Quero-te,
Como se o mundo findasse amanhã.
Desejo-te,
Como nunca pensei voltar a desejar, profundamente, alguém.
Será que tu me escutas?
Será que tu sentes a minha solidão,
Descrita na vacuidade das palavras?
Serão estas minhas emoções, caprichos?
Sou refém de escolhas, erróneas, tomadas no passado…
No momento… no momento que cessei a busca da tua existência.
Se ao menos eu pudesse voltar atrás…
Ficaria suspensa, literalmente suspensa,
Até ao nosso reencontro.
Quantas vidas já nós vivemos, amor?
Quantos trajectos já nós fizemos, na ânsia um do outro?
Quantos e quantos sofrimentos já nós suportámos?
São lágrimas, amor. Lágrimas derramadas no cálice da vida.
O pior cárcere é a tua ausência.
O tempo instiga tanta, tanta saudade. Demasiada.
Viver, assim, distanciada, isolada
Da minha própria alma
É algo quase insustentável…
Onde me perco na lógica,
Onde me disperso no pensamento,
Onde me escondo por detrás da verdade.
Uma verdade gritante, sufocante, dolorosa.
Profana? Não. Libertária.
Permaneço aninhada a teus braços
Inebriada, completamente inebriada,
Pelo teu Eu profundo, genuíno, autêntico.
Descortino o tempo,
Viajo por entre lembranças e memórias
Ora ilusórias ora satisfatórias.
Quantas e quantas vezes fazemos amor,
Quando todas as luzes se apagam?
Quantas e quantas vezes, entrego-me
(Uma entrega de corpo e alma)
Onde nos amamos no enlace de um abraço?
Prolongado. Ávido. Sôfrego. Dramático?
Não será a vida um drama?
Tocar-te, beijar-te, amar-te,
E por ti ser amada.
Cada recanto do meu corpo,
Cada recanto da minha alma
Rejubila com o teu toque…
Subtil. Maduro. Consciente.
Descubro o venerável que há em ti
E tu exaltas o sagrado que há em mim.
Juntos, somos um só
Um todo que sente as injustiças
Que pautam a vida.
É uma beleza tão triste, amor. Triste, triste…
Penetra o âmago do meu ser,
Consome o meu espírito,
Descobre a minha essência.
Perde-te. Em mim.
Procura-me na noite soturna,
Onde as estrelas se cruzam
E abrem caminho para verem passar
O cortejo do nosso amor.
Natércia Barros