O Natal de amigos e familiares de Maida Berenice Flores da Silva foi marcado pela ausência e tristeza. Aos 58 anos, ela morreu às vésperas da celebração natalina, após consumir um pedaço de bolo durante um encontro familiar em Torres, no Litoral Norte do Rio Grande do Sul.
Além de Maida, outros cinco parentes precisaram de atendimento hospitalar na segunda-feira (23), depois de provarem o mesmo alimento.
A Polícia Civil investiga o caso e suspeita que a causa tenha sido uma intoxicação alimentar. Além de Maida, outras duas vítimas sucumbiram às complicações de saúde decorrentes do episódio. Atualmente, dois membros da família permanecem hospitalizados no Hospital Nossa Senhora dos Navegantes, em Torres, enquanto um já teve alta após o tratamento adequado.
Despedidas emocionadas
Maida e sua sobrinha, Tatiana dos Anjos, de 43 anos, foram homenageadas em cerimônias fúnebres realizadas na quarta-feira (25) no Cemitério São Vicente, localizado em Canoas, na região metropolitana de Porto Alegre. Uma amiga próxima compartilhou seu desabafo:
Hoje é um dia muito difícil. Foram 14 anos de cumplicidade, de amizade. Ela foi minha colega e minha grande amiga. Ela era uma pessoa maravilhosa, sem igual, um ser de luz, apaixonada por seu esposo, e ele por ela. Maida era daquelas pessoas que por onde passa, emite uma energia tão boa que é difícil sair de perto dela. A minha dor é que a gente trabalha tanto, corre tanto, que infelizmente marcamos por diversas vezes um encontro de uma tarde juntas e não ocorreu. Minha despedida dela foi ali hoje (no velório) revelou a amiga, que preferiu manter anonimato.
Uma professora lembrada com carinho
Maida, professora aposentada, dedicou mais de uma década de sua carreira ao ensino em escolas de Canoas. Um ex-colega da Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Rio de Janeiro, no bairro Mathias Velho, onde ela trabalhou entre 2015 e 2016, descreveu-a como uma “profissional única, dedicada, responsável, humana e simpática“.
Ele acrescenta: “Lembro que ela comentava que sempre tinha um carro pronto para partir todos finais de semana para a praia, sua grande paixão. Fiquei realmente chocado com a notícia da perda deste ser humano maravilhoso e único. Ela era humana e super simpática. Tinha o sorriso largo e verdadeiro, que contagiava a todos“, conta Andrigo Dos Santos Luz, 41 anos, que atualmente é vice-diretor da escola.
Maida atuava como supervisora escolar quando Andrigo começou a trabalhar na instituição. Durante o período em que trabalharam juntos, ele relembra como ela frequentemente falava sobre o companheirismo do esposo e destaca que nunca ouviu relatos de desavenças familiares por parte dela.
Outra colega recorda que Maida exerceu a função de supervisora na EMEF Professora Odette Yolanda Oliveira Freitas por pelo menos três anos.
Era uma pessoa doce, incentivadora, sempre pronta a auxiliar e orientar os outros. Como presente para o Dia dos Professores, em um ano, ela organizou um CD. Perguntou a cada professor a música que mais gostava. Na homenagem que a escola sempre fazia, ela entregou a cada professor um CD com a coletânea de músicas do grupo. Foi uma linda homenagem e todos nós amamos relatou Nivea Moreira, 49 anos.
O Sindicato dos Profissionais em Educação Municipal de Canoas (Sinprocan) também lamentou a morte de Maida em uma publicação em sua página no Facebook.
O caso
Uma reunião familiar em Torres, no Litoral Norte do Rio Grande do Sul, teve um desfecho trágico. Após consumirem um bolo, seis membros da mesma família passaram mal e buscaram atendimento médico na segunda-feira (23). Duas mulheres morreram entre a madrugada e a manhã de terça-feira.
Nesta quarta-feira (25), o Hospital Nossa Senhora dos Navegantes confirmou uma terceira morte. De acordo com o boletim médico, a causa do óbito foi choque decorrente de intoxicação alimentar.
A terceira vítima é Neuza Denize Silva dos Anjos, de 65 anos, que estava internada em estado grave. Neuza era mãe de Tatiana Denize Silva dos Anjos, 43 anos, e irmã de Maida Berenice Flores da Silva, 58 anos, que também morreram após consumirem a sobremesa.
Investigação
A polícia está investigando o caso e considera a hipótese de intoxicação alimentar causada pela ingestão do bolo, que teria sido preparado com ingredientes possivelmente vencidos.
Além disso, a possibilidade de envenenamento não foi descartada. Durante a vistoria na residência da boleira, os agentes encontraram apenas um inseticida, mas o caso levantou suspeitas devido à morte do marido da boleira em setembro, também atribuída a intoxicação alimentar.
Os investigadores trabalham para esclarecer se houve crime no ocorrido, determinando se o episódio foi intencional e se há indícios de envenenamento.
Perícia
Para esclarecer o caso, a Polícia Civil enviou os corpos das vítimas ao Instituto-Geral de Perícias (IGP), que ficará responsável por determinar a causa das mortes.
Os alimentos consumidos pela família foram recolhidos e serão submetidos a análises. Além disso, vestígios encontrados na casa da mulher que preparou a sobremesa, localizada em Arroio do Sal, e materiais biológicos das vítimas, como sangue, urina e conteúdo estomacal, também serão examinados.
De acordo com Lara Regina Soccol Gris, chefe da divisão de Química Forense do IGP, os primeiros resultados dos exames periciais devem ser concluídos na próxima semana, ajudando a identificar o que levou às mortes.
Os testes seguirão um protocolo específico para casos complexos que envolvem mortes, com o objetivo de identificar substâncias que possam ter desencadeado o quadro de saúde nas vítimas.