Karla foi vista vendendo os salgados na Escola Militar de Engenharia por uma mulher que imediatamente fez questão de a humilhar nas redes sociais: “Você caiu tão baixo.”
Dizem que o “trabalho dignifica o homem”, que é a partir dos seus esforços que se consegue alcançar a grandeza.
Usando sua mão de obra, ele é capaz de canalizar suas emoções para algo maior, mostrando através dos seus atos a sua importância na sociedade.
Embora essa frase seja muito usada, não é exatamente o que vemos quando envolve algumas funções ou cargos considerados “menores” ou subalternos. Empregos como na área da limpeza, jardinagem ou a venda de produtos nas ruas não atraem os cidadãos, e muitos chegam a questionar os esforços desses trabalhadores.
Por ter um salário considerado menor ou por não precisar de diploma, são funções que as pessoas pertencentes às classes mais altas acabam menosprezando, muito embora eles utilizem com bastante frequência esses trabalhadores.
A jornalista boliviana Karla Beahed Villarroel Vaca costuma vender empanadas e sanduíches do lado de fora da Escola Militar de Engenharia (EMI), nos fins de semana.
Em entrevista à rádio El Deber, a jovem conta que foi a mãe quem começou com o negócio de empanadas, um salgado muito famoso em alguns países da América Latina e que lembra um pastel assado. Depois que a matriarca parou de fabricá-los, a irmã da jornalista decidiu tocar o negócio, já que precisava comprar um aparelho celular novo.

Enquanto cobria as inúmeras vacinações em sua cidade, Karla percebeu que existia uma grande quantidade de pessoas nas filas, e que, no período da manhã, quase ninguém aparecia para vender algum alimento.
A irmã perguntou se ela se incomodaria em vender as empanadas e os sanduíches na frente do EMI, assim cada uma venderia em um ponto da cidade e elas fariam ainda mais dinheiro no mesmo espaço de tempo. A preparação é longa, elas acordam às 4h da manhã para terminar de fazer os salgados e garantir a qualidade do produto.
Assim que chegaram à EMI, Karla colocou alguns lanches em uma bandeja e saiu oferecendo às pessoas que estavam ali. Sua irmã lhe perguntou se ela não tinha vergonha, pois muitas pessoas a reconheceriam por trabalhar em uma emissora de televisão.

Karla explica que nem de longe sentia vergonha, quando as pessoas a reconheciam, ela aproveitava a oportunidade para oferecer seus produtos, e é assim que tem conseguido vender tudo o que leva, inclusive bebidas de canela que produz.
Porém, uma conhecida entrou em contato com ela por mensagem, perguntando se o jornalismo não estava dando dinheiro, já que ela tinha chegado “tão baixo”. No Facebook, a jornalista publicou uma foto sua enquanto vendia as empanadas, e aproveitou para responder à mulher que a criticou duramente.

Karla escreveu que não sente vergonha alguma em vender os salgados, e que quem deve se envergonhar são as pessoas medíocres ou as que roubam para conseguir o que querem. A opção de compartilhar sua experiência nas redes foi para mostrar apoio a todos que passam pela mesma situação.
Ela revela que não se deu o trabalho de responder àquela mulher por mensagens porque “não valia a pena”. Ainda na publicação, a boliviana disse que está muito feliz sendo jornalista, mas que sempre que existir a possibilidade de fazer algo honesto que possa lhe render frutos, ela vai fazer, e sem sentir vergonha por isso.