Redes sociais: onde foi que a gente se perdeu?
A primeira coisa que faço ao acordar pela manhã é pegar o meu celular e começar a ler as mensagens que as pessoas me enviaram nas redes sociais, as postagens que me marcaram, os “likes” que deram em publicações e fotos minhas. Caso eu não tenha nenhum tipo de notificação, simplesmente começo a “folhear” o feed de notícias, onde as pessoas publicam, publicam e publicam.
Acredito que, de uns tempos para cá, grande parte do tempo do meu dia está voltado às redes sociais. Isso, em todos os momentos do dia, no decorrer do trabalho, no decorrer das aulas na faculdade, ou até mesmo em pequenas pausas de conversas com pessoas em um espaço físico. Tudo me leva ao mundo virtual. Uma simples pausa em algo que estou fazendo ou a fazer, já me conecto novamente à internet, como se ela fosse uma espécie de companhia mais prática e melhor acolhedora.
Em contrapartida, as redes sociais me trazem uma sensação de vazio e insuficiência em tudo que tenho e faço com a minha vida. Chega a ser paradoxal estar tão próximo e íntimo daquilo que, de certa forma, me adoece como ser humano.
Partindo deste ponto de vista, comecei a me enxergar nas outras pessoas, e quando tive uma conversa comigo mesmo, a seguinte pergunta:
Por que estamos tão dentro do mundo virtual e tão distantes do mundo real?
Enxergo o ser humano, a cada dia que passa, menos comunicativo com as pessoas e mais inteirado com a internet. Entendo que, com a globalização, o avanço da tecnologia, ganhamos diversos recursos para aprimoramento e velocidade em alguns serviços que demoraríamos muito mais tempo se fôssemos resolver com papeladas e burocracia. Porém, o que me deixa inquieto não é o fato de termos avançado com as tecnologias (principalmente as virtuais), e sim o fato de que, com a criação das redes sociais, perdemos um pouco o tato que normalmente temos com as pessoas de verdade ao nosso lado.
Gostaria muito de conseguir achar uma descrição ou classificação para este fenômeno. Talvez, Zygmunt Bauman (sociólogo) nos ajude a entender um pouco mais sobre a sociedade pós-moderna, com sua teoria sobre os relacionamentos líquidos. Mas, acredito que, o fenômeno da internet (rede social) está “evoluindo” de forma tão rápida, que seria quase impossível tentar denominar o que acontece neste exato momento.
Até dias atrás, usávamos uma rede X para nos relacionar, hoje usamos Y, mas talvez amanhã começaremos a usar Z. A única constatação que consigo fazer agora (pelo simples gesto de observar) é que nossas relações estão cada dia mais desumanas.
Eu sei que cada caso é um caso, mas você se lembra qual foi a última vez que tomou um café na mesa com sua família e bateu um papo que durasse pelo menos 30 minutos? Ou qual foi a última vez que você foi a um bar ou restaurante e ficou sem olhar o celular uma única vez?
Pois bem, todos os lugares hoje em dia possuem rede Wifi. O mercado enxergou que as pessoas não vivem mais sem uma boa mensagem em seu “inbox”. Todos aderiram a este fenômeno social, que dificilmente não seja evidente onde quer que estejamos.
O grande problema que temos nas redes sociais (pelo menos o maior que enxergo), é justamente o vício de ficar antenado com a vida alheia, de forma alienada. Todos querem ser vistos! Todos têm algo a dizer. Todos nós queremos nos mostrar para o mundo, seja com uma foto ou com uma publicação. Mas veja bem, ninguém quer ser visto com maus olhos, pois isto não nos traz benefício algum quando se trata de redes sociais. Todos nós postamos fotos de viagens, festas, eventos importantes, e sempre sorrindo, na ânsia de mostrar que estamos contentes em estar onde estamos, seja lá qual for o lugar. O glamour que apresentamos em cada publicação se faz essencial e necessário para o suplicado “like”, aquele que se faz medidor de egos dentro desse sistema que nós mesmos criamos.
Hoje em dia é muito mais “legal” postar a foto de um prato de comida, do que experimentá-lo e ter a certeza de que aquela comida é realmente boa. É muito mais importante postar uma foto com seu cônjuge, do que de fato curtir o momento a dois. Este tipo de atitude acaba impactando todos que ali visualizam aquilo que foi postado, fazendo com que o outro se sinta inferiorizado por não estar desfrutando daquilo que o outro está (mesmo que não esteja). Isso gera um complexo de inferioridade no próximo, e isto acarreta que o sujeito faça uma publicação tão ou mais interessante que a primeira pessoa, criando assim virar um ciclo vicioso entre as interações na rede social.
Em outras palavras, nós não saímos das redes sociais justamente porque, com a mesma proporção que ela nos frustra, ela também eleva o nosso ego.
Mas a rede social é como um jogo de azar qualquer, pois por mais que possamos perder dinheiro com diversas apostas, as poucas vezes que ganhamos nos é suficiente para acreditarmos que vamos vencer outras vezes, alienando-nos dentro daquilo.
Talvez eu consiga, talvez não. Mas me proponho a tentar viver um pouco mais fora dessa caixa virtual, tentando enxergar que existe, sim, vida lá fora: a nossa vida real. Sei que é um exercício difícil de se fazer, justamente porque nadamos contra a corrente, mas para você que está lendo este texto e que passa por sensações parecidas nas redes sociais, por mais que o cenário seja diferente em algum ponto, faça o teste também. Mas a rede social é como um jogo de azar qualquer, pois por mais que possamos perder dinheiro com diversas apostas, as poucas vezes que ganhamos nos é suficiente para acreditarmos que vamos vencer outras vezes, alienando-nos dentro daquilo.
Talvez eu consiga, talvez não. Mas me proponho a tentar viver um pouco mais fora dessa caixa virtual, tentando enxergar que existe, sim, vida lá fora: a nossa vida real. Sei que é um exercício difícil de se fazer, justamente porque nadamos contra a corrente, mas para você que está lendo este texto e que passa por sensações parecidas nas redes sociais, por mais que o cenário seja diferente em algum ponto, faça o teste também.
Exercite este lado humano e depois conte-nos quais foram as experiências fora daquilo que acreditamos que nos conecta, porém, só nos afasta cada dia mais.
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