as coisas só podem ser do jeito que elas querem“. Ele está confiante de que, em breve, todos entenderão melhor a filosofia da organização.
Vi pessoas falando sobre sacrifícios de crianças, algo que nunca vimos em nosso meio. Na verdade, Gravataí deveria nos agradecer, pois a Nova Era chegou mais cedo.
Quem é Lúcifer
Na mitologia romana, Lúcifer, também conhecido como “Luciferus”, era associado à estrela da manhã, Vênus, e considerado um deus da luz que prenunciava a chegada do amanhecer.
Na cultura grega, a figura de Lúcifer não estava relacionada a entidades malévolas ou ao conceito de anjos decaídos; ele era meramente um emblema de iluminação e claridade.
De acordo com a tradição cristã, Lúcifer é comumente visto como um anjo caído que se insurgiu contra Deus. O termo “Lúcifer” deriva do latim e significa “portador da luz”. Conforme relatos bíblicos, Lúcifer era um anjo de elevada estatura, agraciado com beleza e poder excepcionais.
No livro de Isaías, Lúcifer é retratado como aquele que aspirou alcançar a magnitude de Deus, mas foi expulso do céu e destituído à Terra depois de liderar uma revolta. Essa queda é representada como a perda de sua posição nobre e sua transição de “portador da luz” para um símbolo de escuridão e malevolência.
Anton LaVey, fundador da Igreja de Satanás e autor da Bíblia Satânica, classifica Lúcifer como um dos quatro príncipes coroados do inferno, especificamente o do Oriente. Nos círculos satanistas, ele é invocado como “senhor do ar”, “portador da luz” e “estrela da manhã”, simbolizando o intelectualismo e a iluminação.