A mulher que acusou o advogado João Neto de agressão relatou em seu depoimento que foi empurrada, caiu e se feriu enquanto ele tentava expulsá-la do apartamento onde viviam. O caso ocorreu na segunda-feira, em Maceió.
O portal UOL obteve acesso aos depoimentos prestados à polícia no mesmo dia do ocorrido. A tentativa de expulsão foi confirmada pelo próprio João Neto, que também divulgou imagens internas do apartamento nas redes sociais. Uma testemunha presenciou a situação.
João está detido preventivamente desde a noite anterior, sob suspeita de lesão corporal, com base na Lei Maria da Penha. Ele nega ter agredido a mulher, de 25 anos, alegando que o ferimento foi causado por uma queda acidental.
Além disso, a mulher relatou à polícia que já havia sido vítima de outras violências por parte do ex-companheiro, mas nunca havia feito uma denúncia formal. Ela manteve uma união estável com João por dois anos.
Depoimentos da vítima e de João
A vítima declarou que estava descansando no quarto quando João entrou e reclamou, entre outras coisas, que ela não estava fazendo nada. Ele informou aos prestadores de serviço presentes na casa que eles eram testemunhas. Em seguida, puxou-a da cama, momento em que ela pediu para não ser tocada.
Esse trecho do depoimento foi confirmado por um prestador de serviço que estava presente. Ele afirmou ter ouvido João dizer que queria expulsá-la do apartamento.
A vítima ainda relatou que, após ser retirada da cama à força, foi empurrada por João enquanto ele tentava forçá-la a deixar o imóvel. Ela se segurou para evitar ser expulsa.
Ela mencionou estar descalça e, em determinado momento, recebeu um empurrão. Com isso, caiu e bateu com força o queixo no chão. João também caiu.
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Em seu depoimento, João afirmou ter dito à mulher que “não teria condições de continuar com a relação” e pediu que ela deixasse o apartamento.
Ele ainda mencionou que, mesmo após solicitar sua saída, notou que ela “ainda se encontrava no quarto, deitada na cama com ar condicionado ligado“, e alegou tê-la segurado “pela barriga para levá-la para fora“. No entanto, como o piso era liso, ela escorregou e ambos caíram.
O deputado estadual e delegado Leonan Pinheiro (União Brasil) publicou parte das gravações da câmera do apartamento.
A queda causou um corte profundo no queixo da mulher, que precisou ser encaminhada a um hospital em Maceió, onde recebeu três pontos. Câmeras de segurança do prédio registraram a vítima saindo ensanguentada do apartamento. João foi filmado usando um pano para conter o sangramento.
Agressão confirmada
De acordo com a delegada Ana Luiza Nogueira, que coordena as Delegacias Especializadas de Atendimento às Mulheres, os vídeos demonstram claramente que houve agressão. “Com certeza a violência doméstica está evidenciada. Todas as imagens corroboram o depoimento da vítima“, declarou ao UOL.
Outras agressões
A mulher também relatou que essa não foi a primeira vez que sofreu violência. À polícia, mencionou um incidente ocorrido em outubro de 2024, quando ele a empurrou e ela acabou batendo a cabeça na cabeceira da cama. Além disso, ele a segurou pelo pescoço.
A vítima ainda afirmou que já foi ameaçada com arma de fogo. Também disse à polícia ter sofrido enforcamento, chutes e empurrões em outras ocasiões.
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Após registrar a queixa, a polícia solicitou uma medida protetiva para que João mantenha uma distância mínima de 500 metros da vítima e proíbe qualquer forma de contato.
Na tarde de ontem, o juiz Rodolfo Osório Gatto converteu a prisão em flagrante para preventiva, citando os vídeos que mostraram os ferimentos. Considerando as ameaças com arma de fogo, o juiz decidiu suspender a posse e o porte de armas de João.
Nota da defesa
Após a repercussão do caso, a OAB optou por se pronunciar sobre a situação por meio de uma nota oficial. Confira a íntegra:
“A Ordem dos Advogados do Brasil em Alagoas (OAB/AL), diante dos fatos ocorridos na noite dessa segunda-feira (14), que resultou na prisão de um advogado em Maceió, informa que já adotou as medidas necessárias no âmbito do Tribunal de Ética da OAB/AL e oficiou a Seccional da Bahia para tomar as providências cautelares que a situação requer, considerando que o acusado possui inscrição originária na OAB/BA.
Ressalta-se que qualquer conduta que possa configurar inidoneidade moral ou crime infamante será devidamente apurada, com observância estrita do devido processo legal, da ampla defesa e do contraditório, consagrados na Constituição da República e no Estatuto da Advocacia.
Por fim, a OAB/AL reafirma seu compromisso com a legalidade, a ética e a justiça, reiterando que, quando for o caso, não tolerará quaisquer desvios de conduta, sobretudo aqueles que tratem de violência contra as mulheres e que atentem contra os preceitos que regem o exercício da advocacia.”