De Ulysses Guimarães a Teori Zavascki, eu espero que não!
Fui barrada na portaria do meu prédio por três vizinhos alvoroçados, que insistiam em bater o martelo sobre a morte do ministro do Supremo Tribunal Federal, Teori Zavascki. Eles já estavam decididos: “um técnico, especializado em aviação e contratado por todos os envolvidos na Lava Jato, sabotou a máquina para que o avião caísse pouco antes do pouso”.
Ouvi por alguns minutos os detalhes contados minuciosamente por cada um deles, o mais novo, que deve ter seus 40 anos, era o mais convencido de que tudo foi uma armação para que a investigação do maior caso de corrupção do planeta esfriasse.
Até que ele me olha como se perguntasse o motivo do meu silêncio e joga a bola para mim, na esperança de que eu batesse no peito e fizesse o gol:
– Foi ou não foi atentado?
Eu, possivelmente com um semblante de tristeza absoluta, só consegui dizer três palavras:
– Espero que não.
Pronto. Fui tomada por olhares de desaprovação que me devoraram com ar de decepção.
– Como não? Vai dizer que acha possível que tenha sido um acidente? Ah, até parece que não lê jornais!
Subi prometendo ao Universo que não entraria na discussão daquelas de três pessoas descontroladas, – que só esperavam uma resposta de quem passasse por elas:
– Sim, foi um atentado.
Porém, ainda que tenha quebrado a corrente dos meus vizinhos sedentos por mais um escândalo tamanho GG, confesso que compreendo a urgência deles para condenação de alguém – em um país onde a impunidade já não nos desce mais.
Vou além, ainda que eu acredite que eles possam estar certos, ainda que ache que um atentado a um cara que estava prestes a entrar fundo em um buraco negro, buraco esse onde até o ar que respiramos pode estar encrencado, ainda assim, eu espero que não.
Espero que não tenhamos que carregar mais essa sombra que suga a luz do nosso país. Espero que a morte dessas cinco pessoas (e aquelas tantas outras misteriosas desgraças que nunca foram esclarecidas), sejam realmente incidentes e acidentes que a vida nos joga na cara e nos tira de perto pessoas tão importantes para a nação.
De Ulysses Guimarães a Teori Zavascki, eu espero que não.
Vivemos a era do medo, do desprezo, da falta de vergonha na cara. Nunca fomos tão humilhados perante os nossos próprios preceitos.
Vivemos um tempo – que não termina nunca – onde o dinheiro da educação, da saúde, da segurança e da cultura foi transportado direto para as contas que guardam milhões e bilhões do meu, do teu, do nosso dinheiro suado, tudo escondido na Suíça.
Se, além da maior quadrilha de colarinho branco do mundo, nós ainda carregarmos o peso de uma gente poderosa que derruba avião, juro que vai ser difícil aguentar. E olha que a nossa esperança não se cansa de acreditar.
Quando fechei a porta da minha casa, ainda chocada com a descrença dos meus colegas, pensei em descer e dizer que realmente espero que não. E pedir que eles também esperem um pouco antes de decretar a morte da nossa esperança, para que não fique ensanguentada na portaria do nosso prédio.
Ainda que já tenha perdido a crença em tantas pessoas que eu julgava donas de si e capazes de fazer por onde o nosso voto, ainda assim, eu espero que não. Ainda que um pedaço de mim saiba que a qualquer momento podemos acordar com a comprovação de que, além de uma gangue cheia de corrupto cara de pau, também estamos rodeados de assassinos frios e calculistas, ainda assim, eu espero que não.
Ainda que não acredite em nada do que eles falam na TV, ainda que saiba do passado sombrio que o Brasil esconde, e ainda que o sofrimento do nosso povo mais pobre só aumente, ainda assim, eu espero que não.
Ainda que minha razão ache que sim, eu realmente espero que não.