No Hospital Civil de Asarwa, em Ahmedabad, onde familiares aflitos buscavam informações sobre os passageiros do voo AI171 da Air India, um sobrevivente da tragédia estava deitado em uma maca na enfermaria geral.
Vishwash Kumar Ramesh, um britânico de 40 anos, contou ao jornal Hindustan Times que conseguiu escapar do desastre aéreo que resultou na morte de mais de 290 pessoas, conforme informado pela polícia. As autoridades de saúde do estado de Gujarat confirmaram que existe pelo menos um sobrevivente.
Trinta segundos depois da decolagem, ouvi um barulho alto e, em seguida, o avião caiu. Tudo aconteceu muito rápido relatou Vishwash, que sofreu ferimentos no peito, nos olhos e nos pés.
O voo AI171, operado por um Boeing 787-8 Dreamliner, perdeu altitude logo após deixar a pista, resultando em sua queda nas proximidades do terminal.
O impacto danificou pelo menos três prédios, segundo uma testemunha ocular. Após o choque, a aeronave foi consumida pelas chamas. Este é o primeiro acidente fatal envolvendo este modelo desde que entrou em operação em 2011.

Dos 230 passageiros a bordo, 169 eram indianos, 53 britânicos, sete portugueses e um canadense. Vishwash havia viajado à Índia para visitar familiares e estava retornando ao Reino Unido com seu irmão, Ajay Kumar Ramesh, de 45 anos. Ainda segurando o cartão de embarque, ele descreveu os momentos seguintes à queda:
Quando acordei, havia corpos por todos os lados. Fiquei em pânico. Me levantei e saí correndo. Havia destroços do avião espalhados. Alguém me segurou, me colocou em uma ambulância e me trouxe ao hospital disse.
Residente de Londres há duas décadas, Vishwash revelou que sua esposa e filho também vivem na capital britânica. Ele ainda não conseguiu localizar seu irmão, que estava sentado em outra fileira na aeronave.
“Visitamos Diu juntos. Ele viajava comigo, e agora não consigo encontrá-lo. Por favor, me ajudem a achá-lo“, pediu emocionado.
Conforme reportado pelo jornal local, em outras áreas do hospital, reinava um clima de aflição e uma intensa busca por informações. Parentes e amigos dos passageiros caminhavam pelos corredores em busca de novidades.
Reações internacionais
Em Londres, onde os passageiros deveriam desembarcar, o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, declarou que as imagens do acidente eram “devastadoras” e que seus pensamentos estavam voltados para os passageiros e suas famílias. O rei Charles III expressou que ele e a rainha Camilla estavam “profundamente chocados“.
“Nossas orações especiais e a mais profunda solidariedade estão com as famílias e amigos de todos os afetados por este incidente trágico e terrível em tantas nações, enquanto aguardam notícias de seus entes queridos“, afirmou o monarca em um comunicado. “Gostaria de prestar uma homenagem especial aos esforços heroicos dos serviços de emergência e a todos aqueles que prestam ajuda e apoio neste momento tão doloroso e traumático.”
Avião moderno e confiável
O modelo envolvido na tragédia é o Boeing 787-8 Dreamliner, uma das aeronaves mais avançadas da frota da Air India. Com capacidade para acomodar até 250 passageiros em uma configuração de duas classes, o 787-8 é famoso por sua eficiência energética, conforto superior e alcance para voos intercontinentais. Este modelo entrou em operação comercial em 2011 e faz parte de uma família que inclui os modelos 787-9 e 787-10.
Entre suas características distintas, o Dreamliner possui janelas maiores com escurecimento eletrônico, um sistema de pressurização que proporciona maior conforto aos passageiros, menor consumo de combustível e uma fuselagem feita de materiais compostos, como fibra de carbono. Atualmente, a Air India opera uma frota considerável de Dreamliners, principalmente em suas rotas internacionais de longa distância.
Aeronaves desse modelo já enfrentaram problemas operacionais com passageiros a bordo em ocasiões passadas, resultando em ferimentos, mas até agora não havia registro de mortes. No entanto, a Administração Federal de Aviação (FAA) dos Estados Unidos iniciou uma investigação em abril de 2024, após um engenheiro da empresa americana relatar que partes da fuselagem do 787 Dreamliner estavam mal fixadas e poderiam se romper durante o voo após uso. A empresa afirmou que está coletando informações sobre o acidente na Índia.
A Boeing enfrenta um longo processo judicial relacionado a dois acidentes com o avião 737 Max em 2018 e 2019, que resultaram na morte de 346 pessoas. No mês passado, a empresa chegou a um acordo com o Departamento de Justiça dos EUA que a isentaria de responsabilidades criminais pelos acidentes, mas essa negociação ainda precisa da aprovação de um juiz e foi contestada por familiares das vítimas.