Quantas coisas em comum cabem entre duas pessoas? Quantas dúvidas em comum cabem entre duas pessoas?
Será que alguém sabe realmente qual é o momento certo de parar, parar de investir, de querer, de pensar? Em qual estágio da loucura da pessoa que nos rouba a sanidade devemos colocar um basta?
Não estou falando de relações abusivas, não, pelo contrário, falo de relações que nos fazem flutuar. Acontece que quem já flutuou conhece a dor da queda e não quer isso de novo.
As pessoas deveriam vir com botões de liga e desliga, para controlarmos tudo isso. Bobagem, afinal, que graça teria?
Dá medo, sim, mas não tem nada mais gostoso que aquele frio na barriga, quando os olhares se cruzam, as bocas se tocam, sem falar na sensação de choque ao sentir o toque.
Mas tudo isso, em tempos de pessoas vazias, acaba nos amedrontando. Talvez o receio maior não seja de sentir, mas de deixar de sentir.
Claramente, não devemos comparar uma relação com outras passadas, mas como manter esse autocontrole intacto?
Às vezes, uma pessoa na qual você não apostava nenhuma ficha lhe tira do jogo. Mas também não somos capazes de perceber se estamos fazendo a aposta certa ou até mesmo jogando sozinhos. Quem nunca escondeu sentimento ou fingiu algum, que atire a primeira pedra.
Por vezes, mantemos a frieza aparente com uma louca vontade de nos declarar, já outras vezes, falamos coisas que não chegamos nem perto de sentir. Obviamente ou não, falar inverdades parece ser mais cruel, mas talvez manter-se em silêncio seja egoísmo escondido atrás de uma barreira de puro medo.
A verdade é que, em boa parte da vida, somos covardes, não queremos sentir, não queremos expressar e até mesmo não queremos que o outro sinta, e por quê? Para não sofrermos com a decepção, para não criarmos expectativa alguma, não tirarmos os pés do chão, mesmo sabendo quão mágico é voar.
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Hoje se fala muito em responsabilidade emocional, acho digno, justo, mas só aprendemos sobre isso vivendo, e a vida, senhores, é uma caixinha de surpresas. Eu até que gostaria que, nessa caixinha, viesse um manual, uma explicação de como dispensar alguém apaixonado ou como reagir a uma declaração com zero sinal de reciprocidade. Seria massa.
Mas não somos aptos a tantas regras. Imaginem vocês, com tanta diversidade no mundo, todos reagindo da mesma forma, não daria certo.
E se decididamente você falar tudo o que sente e não obtiver o retorno esperado, saberá lidar com isso? Ou se você se convencer de que ficar quieto e ver no que vai dar é o melhor caminho? Mas não se iludam, é um caminho de mão dupla: você pode se apegar ainda mais, mas também pode perder a pessoa por não falar o que quer.
Acredito que as dúvidas sentimentais sejam uma coisa mundial, aliás, melhor dizendo, eu espero que o sejam.
Pensem em quantas pessoas vocês perderam por falar demais e quantas perderam por não falar. Como saber se é momento, o lugar, a pessoa certa a ouvir tudo o que temos a contar?
Será que temos empatia suficiente para passar por isso, se temos sabedoria necessária para falar e para ouvir, será que temos estômago, voz, coração para tanta coisa?
Sou muito observadora, confesso que gosto de ser assim, mas sempre me questiono: quantos segredos você guarda no seu silêncio? Sabemos o significado dele, mas nunca saberemos o real motivo da sua existência. Ele aprisiona ou liberta? Ajuda ou atrapalha?
A dosagem dessa receita é mais complexa que aquele bolo de família, que todos seguem à risca as orientações, mas que ainda assim só o de algumas pessoas fica bom.
É difícil sentir, mais difícil ainda é não saber o que se sente. Quanto tempo pode levar para tal descoberta, se nos pronunciarmos? Qual a chance de a outra pessoa entender exatamente o que queremos falar? O poder da comunicação é fundamental.
Como explicar para alguém que a queremos para nós, mas ao mesmo tempo para o mundo? Como fazer para unir duas bagunças em um único ideal, mesmo que seja para ser bagunçados juntos? Como mostrar que não queremos iludir ninguém, mesmo sem saber se não somos nós os iludidos? Será seguro seguir o caminho mais fácil ou será mais fácil seguir o caminho seguro? As questões são intermináveis, o que demoramos para conseguir são as respostas.
De qual maneira devemos conquistá-las: com a leveza e mistério do silêncio ou com a exposição e o peso da palavra? O que é preciso ter ou ser para saber que encontramos alguém especial? Diálogos dos mais variáveis e improváveis temas? Cumplicidade? Sintonia? Energia? Sinergia? Vontade? Paixão?
Quantas coisas em comum cabem entre duas pessoas? Quantas dúvidas em comum cabem entre duas pessoas? Qual é o mais correto a se fazer: jogar-se ou recuar, regar, florescer e talvez colher bons frutos ou cortar pela raiz?
Às vezes, viver parece um jogo de quiz, sem respostas exatas ou torta na cara, em que prevalece só o velho e infindável questionamento.
Talvez o propósito seja esse: conviver com perguntas concretas e respostas incertas.
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