‘Parte de mim foi embora’, diz irmã de guarda morto a pauladas por adolescente em Ipojuca
“Com certeza, uma parte de mim foi embora. Eu preciso mudar tudo, mudar de vida, trazer minha mãe para mais perto de mim, preciso me tornar uma nova pessoa para conseguir comemorar as datas de aniversário sem a presença dele”.
Essas são as palavras emocionadas da enfermeira Bárbara Cristina de Medeiros Alves, irmã do guarda de trânsito Carlos Henrique de Medeiros Alves, de 45 anos. Ele perdeu a vida após ser brutalmente espancado a pauladas por um adolescente em um posto de gasolina em Ipojuca, no Litoral Sul de Pernambuco. Três meses antes do trágico evento, o jovem já havia se envolvido em uma briga com o servidor público durante uma abordagem.
Carlos Henrique dedicou 14 anos de sua vida à Guarda Municipal de Ipojuca. Na quarta-feira (2), enquanto estava de folga, ele foi atacado por um adolescente de 17 anos, cujo nome não foi divulgado em respeito ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
Após o ataque, Carlos foi levado para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da cidade e, posteriormente, transferido para o Hospital da Restauração, no Centro do Recife. Infelizmente, ele não resistiu e faleceu às 22h30 da quinta-feira (3).
De acordo com sua irmã, essa foi a primeira vez que o servidor público enfrentou algum tipo de violência no trabalho. Mesmo depois da agressão inicial pelo adolescente três meses antes, Carlos não relatou qualquer ameaça.
“Sempre foi assim: ‘se errou, a gente segura e chama a polícia’. Não teve nenhum comentário. Normalmente, ele trabalhava em blitze, reposicionamento de locais de festas, fechava e abria vias, mas nunca ouvi nada a mais que isso”, relatou a enfermeira.
Carlos Henrique de Medeiros Alves, guarda de trânsito de Ipojuca que foi espancado por adolescente em posto de combustíveis — Foto: Reprodução/WhatsApp
Bárbara também compartilhou que tinha uma relação muito próxima com o irmão, que sempre fazia questão de participar ativamente da vida familiar.
“Ele não esquecia nenhuma data de aniversário, a gente tinha que comemorar, mesmo se caísse no meio da semana. Ele não me deixava em nada, em nenhum momento. […] Eu fui [ao hospital], visitei, orei, estimulei, eu disse ‘volte, sem você eu não sou nada’. Eu cheguei a dizer ‘eu dou tudo o que eu tenho para te ver aqui, porque se você não estiver, metade de mim já foi’”, afirmou.
Colegas
Vídeo mostra guarda brigando com adolescente em abordagem três meses antes de ser morto
Carlos Henrique é lembrado por seus colegas como um homem íntegro, honesto e extremamente dedicado ao seu trabalho. Segundo apuração do g1, na primeira agressão sofrida pelo adolescente, Carlos havia abordado o jovem ao flagrá-lo pilotando sem capacete uma moto que seria roubada.
A abordagem foi capturada por uma câmera de segurança. Conforme explicou Anselmo Ferreira, presidente do Sindicato dos Guardas Municipais (Sindguardas) de Ipojuca, o jovem estacionou a moto irregularmente em frente à Autarquia Municipal de Trânsito e Transportes da cidade.
“O agente, por obrigação, ao perceber o ato irregular, foi até o menor. Ao abordá-lo e solicitar as documentações de praxe, o adolescente ficou exaltado e, após a atitude do agente ao informar que ele seria autuado e teria o veículo apreendido, ele se exaltou a ponto de agredir o agente, que tentou resguardar sua segurança e conter o menor”, declarou Anselmo Ferreira.
O caso
Guarda de trânsito é agredido a pauladas em posto de combustíveis na BR-101
Carlos Henrique de Medeiros Alves estava fora do serviço quando sofreu a agressão em um posto de gasolina às margens da BR-101 na quarta-feira (2). As imagens das câmeras de segurança mostram o momento em que o jovem de 17 anos se aproxima do guarda, que estava sentado atrás de um carro, e inicia as agressões com um pedaço de pau.
No mesmo dia, o adolescente foi apreendido pela Polícia Civil, que está investigando as motivações para o espancamento. Após a apreensão, ele foi encaminhado ao Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), no bairro do Cordeiro, na Zona Oeste do Recife.
Conforme informações da prefeitura de Ipojuca, Carlos Henrique foi inicialmente atendido na UPA da cidade na Sala Vermelha e depois transferido para o Hospital da Restauração no Recife. Ele faleceu às 22h30 da quinta-feira (3).