Vários movimentos sociais tendem a se manifestar através de inúmeras maneiras. Nesse contexto, as bandeiras terminam representando também alguns grupos, como o LGBT.
O mês de junho é reconhecido mundialmente por recordar as revoltas de Stonewall, episódio que desencadeou um marco de resistência de homens e mulheres homossexuais, a Revolta de Stonewall foi um movimento mais significativo para a comunidade passar a se rebelar contra a opressão social e policial que enfrentavam à época.
Até então, ser homossexual era lido como crime nos Estados Unidos e em outros países. Para evitar que essas pessoas se reunissem em bares ou discotecas, a State Liquor Authority passou a proibir a venda de bebidas alcoólicas para estabelecimentos que eram considerados gays.
Segundo a Wikipedia, com a proibição, a máfia italiana passou a se aproveitar da situação. Em 1966, Tony Lauria, integrante do La Cosa Nostra, teria comprado um restaurante e mudou o nome para Stonewall Inn.
Para que pudesse comercializar bebidas, estima-se que o mafioso pagava algo de US$ 1.200 dólares por mês para evitar a fiscalização, e repassava o valor a preços exorbitantes para o público.
Ainda assim, as batidas policiais eram constantes, até que já cansados de tantas ameaças, grupos de homens e mulheres homossexuais se levantaram contra a polícia, dando início ao motim de Stonewall. Nesse mesmo período, vários grupos gays e lésbicos foram formados, cujo intuito era concentrar e revidar os policiais através de táticas de confronto.
Somente em 1970 que começaram a acontecer as primeiras marchas do orgulho gay. Nova York, Los Angeles, Chicago e São Francisco foram as primeiras cidades a realizar as manifestações, em comemoração ao aniversário dos motins. Desde então, esse mês se transformou em um mês de luta para a comunidade homossexual em todo o mundo.
Vejamos algumas bandeiras das orientações sexuais
Bissexual
A definição da bissexualidade é entendida como a atração sexo-afetiva entre uma mulher do sexo feminino, para outra mulher do sexo feminino e para um homem do sexo masculino.
Até o momento, não existem explicações científicas sobre a formação da orientação sexual humana: alguns pesquisadores defendem que é uma sorte de influências biopsicossociais, o que descaracterizaria a noção de que a orientação sexual é uma escolha.
Ainda assim, a bissexualidade já foi observada desde os primórdios da humanidade em várias sociedades, como também no reino animal, mas como conceito, o termo só passou a ser utilizado no século XIX.
Um dos maiores problemas de estudo da sexualidade é estudar a bissexualidade separadamente, já que é bastante frequente que cientistas a estudem desde a perspectiva da homossexualidade.
Para a professora de Harvard, Marjorie Garber, a maioria das pessoas seriam bissexuais se não existisse uma repressão dos desejos e sentimentos, nem barreiras sociais que terminariam culminando na ideia de gênero.
Entre alguns bissexuais famosos, podemos citar o cantor inglês David Bowie e a cantora norte-americana Lady Gaga. A música Poker Face faria uma analogia sobre fantasiar estar com uma mulher enquanto se está com um homem.
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Algumas mulheres bissexuais brasileiras de destaque são: a atriz Regina Braga,
No Brasil, a atriz Camila Pitanga revelou em um primeiro momento ser bissexual, logo depois admitiu que sua sexualidade estaria em “movimento”.
Já a bandeira do movimento bissexual é caracterizada por três cores, onde o rosa representa a atração sexual e romântica por pessoas do mesmo sexo; o azul simboliza a atração sexual e romântica por pessoas do sexo oposto e finalmente a faixa central, em roxo, representa a união do azul com o rosa, que seria a representação de ambas sexualidades.
Bandeira lésbica
De acordo com a Wikipedia, a bandeira lésbica teria sido criada somente em 1999 por Sean Campbell, que era designer gráfico, mas só foi publicada no ano seguinte, durante a edição do Gay and Lesbian Times.
Na imagem, é possível ver uma lábris, que é um machado com duas pontas, sobre um triângulo preto invertido, em um fundo violeta. A lábris foi associada como uma arma das amazonas, ainda na mitologia. Em 1970, esse machado foi adotado por grupos lésbicos como símbolo de empoderamento.
Durante a época do nazismo, mulheres homossexuais, ou seja, sujeito que nasceu com o sexo feminino que se relaciona com outra pessoa de seu mesmo sexo biológico, eram identificadas com um triângulo negro invertido. Com o passar dos anos, esse símbolo foi reivindicado pelas lésbicas, e posteriormente, a cor roxa foi associada devido às poesias de Safo, que foi uma poetiza grega da ilha de Lesbos.
O movimento lésbico passou a ganhar força após as manifestações em Stonewall, sendo mais influente durante as décadas de 1970 e 1980, principalmente na América do Norte e em algums países da Europa Ocidental, como Inglaterra e França.
Segundo Sheila Jeffreys, “o feminismo lésbico surgiu como resultado de dois empreendimentos: as lésbicas dentro do Women’s Liberation Movement que passaram a criar novas políticas, e as lésbicas da Gay Liberation Front, que se uniram às suas irmãs”.
Entre as principais teóricas do movimento lésbico, podemos citar autoras como Mary Daly, Sheila Jeffreys, Adrienne Rich, Audre Lorde entre outras. A grande maioria dessas pensadoras e estudiosas entendem que a homossexualidade feminina é uma maneira de se opor às instituições criadas pelos homens, o que acaba sendo uma estratégia feminista que permite que as mulheres passem a investir suas energias em outras mulheres, criando novos diálogos e relacionamentos, limitando a interferência e relacionamentos com homens.
São algumas brasileiras lésbicas, a jornalista Fernanda Gentil, a atriz Bruna Linzmeyer e a cantora e compositora Mart’nália.
Bandeira gay
Caracterizada pelo triângulo rosa invertido, o símbolo foi amplamente usado para identificar homens homossexuais enviados aos campos de concentração pelos nazistas, durante a Segunda Guerra Mundial.
A partir das décadas de 1970 e 1980, a comunidade gay passou a usar o símbolo como uma maneira de protestar contra a homofobia da época, algo que foi entendido como o desenrolar das manifestações de Stonewall. Atualmente, o triângulo rosa é um símbolo de orgulho e marca a união do grupo que busca seus direitos civis até hoje.
Segundo a Wikipedia, os prisioneiros homossexuais masculinos que eram reconhecidos, usavam vários tipos de identificações. Alguns foram o triângulo verde, que indicaria que esses homens eram criminosos, triângulo vermelho, quando eram prisioneiros políticos ou levavam o número 175, que se referia diretamente ao código penal alemão, que à época criminalizava a homossexualidade masculina.
Conforme a perseguição contra homens homossexuais foi aumentando, os nazistas passaram a identificar esses sujeitos com um triângulo rosa, que às vezes era sobreposto por um triângulo amarelo, que os identificaria como judeus, em clara alusão à estrela de Davi.
Mesmo com o fim da Segunda Guerra Mundial, as leis que criminalizavam a homossexualidade só foram totalmente revogadas em 1968, na Alemanha Oriental, e no ano seguinte, na Alemanha Ocidental, que continuou criminalizando a homossexualidade até 1994, embora as prisões fossem bastante raras.
Em Buchenwald existe um memorial feito para que os milhares de homossexuais mortos e assassinados sejam lembrados. Estima-se que pelo menos 15 mil homens homossexuais foram levados aos campos de concentração, sendo boa parte dessa população judeus.
Em 2005, em virtude do 60º aniversário da libertação do campo de concentração de Auschwitz-Birkenau, o Parlamento Europeu fez um minuto de silêncio por todas as vítimas do regime nazista.
Em 1973, o grupo alemão homossexual Homosexuelle Aktion Westberlin fez um comunicado para que os homens gays usassem o símbolo como uma tentativa de honrar os homens mortos, além de protestarem contra a discriminação contínua e crescente da época contra a comunidade gay.
Em 1980, o triângulo invertido passou a ser usado como um símbolo de resistência. Até hoje é possível ver o símbolo em movimentos sociais, paradas e manifestações políticas.
Alguns homens gays notáveis da história que podemos citar são o inglês Allan Turing, que faleceu em 1954 após uma intoxicação por cianeto, em uma tentativa de suicídio após ser condenado a tomar hormônios, que resultariam em um tipo de castração química, que era uma prática aceita, à época, para tratar vários homens.
Em 2009, John Graham-Cumming fez uma petição ao governo britânico para que o órgão pedisse desculpas pela acusação de Turing como homossexual. Em setembro do mesmo ano, o primeiro-ministro, Gordon Brown, reconheceu a petição e lamentou o incidente.
Também foram outros homens homossexuais importantes na história, o escritor e poeta Oscar Wilde e o sociólogo francês Michel Foucault.
Já homens gays brasileiros podemos destacar o político pelo PSOL, falecido este ano, David Miranda, o humorista Paulo Gustavo, falecido em decorrência de complicações de Covid-19, e os jornalistas Daniel Adjuto e Leo Dias.
Bandeira do arco-íris
Talvez seja uma das mais conhecidas do movimento LGBT. Seu uso data desde 1990 e possui seis cores. O termo é uma adaptação da sigla primária LGB, que reconhece as orientações sexuais existentes, mas passou a ser substituída em 1988 para evitar o uso da palavra gay e dar uma conotação mais ampla ao movimento.
Segundo a Wikipedia, a sigla LGBT pode referir-se a qualquer pessoa que não seja heterossexual. Pensando nessa ideia de inclusão, outras variantes surgiram, mas a sigla mais forte e reconhecida continua sendo essa.
Ainda que essas siglas não abranjam grupos minoritários, o termo é amplamente aceito para incluir todo aquele que se identifica com alguma das quatro letras.
Segundo o site Significados, o vermelho simbolizaria a vida, o laranja, a revigoração. Já o amarelo, representa a luz do sol, enquanto o verde, representa a natureza. O azul e o roxo significam, respectivamente, a serenidade e a espiritualidade.
Bandeira transexual
Criada em 1999 por Monica Helms, que é uma pessoa que se identifica como mulher, as faixas em azul simbolizam o universo masculino, enquanto as partes rosas fazem referência ao feminino. A parte branca central evoca todas as pessoas não binárias.
Bandeira LGBTQIA+
Lançada em 2022, a bandeira passou a incluir a gravura do orgulho intersexo, segundo a revista Glamour. A criação foi feita pelo designer ítalo-britânico Valentino Vecchietti.
Bandeira gênero não binário
A bandeira foi criada por Marilyn Roxie em 2011, e segundo a Wikipedia, não binário é um termo guarda-chuva, que termina agrupando vários outros conceitos, como:
Gênero fluido – identidade de gênero fluida
Agênero – ausência total de gênero
Intersexo ou intergênero – identidade de gênero identificada e interligada a uma variação intersexo
Bandeira queer
Pessoas Queer podem se expressar através da combinação de masculinidade e feminilidade.
Bandeira pansexual
A pansexualidade é a atração sexual, romântica ou emocional a pessoas independentemente do sexo biológico ou identidade de gênero.
Bandeira polissexual
A polisexualidade é a atração sexual por dois ou mais gêneros, às vezes é confundida com a poligamia.
Bandeira do poliamor
Pessoas poliamorosas são aquelas que desejam ter mais de um relacionamento, seja sexual ou romântico, com o consentimento dos envolvidos.
Bandeira assexual
Assexual é todo aquele que não tem atração sexual por nenhuma pessoa, independentemente de seu sexo biológico.
Bandeira arromanticidade
Arromântico é todo aquele que sente pouca ou nenhuma atração romântica e pode ter qualquer orientação sexual.
Bandeira urso
Segundo o site Significados, a bandeira representa uma subcultura da comunidade gay, formada por homens homossexuais ou bissexuais.
Críticas ao termo LGBT
Para alguns militantes, o acrônimo usado não representaria as causas dos homens gays, das mulheres lésbicas e de pessoas bissexuais, já que a transexualidade seria uma referência à identidade de gênero, e não uma orientação sexual.
Segundo a Wikipédia, as questões dos grupos LGB se centram em políticas que têm o objetivo de legislar o casamento de pessoas do mesmo sexo, igualdade dos direitos humanos no trabalho, entre outros temas. Para alguns ativistas, o acrônimo sugere um termo “guarda-chuva”, que abrangeria minorias sexuais.
Em alguns países anglófonos, a palavra Queer tem conotações negativas, o que pode significar para algumas pessoas um modo de insulto ou provocação. O uso pejorativo resiste até a atualidade.
Outros militantes rejeitam a bandeira arco-íris alegando que ela lembraria alguns movimentos hippies dos anos 1960 ou até mesmo grupos da Nova Era, bem como podem fazer referência aos povos originários da América do Sul.
Além disso, também existiriam homens e mulheres homossexuais que defendem a ideia de separatismo, onde cada grupo formaria uma comunidade separada dos outros grupos, com a finalidade de ter maior autonomia e para que possam lutar por seus objetivos em comum. Apesar de serem um grupo minoritário, eles são reconhecidos como uma organização bastante ruidosa e ativa dentro das organizações LGBT.
Em 2014, a jornalista inglesa Julie Bindel questionou, em seu texto para a BBC de Londres, a ideia de que os grupos de gênero deveriam continuar se mantendo sob o mesmo acrônimo. Para ela, cada grupo tem problemas, valores e objetivos singulares e que por isso, deveriam seguir caminhos separados.