Entre a noite de segunda-feira (17) e a madrugada de terça-feira (18), o operador de empilhadeira Maicol Antonio Sales dos Santos, 23 anos, foi ouvido por investigadores da Delegacia de Cajamar, na Grande São Paulo, onde teria admitido ter cometido o assassinato da jovem Vitória Regina de Sousa, 17 anos.
Controvérsias sobre o interrogatório
Essa informação foi extraída de um documento obtido na quarta-feira (19). No entanto, a defesa de Maicol não reconhece esse documento como um interrogatório legítimo, uma vez que os advogados não estavam presentes durante a sua elaboração. Ademais, o suspeito alegou ter sido coagido pelos policiais a confessar o crime.
Áudio revelador
Em um áudio gravado pelos advogados na quarta-feira (19), momentos antes da transferência de Maicol para o Centro de Detenção Provisória de Guarulhos (SP), ele compartilhou sua versão dos acontecimentos.
“Se vocês puxarem pela câmera ali fora, eles [policiais] foram lá me chamar e eu falei que não ia falar com eles. Aí o policial falou: ‘Já que você não vai cooperar comigo, então você vai ficar no banheiro’. Eles me colocaram no banheiro, muito sujo, podre“, relatou Maicol.
Quando foi por volta de 22h, eles me chamaram na sala lá em cima e o delegado falou que ia me f… de qualquer jeito. Ele falou que ia colocar minha mãe na cena do crime, que ia colocar minha esposa, que ia prender minha mãe, prender minha mulher. Se eu não cooperasse ele falou que ia colocar minha família toda. Aí eu inventei uma história e falei que fui eu concluiu.
No áudio, Maicol demonstrou emoção e recebeu consolo dos advogados, que asseguraram que sua família estava bem e seria protegida pelas autoridades.
Resposta das autoridades
Conforme informações do delegado Luiz Carlos do Carmo, diretor do Demacro (Departamento de Polícia Judiciária da Macro São Paulo), a confissão ocorreu na noite desta segunda (17) na presença de um advogado que não era o representante legal de Maicol.
O delegado também informou que os advogados do suspeito estiveram na unidade, mas se retiraram antes da confissão porque desejavam que ele permanecesse em silêncio.
“Eles [advogados] podem abandonar a causa, mas não podem forçar a não confissão do acusado“, declarou em uma coletiva de imprensa nesta terça-feira o delegado Fábio Lopes Cenachi, que lidera a investigação.
Carmo mencionou que Maicol “era obcecado pela vítima“. Durante a coletiva, ele se referiu ao suspeito como um “stalker“.
A defesa do acusado também emitiu um comunicado no último domingo, criticando a atitude do delegado Cenachi ao solicitar uma avaliação psiquiátrica de Maicol.
A defesa de Maicol Antônio Sales dos Santos questiona, veementemente, a conduta adotada pelo delegado responsável pelo caso, que, sem ordem judicial, agendou a realização de uma perícia psiquiátrica. Tal medida desrespeita expressamente o artigo 149, §1º, do Código de Processo Penal, tornando sua realização ilegal e arbitrária afirma o comunicado.
“Além disso, causa extrema preocupação o momento em que essa perícia foi determinada: apenas um dia após a suposta confissão de Maicol, que, por si só, já está cercada de graves irregularidades. A ausência dos advogados constituídos no ato, a realização da oitiva durante o período de repouso noturno e a coação psicológica sofrida e relatada pelo investigado são elementos que não podem ser ignorados“, prossegue a defesa.
Circunstâncias do Crime
Vitória teria sido assassinada dentro do veículo de Maicol, conforme informações da polícia. Manchas de sangue foram encontradas no porta-malas de um Toyota Corolla que pertencia ao suspeito. Ele também teria admitido ter colocado a adolescente no compartimento, segundo os investigadores.
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Detalhes da Investigação
Uma faca com lâmina de 3 centímetros foi utilizada no crime, conforme apurado pela investigação. O objeto ainda não foi localizado.
De acordo com a polícia, Maicol teria agido sozinho. Os investigadores relataram que o suspeito declarou estar apaixonado por Vitória. Imagens dela foram descobertas em seu celular, que também continha fotos de outras jovens semelhantes.
Além disso, segundo a Polícia Civil, a análise dos dados do celular de Maicol revelou que ele estava monitorando Vitória desde o ano anterior.
Durante a coletiva, Carmo informou que as investigações revelaram a compra de um capuz tipo balaclava por Maicol, que teria sido utilizado durante o crime. Outro indicativo foi a presença de uma pá e uma enxada próximas ao corpo da adolescente, pertencentes ao padrasto do suspeito.
O padrasto informou que as ferramentas desapareceram há aproximadamente 15 dias e, antes do crime, suspeitava que um funcionário as havia roubado. A investigação coletou material genético na pá e na enxada, e agora aguarda os resultados para confirmar se foram utilizadas no ato criminoso.
Relação com a vítima
Conforme a apuração, o suspeito tinha conhecimento de que Vitória estava na área onde ela costumava pegar o ônibus devido a uma postagem feita pela jovem nas redes sociais.
Depois de se encontrar com ela, o suspeito teria oferecido uma carona. Vitória aceitou e, dentro do veículo, foi atacada com facadas. Os investigadores indicam que o carro foi meticulosamente limpo para eliminar quaisquer vestígios do crime.
Suspeitas sobre Maicol
Outras evidências levantam suspeitas sobre Maicol. Sua esposa negou que ele tivesse passado a noite com ela no dia em que Vitória foi sequestrada. A localização do celular do suspeito também sugere que ele estava nas proximidades da vítima.
Os agentes relataram que gritos e comportamentos estranhos foram ouvidos na residência do suspeito. Testemunhas teriam recebido ameaças dele durante a investigação policial, conforme declarou Carmo na semana anterior.
Causa da morte
A adolescente morreu em decorrência de facadas no tórax, pescoço e rosto, segundo o laudo do IML (Instituto Médico Legal) acessado pela Folha. Não foram encontrados indícios de abuso sexual. O documento permanece sob sigilo.
Relembre o caso
Vitória foi assassinada em Cajamar, na Grande São Paulo. Ela desapareceu no dia 26 de fevereiro após sair do trabalho em um shopping local.
Seu corpo foi descoberto no último dia 5. Ela estava despida —com apenas um sutiã na altura do pescoço—, com o cabelo raspado e degolada.
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