O sonho de sair do aluguel e comprar uma casa própria para ele e sua família está perto de ser concretizado pelo entregador de aplicativo Max Ângelo dos Santos, que foi agredido pela ex-atleta e professora de vôlei Sandra Mathias Correia de Sá.
A vaquinha virtual criada para ajudá-lo, que tinha como meta arrecadar R$ 190 mil, superou as expectativas e em menos de 48 horas já passou de R$ 210 mil de mais de 7.200 doadores.
A iniciativa tem o apoio do apresentador Luciano Huck e do ator João Vicente de Castro.
O que aconteceu com Max Ângelo?
A professora de vôlei Sandra Mathias Correia de Sá desferiu ao menos quatro chibatadas contra o entregador Max Angelo Alves dos Santos no último domingo.
Ao passar por entregadores, começou a atacar verbalmente o grupo, dizendo para eles “voltarem para a favela”.
Max registrou duas ocorrências contra Sandra Mathias, que foi banida de plataforma de delivery após o caso. Após a repercussão, Max ganhou do iFood uma motocicleta e uma bicicleta elétrica.
Uma vaquinha para entregador agredido por ex-atleta de vôlei comprar casa própria já arrecadou de R$ 100 mil em menos de um dia.
“Moro de aluguel e, ter uma casa própria, me ajudaria à juntar dinheiro e pagar cursos para as crianças. Quero que eles tenham acesso à educação que, infelizmente, eu e meus irmãos não tivemos. Espero que minha história faça algum efeito”, disse Max, em depoimento a O GLOBO.
Ouvido novamente neste domingo o entregador disse que não quer se precipitar e ainda não procurou nenhum imóvel.
Ele está esperando a vaquinha ser concluída. Enquanto isso tenta voltar a vida normal. Contou que sua história sensibilizou muita gente, não só no Rio. Max contou que soube por meio de amigos da Rocinha quer estão vivendo no exterior, que a repercussão de sua história ultrapassou as fronteiras do país.
“Minha história sensibilizou todo mundo e fico feliz, porque foi uma coisa que aconteceu da forma mais horrível. Não joguei o vídeo (da agressão) nas redes sociais buscando fama, mas justiça. Isso que está acontecendo é o reconhecimento de que nossa classe de entregadores vem sendo muito hostilizada. Fico triste que esse tipo de coisa (discriminação e racismo) ainda aconteça. Meu caso tem sensibilizado outras pessoas que foram vítimas de racismo. Quando elas me procuram eu digo que o problema não vai acabar, mas se denunciarmos, como fiz, poderá ajudar a reduzir.”
O entregador também ganhou uma motocicleta e uma bicicleta elétrica na sexta-feira. Nas redes sociais, circula um vídeo em que o entregador recebe as chaves da moto.
Além disso, o rapaz contou que também está recebendo diversas propostas de emprego. Nessa segunda-feira, disse que vai comparecer a uma entrevista de trabalho na Barra da Tijuca, mas preferiu não dar detalhes, para não atrapalhar.
“Quero continuar trabalhando, tendo uma vida normal.”
Até setembro do ano passado, Max trabalhava como porteiro em um prédio na Zona Sul. Paralelamente atuava como entregador de aplicativo. O que era para servir de reforço na renda acabou virando sua principal remuneração, com o desemprego.
As entregas rendem em média R$ 1 mil, por mês. Somente o aluguel (R$ 600 mensais) e pensão dos filhos (R$ 400), consomem integralmente esse valor.
Max tem usado seu perfil nas redes sociais para falar sobre o caso. Nas publicações, muitas mensagens de carinho e de apoio são enviadas por pessoas até mesmo de outros estados que souberam das agressões, após a grande repercussão na internet e em notícias. Já Sandra, tem recebido ofensas e xingamentos, não raro sendo chamada de racista.
Mulher foi banida
A ex-jogadora de vôlei Sandra Mathias Correia de Sá, que agrediu entregadores em São Conrado, no domingo passado (9), foi banida do iFood. Em nota enviada ao GLOBO, a empresa disse que “não tolera ofensas ou agressões a entregadores e entregadoras nem manifestações de preconceito, assédio, bullying e incitação à violência”.
A empresa explicou que “também serão punidos com a suspensão ou o cancelamento da conta os clientes que demonstrarem atitudes que envolvam homofobia, racismo, intolerância religiosa ou política, machismo, capacitismo — ou qualquer ação que tenha como objetivo ferir fisicamente ou emocionalmente os entregadores e entregadoras”.
Relembre o caso
Vídeos que circulam nas redes sociais mostraram o momento em que Sandra Mathias Correia de Sá, que estava passeando com o cachorro por uma rua de São Conrado, bairro da Zona Sul do Rio, passou por alguns entregadores que trabalham em uma loja do bairro.
Ela parou e começou a atacar verbalmente o grupo, dizendo para eles “voltarem para a favela”. Depois, ela tirou a coleira do cachorro e passa a chicotear as costas de um deles, Max Ângelo dos Santos.
Na terça-feira, Sandra foi intimada a comparecer à 15ª Delegacia de Polícia (Gávea) por duas novas acusações: injúria e lesão corporal. A confusão, no último domingo, teria começado por insatisfação da mulher ao ver entregadores andando de moto na calçada em que ela passeava com o cachorro.