Leia ouvindo: The Black Keys – Lonely Boy
Ter histórias para contar, talvez seja essa a grande riqueza da vida. Conheço muita gente, tenho muitas histórias, e obviamente que uma boa parcela desses inúmeros causos vêm dos homens com quem me relacionei. Passamos a vida experimentando, até achar aquele que agrada e que acreditamos valer a pena. Não era o caso dele, o cara que faz parte dessa história aqui.
Ele era caso antigo, conheci na adolescência. Morávamos em cidades diferentes, mas era comum falarmos pelo menos uma vez por semana ao telefone. Óbvio que era eu que ligava muito mais. Me dá até saudades dessa época, que me jogava nas relações sem paraquedas ou medo de altura. Preferia me quebrar do que não tentar.
Apesar do contato, eu era nova demais para querer namorar aquele cara chato do outro lado da linha. Chato e sistemático, eu diria. Seis anos mais velho, fazendo faculdade de Física, morando em outra cidade e vivendo uma vida boêmia que, sinceramente, eu não fazia questão de conhecer. Foi uma aventura. Cada um para o seu lado: eu para o vestibular, ele para a formatura da faculdade.
Os anos passaram e a nossas vidas esbarraram novamente. Fizemos uma segunda tentativa frustrada de encaixe. Era a minha época de faculdade. Primeiro ano de Publicidade, livros caindo na minha cabeça, muitas festas para ir e uma turma animada para seguir. Existem aquelas épocas em que a gente não precisa de ninguém. O primeiro ano de faculdade é uma dessas.
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Costumo dizer que alguns erros beijam bem demais para serem deixados de lado. A teimosia geralmente vive de mãos dadas com o erro, um novo reencontro. Agora os dois já estão mais velhos, um pouco mais resolvidos e numa fase de vida parecida. Ele já tem entradas no cabelo, indícios de um cara maduro, trinta e poucos anos, de chato se tornou um pouco mais divertido, menos sistemático também. Se formou em duas faculdades, conseguiu um emprego bacana, mudou de papo, se tornou mais charmoso e daí a gente pensa: por que não?
m tempo, o “por que não?” Costuma ser o início do fim. Insistir no mesmo erro, apesar de beijar bem, é burrice. As pessoas não mudam e só melhoram quando elas querem. Claro que essa não foi a escolha dele. Ele foi babaca. Não se entra ou sai da vida de alguém com a facilidade de passar na catraca do metrô, poxa! Eu tentei, ele foi frouxo. O babaca nunca sofre em tempo presente. Fato comprovado. O babaca sofre depois que os anos passam e ele vê aquilo que perdeu, e o que ela se tornou. Insiste em se aproximar daquela mulher que um dia ele teve e obviamente não valorizou. Respeite o futuro da moça, por favor!
O babaca arrependido aparece naquelas quintas-feiras de Happy Hour com as amigas, ou no horário do beijo de boa noite no namorado. Aparece na porta do antigo apartamento com flores, mas mal sabe que ela se mudou dali. Manda e-mails insistentes com “oi”, “fala comigo”, “quero te ver” e claro que agora ele já não tem mais resposta. O babaca sempre fica com o silêncio.
Toda mulher já teve um babaca arrependido. Todo homem já foi um. É um ciclo. Um vício. Talvez amor. Platônico, claro. A verdade é que ele não precisa ser o babaca, e ela não precisa optar pelo silêncio. Na hora da discussão, sem panos quentes. D.R. é longa, a vida é breve (Salve Xico Sá!). Não importa, só não seja um babaca arrependido e nem deixe a sua vida pautada no “é tarde demais”.
Se foi, já foi. Não insista ou persista. Babaca sempre encontra a dignidade perdida. Assuma o erro e não repita. Porque babaca arrependido no final sempre fica sozinho.
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[Em tempo, esse foi o primeiro texto da série “Sobre os caras que tive”, escrito lá em abril de 2014. ] – Juliana Manzato