Marina se formou em História na Universidade de Tohoku, umas das mais importantes e proeminentes do país. A única negra da área de humanas.
A educação é um direito humano básico, e todos os indivíduos do mundo deveriam ter acesso a ela, sempre da melhor qualidade. O aprendizado não pode ficar restrito às camadas mais altas da sociedade, porque não é um bem que deveria ser negociável, as pessoas têm o direito de aprender a ler, a escrever, a fazer cálculos e o que mais desejarem, independentemente da sua classe social.
Um dos principais instrumentos de transformação de uma sociedade é a educação, por isso, protegê-la e garantir que todos possam acessá-la, principalmente os mais pobres, é obrigação do Estado e de órgãos responsáveis por garantir esse acesso. A jovem Marina Melo do Nascimento, de 29 anos, recentemente chamou a atenção nas redes sociais ao compartilhar em seu Twitter uma foto de sua formatura na faculdade.
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Marina rompe muitos paradigmas em apenas uma imagem. Única negra na área de humanas na Universidade de Tohoku, de origem humilde e brasileira, ela garante que todas as pessoas, de qualquer classe social, podem estudar fora do país.
A jovem se graduou em uma das melhores universidades do Japão, com uma tese sobre Kishida Toshiko (1863-1901), uma das primeiras feministas do país em uma época em que as leis eram ainda piores para as mulheres.
A brasileira morou em Itaquera, São Paulo, até os 15 anos, e se formou em Letras, na USP, enquanto morava no Brasil. Desde a infância, Marina tem apreço e paixão pela cultura japonesa, e começou a consumir tudo o que podia quando alguns animes japoneses passavam nos canais abertos da TV, nos anos 1990 e 2000.
Direitos autorais: reprodução Instagram/@mari_melo3.
Ela recebeu incentivo da mãe e, no ensino médio, trabalhou em uma papelaria, e os donos, que eram japoneses, também a estimularam a aprender a língua. Marina chegou a não ser aceita em um curso de japonês porque o professor disse que não tinha a ver com a “cultura dela”, em uma clara demonstração de racismo.
Marina explica, em reportagem do Universa UOL, que muitas pessoas negras e pobres sofrem muito preconceito, e deixam de se aprofundar na cultura pop, deixando de lado o prazer pelos games, o segmento nerd, os animes e até a vontade de aprender novos idiomas e tecnologias.
A recém-formada ainda explica que o racismo não pode impedir as pessoas de se jogarem no mundo, buscando as oportunidades que desejam. O racismo que Marina sofreu no Japão foi simbólico, já que a população do país costuma ser mais discreta.
Mas sempre perguntavam por que tinha as palmas das mãos mais claras do que o resto do corpo ou tocavam em seus cabelos, perguntando por que são desse jeito. Até a noite anterior à formatura, ela ainda tinha dúvidas se usaria ou não o cabelo natural, pois sentiu medo que os demais alunos comentassem e até rissem dela.
Direitos autorais: reprodução Instagram/@mari_melo3.
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Segundo Marina, tudo fica mais difícil para quem veio da periferia. Antes mesmo do intercâmbio no Japão, a rotina já era mais pesada, ela precisava acordar às 4h para chegar às 8h na USP.
Ir até o consulado era outra dificuldade que precisava enfrentar, e até hoje precisa se desdobrar para conseguir pagar a universidade e todos os boletos no país. Ela trabalha como professora para filhos de brasileiros, dá aula de inglês em um cursinho preparatório e é intérprete na biblioteca da faculdade.
Para a jovem, ter-se formado pode ajudar a inspirar pessoas oriundas das periferias, porque acredita que é necessário mudar a ideia de que pessoas pobres não podem estudar fora e que quem é da favela sempre vai ficar lá. Marina ainda deseja que ninguém se delimite, e acredita que o trabalho e o estudo são capazes de mudar as pessoas, e cada um tem o direito de fazer o que quiser.