Perder alguém que amamos é complicado. Tem dias que a saudade já dói logo pela manhã.
Na verdade, em alguns destes dias ela nos acompanha na madrugada, invade nossos pensamentos e sonhos. Já acordamos sentindo na boca o seu gosto amargo.
Tem outros dias em que ela é mais leve, mais branda, mais suave. Quase não sentimos sua presença.
Porém, no fundo, bem lá no fundo, sabemos que está lá, podendo ser despertada a qualquer segundo.
É só tocar aquela música que nos lembra de alguém que se foi, sentirmos algum cheiro que nos remete ao passado.
Quem dera fosse possível guardarmos a saudade em uma redoma de vidro.
Abrir a caixinha só quando desejássemos. Deixando-a ali, na estante, guardadinha, quieta, entre nossos livros, discos e quinquilharias especiais.
Quem dera fosse possível, com uma boa canção de ninar, embalarmos a saudade até que ela adormecesse, num sono profundo, como aquele dos animais que hibernam em períodos de frio e alimento escasso.
Mas não é. Lidar com ela não é uma opção. É uma condição imposta pela vida.
E mesmo que saibamos que algumas datas são apenas dias que compõe o calendário, a saudade parece que comemora quando elas chegam. Instala-se, chega chegando. E nestes dias, deixamos de senti-la.
Passamos a ser por inteiros, saudade.
Como tão bem definiu Rubens Alves: “A saudade é o bolso onde a alma guarda aquilo que ela provou e aprovou. Aprovadas foram as experiências que deram alegria. O que valeu a pena está destinado à eternidade. A saudade é o rosto da eternidade refletido no rio do tempo”.