Recentemente, uma equipe de pesquisadores sul-africanos na Antártida solicitou apoio ao seu país após relatar comportamentos agressivos de um dos integrantes. Este não é um caso isolado, pois já houve registros de agressões no continente gelado envolvendo trabalhadores.
Uma mecânica de navios dos Estados Unidos contou que precisou dormir com um martelo escondido no sutiã para se proteger de um assediador. O caso ocorreu em 2022, durante uma missão a 1.500 km do Polo Sul, em uma área remota da Antártida.
Identificada como Liz Monahon, a mulher relatou que um encanador neozelandês a perseguiu e a ameaçou de morte. Segundo Liz, tudo começou em um bar da estação americana de McMurdo, quando o homem fez comentários debochados para amigos sobre quem levaria Liz e uma amiga para a cama, conforme sua declaração à agência AP.
Liz conheceu Zak Buckingham, o encanador, um ano antes durante a quarentena da covid-19, antes da missão. No entanto, os problemas começaram na Antártida, quando ela expressou seu desejo de não conversar mais com ele e ele começou a exibir comportamentos agressivos, incluindo ameaças e perseguições.
Ninguém além de mim estava lá para me salvar (…) Se ele chegasse perto de mim, eu começaria a atacá-lo. Decidi que queria sobreviver afirmou Liz Monahon.
Liz tentou relatar os comportamentos ao departamento de recursos humanos da estação. Contudo, segundo ela à AP, a empresa optou por minimizar a situação para evitar complicações diplomáticas entre profissionais de diferentes nacionalidades, temendo que a denúncia causasse problemas para a estação.
Diante da falta de ação para resolver o problema, Liz decidiu agir por conta própria: passou a dormir com um martelo no sutiã. Após essa decisão ser descoberta, colegas começaram a apoiá-la. Ela afirmou que só conseguiu evitar agressões graças à ajuda desses colegas e que não teve apoio da gestão da empresa terceirizada da NSF, responsável pelas contratações. Relatos indicam que o órgão teria ignorado sua situação.
Após enfrentar diversos conflitos e sentir-se insegura, Liz decidiu deixar a estação em um percurso arriscado. Ela se uniu a outros pesquisadores em uma jornada de oito dias pelas finas camadas de gelo da primavera rumo a um posto avançado dos Estados Unidos.
Poucos dias após a denúncia, o homem finalmente foi enviado de volta à Nova Zelândia. Conforme reportado pela AP, a Antártida enfrenta há anos questões relacionadas a “pessoas machucando outras pessoas” e ao consumo de álcool, o que se torna um grande desafio para a administração do órgão americano.
O homem, no entanto, nunca foi submetido a um julgamento criminal por esse ocorrido. Em outra situação envolvendo uma ex-esposa, ele foi condenado a realizar serviços comunitários por desrespeitar uma ordem de não contato.
Este caso não foi isolado. O Programa Ártico dos EUA publicou um relatório em 2022 que indicava que 59% das mulheres relataram ter sido vítimas de violência ou assédio enquanto estavam em condições de isolamento.
Desdobramentos recentes
No mês passado, trabalhadores da África do Sul relataram problemas semelhantes. Um grupo de pesquisadores afirmou que o comportamento de um dos integrantes da equipe “escalou a um ponto que é profundamente perturbador“.
Esse indivíduo teria agredido e assediado sexualmente colegas na base Sanae IV. Além disso, segundo uma denúncia enviada por e-mail pelo grupo ao Ministério do Meio Ambiente sul-africano e publicada pelo jornal Sunday Times da África do Sul, havia preocupações entre as pessoas sobre serem as próximas vítimas do homem.
As autoridades afirmaram que resolveram a situação remotamente. Em comunicado, o ministério informou que o agressor passou por várias avaliações e que as alegações estavam sendo apuradas. A pasta também mencionou que ele pediu desculpas e expressou remorso após os incidentes.
O ministro declarou que não trará a equipe de volta. “Não houve incidentes que exigissem que qualquer um dos nove membros da equipe fosse trazido de volta para a Cidade do Cabo“, afirmou Dion George, ministro do meio ambiente da África do Sul, em uma declaração ao The New York Times. “Tudo na base está tranquilo e sob controle”, completou.
As condições dificultam o acesso à base de pesquisa. O local é isolado, cercado por gelo glacial, a mais de 4.000 km da África do Sul. A próxima visita de um navio de suprimentos está programada para dezembro, em uma viagem que leva cerca de dez dias, partindo da Cidade do Cabo.