Se você já chorou alguma vez sobre tirar uma nota 8,5 ou ficar em segundo lugar em uma competição, é bem provável que você seja um perfeccionista.
A tendência vigente em nossa cultura é recompensar os perfeccionistas por sua insistência em estabelecer padrões altos e pela busca incessante de alcançar esses padrões. E de fato, os perfeccionistas muitas vezes têm alto desempenho – mas o preço desse sucesso pode ser a infelicidade e insatisfação crônicas.
“Ao tentar alcançar as estrelas, os perfeccionistas podem acabar apenas correndo atrás do vento”, alertou o psicólogo David Burns em um ensaio na revista Psychology Today em 1980. “[Os perfeccionistas] são especialmente propensos a terem relacionamentos conturbados e transtornos de humor”.
O perfeccionismo nem precisa chegar no nível Cisne Negro para detonar a sua vida e saúde. Mesmo aqueles perfeccionistas casuais (que talvez nem se julguem perfeccionistas) podem experimentar os efeitos colaterais negativos da demanda pessoal por excelência.
Recorte do cartaz do filme “Cisne Negro”
Veja a seguir 14 sinais de que o perfeccionismo pode de fato estar te prejudicando – e maneiras simples de começar a se livrar dele.
1. Você sempre tentou agradar os outros.
Muitas vezes o perfeccionismo começa na infância. Desde cedo somos desafiados a tentar alcançar o céu – os pais e professores encorajam seus filhos a terem um alto desempenho escolar e recompensam o trabalho bem feito com aquelas estrelinhas douradas (ou em alguns casos, com uma punição se não alcançam o resultado esperado). Os perfeccionistas aprendem muito cedo a viver de acordo com as palavras “Eu realizo, logo eu sou” – e nada lhes dá maior satisfação do que impressionar os outros (ou a si mesmos) com o seu desempenho.
Infelizmente, viver sempre correndo atrás da nota 10 – seja na escola, no trabalho ou na vida – pode resultar em uma vida de constante frustração e auto-questionamento.
“A busca pela perfeição pode ser dolorosa porque muitas vezes ela é motivada tanto pelo desejo de ter um bom desempenho e também o medo das consequências de ter um desempenho insatisfatório”, diz a psicóloga Monica Ramirez Basco. “Essa é a faca de dois gumes do perfeccionismo”.
2. Você sabe que a busca pelo perfeccionismo está te prejudicando, mas você acha que isso é apenas o preço que precisa pagar para ter sucesso.
O protótipo do perfeccionista é alguém que fará de tudo (e muitas vezes fará coisas nada saudáveis) para evitar ser comum ou medíocre. É a pessoa que tem uma mentalidade “sem dor, sem conquistas” na busca pela grandeza. Apesar de nem sempre os perfeccionistas terem alto desempenho, o perfeccionismo está frequentemente ligado ao excesso de trabalho, aquelas pessoas denominadas de workaholics.
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“O perfeccionista reconhece que os seus padrões altíssimos causam estresse e são pouco razoáveis, mas ele acredtia que eles os motivam a atingir níveis de excelência e produtividade que de outra forma ele nunca atingiria”, escreve Burns.
3. Você é um grande procrastinador.
A grande ironia do perfeccionismo é que apesar da característica de grande motivação para alcançar o sucesso, ele pode ser justamente o que impede a pessoa de ter sucesso. O perfeccionismo está fortemente ligado ao medo de errar (o que geralmente não é um bom motivador) e a comportamentos de auto-sabotagem, como a procrastinação excessiva.
Pesquisas mostram que o perfeccionismo voltado para o outro (uma forma distorcida do perfeccionismo motivada pelo desejo da aprovação social), está ligado à tendência de postergar o cumprimento de tarefas. Para esse tipo de perfeccionista, a procrastinação parece ter origem principalmente no temor da desaprovação vinda de outras pessoas, segundo pesquisadores da York University. Por outro lado, os ‘perfeccionistas adaptativos’ estão menos propensos à procrastinação.
4. Você é altamente crítico de outras pessoas.
Julgar os outros é um mecanismo de defesa psicológica bastante comum: nós rejeitamos em outros o que não aceitamos em nós mesmos. E quando se trata de um perfeccionista, geralmente há muito que ser rejeitado. Os perfeccionistas são pessoas altamente criteriosas e poucos escapam do seu olhar crítico.
Ao pegar mais leve com outras pessoas, alguns perfeccionistas talvez consigam dar um desconto para si mesmos também.
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“Não olhe para as falhas de outros, nem para suas omissões ou comissões”, Buda sabiamente recomendou. “Ao invés disso, olhe para os seus próprios atos, para o que você fez ou deixou de fazer”.
5. Para você, é tudo ou nada.
Muitos perfeccionistas lutam com o pensamento preto-e-branco – um momento você está tendo sucesso e no próximo já é um derrotado, de acordo com sua mais recente realização ou falha – e vivem nos extremos. Se você tem tendência a ser perfeccionista, provavelmente só mergulha de cabeça em um novo projeto ou tarefa se achar que existe uma boa chance de ser bem-sucedido naquilo – e se houver o risco de dar errado, você provavelmente evitará se envolver naquilo.Pesquisas mostram que os perfeccionistas tem aversão ao risco, o que pode inibir a inovação e a criatividade.
Para os perfeccionistas, a vida é um jogo de tudo ou nada. Quando um perfeccionista se determina a fazer algo, a motivação e ambição pode levá-lo até as últimas consequências para alcançar aquele objetivo. Então, não é de se admirar que os perfeccionistas correm um grande risco de desenvolver distúrbios alimentares.
6. Você tem dificuldade em se abrir com outras pessoas.
A autora e pesquisadora Brene Brown considera que o perfeccionismo é com uma “armadura de 20 toneladas” que carregamos para nos defendermos – mas na maioria dos casos, o perfeccionismo simplesmente nos impede de ter uma verdadeira conexão com outras pessoas. Por causa do medo intenso de falhar ou de ser rejeitado, o perfeccionista muitas vezes sente dificuldade se expor ou mostrar vulnerabilidade, diz a psicóloga Shauna Springer.
“É muito difícil para um perfeccionista compartilhar a sua experiência interior com um parceiro”, escreve Springer na revista Psychology Today. “Os perfeccionistas muitas vezes sentem que precisam ser fortes e ter o controle de suas emoções o tempo inteiro. Um perfeccionista pode se esquivar de falar sobre seus medos, inseguranças, incapacidades e decepções com outras pessoas, mesmo com aquelas que são mais próximas”.
7. Você sabe que não adianta chorar sobre o leite derramado… mas você chora mesmo assim.
Seja por ter queimado o arroz ou por ter chegado cinco minutos atrasado para uma reunião, aqueles que buscam a perfeição tendem a ter uma obsessão com cada errinho que cometem. Isso pode resultar em vários pitis, crises existenciais e birras de gente grande. Quando o seu foco principal está no erro ou falha e o que lhe motiva é evitar isso a qualquer custo, até a menor pisada na bola é um atestado incontestável da sua enorme falha pessoal.
“Com a falta de uma fonte profunda e sólida de auto-estima, as falhas afetam os perfeccionistas de forma bastante séria e podem levar a crises prolongadas de depressão e afastamento para algumas pessoas”, escreve Springer.
8. Você leva tudo para o lado pessoal.
Já que eles consideram cada obstáculo e crítica como uma falha pessoal, os perfeccionistas tendem as ter menos resiliência do que outras pessoas. Ao invés de reagir aos entraves e erros, o perfeccionista sente-se derrotado, considerando cada falha como prova do medo mais profundo que continuamente o assola: “Eu não sou bom o suficiente”.
9. … E você fica na defensiva quando é criticado.
As vezes é possível identificar um perfeccionista numa conversa pela maneira em que eles se defendem por qualquer crítica, por menor que seja. A fim de preservar a auto-imagem frágil e a aparência perante os outros, o perfeccionista tenta controlar a situação defendendo-se de qualquer ameaça – mesmo quando não há necessidade de defesa.
10. Você nunca “atinge o seu objetivo” totalmente.
Já que a perfeição, obviamente, é algo impossível de se atingir, os perfeccionistas geralmente têm a sensação de que ainda não atingiram o seu objetivo totalmente, que falta alguma coisa. A cantora Christina Aguilera, perfeccionista assumida, disse em entrevista à revista InStyle em 2010 que ela se concentra em todas as coisas que ela ainda não realizou, o que a impulsiona a constantemente superar a si mesma.
“Eu sou extremamente perfeccionista e exigente comigo mesma” confessou Aguilera. “Eu gostaria de fazer mais trabalhos no cinema e eu sinto que ainda não alcancei o tipo de sucesso que eu desejo ter. Tenho certeza que haverá um ponto em que eu me sentirei em paz, sabendo que eu realizei muitas coisas”.
11. A imagem abaixo te deixa nervoso(a).
12. Você sente prazer em ver outra pessoa falhar, mesmo que não tenha nada a ver com você.
O sofrimento adora uma companhia e os perfeccionistas – que gastam muito tempo e energia pensando e se preocupando com as próprias falhas – podem sentir um certo alívio e mesmo prazer ao ver os desafios enfrentados por outros. Você pode até sentir-se melhor a respeito de si mesmo vendo a falha de outra pessoa, mas a longo prazo, isso só reforça o pensamento competitivo e crítico que alimenta o perfeccionismo.
13. Você secretamente nutre uma saudade dos seu tempo de escola.
Algumas pessoas detestavam a escola, mas você amava, pois lá havia uma medida do seu sucesso – você tinha tarefas, notas, feedback e um professor que estava lá para lhe dar um feedback positivo e um tapinha nas costas por um trabalho bem feito. Talvez você tenha sido o queridinho(a) do professor, ou talvez aquele com “Melhores chances de ter sucesso”. O sistema estruturado da escola e a formula simples de “trabalhe duro, tenha um bom desempenho e receba uma recompensa” oferece conforto à maioria dos perfeccionistas.
No mundo real, o sucesso é medido de outra forma. Tudo tem uma estrutura diferente. E apesar de você nunca admitir isso, por um lado você sente falta daquele mundinho onde era possível tirar nota dez e estava tudo certo.
14. Você tem uma alma culpada.
No fundo, muitas vezes os perfeccionistas são atormentados por sentimentos de culpa e de vergonha.
O perfeccionismo mal-adaptado – um impulso pela perfeição que geralmente tem sua origem na esfera social e um sentimento de pressão para ser bem-sucedido que vem de fontes externas, mais do que internas – tem uma forte relação com a ocorrência de depressão, ansiedade, vergonha e culpa.
“O perfeccionismo não tem a ver com a busca da excelência ou da melhoria, que é uma coisa saudável”, disse Brené Brown numa entrevista a Oprah. “É uma forma de pensar e sentir que diz: ‘Se eu tiver uma aparência perfeita, se eu fizer do jeito perfeito, se trabalhar e viver da maneira perfeita, eu posso evitar ou minimizar a vergonha, a culpa e o julgamento’ ”.
Então qual é o remédio para isso? Brown recomenda a prática da autenticidade. Permita que os outros lhe vejam exatamente como você é e abra mão do escudo protetor do perfeccionismo para que você possa expressar a sua vulnerabilidade.
“A autenticidade é uma prática que você escolher todos os dias”, ela diz, “as vezes a cada hora do dia”.
Por Carolyn Gregoire – publicado originalmente em Brasil Post