Brianda Cruz não conseguia evitar a sensação de que a adversária estava além de seu alcance. Mesmo após anos de treinamento no boxe, nunca havia se sentido tão desafiada, nem mesmo em seus sparrings com homens. No entanto, ela expressou alívio ao ver que finalmente suas preocupações foram levadas a sério. A atleta em questão era Imane Khelif.
A questão da participação de atletas trans em competições femininas tem sido motivo de polêmica, e cada vez mais vozes no mundo esportivo se levantam para questionar sua justiça ou exigir uma revisão desse cenário.
O argumento central é que pessoas designadas como homens ao nascer e que posteriormente passam pela transição para o gênero feminino possuem uma vantagem biológica sobre as mulheres, mesmo com o uso de bloqueadores de testosterona.
Isso ocorre porque seus corpos podem apresentar características desenvolvidas durante a fase de desenvolvimento masculino, o que pode beneficiá-las em determinados esportes.
Essa preocupação tem sido particularmente evidente no atletismo. A World Athletics, organização que governa o esporte globalmente, anunciou medidas restritivas, afirmando que mulheres trans que passaram pela fase de desenvolvimento masculino não poderão mais competir em eventos femininos.
Essa foi uma das primeiras ações tomadas no mundo esportivo em relação a essa questão.
A situação também tem gerado debates em outras disciplinas esportivas. Recentemente, surgiu o caso controverso da boxeadora mexicana Brianda Cruz, que enfrentou a lutadora trans Imane Khelif no Campeonato Mundial de Boxe Amador em Nova Delhi, na Índia.
No entanto, Khelif acabou sendo desclassificada do evento após a revelação de que possuía níveis elevados de testosterona, o que claramente lhe conferia uma vantagem em termos de força durante as lutas. A decisão foi aplaudida por Cruz, que havia enfrentado Khelif alguns meses antes na final do torneio Faixa de Ouro, em Guadalajara.
“Quando lutei com ela, senti que estava em desvantagem, seus golpes me causaram muita dor. Em meus 13 anos de boxe, nunca me senti assim, nem mesmo durante meus treinos com homens. Estou aliviada por ter saído do ringue em segurança naquele dia, e é bom que finalmente tenham reconhecido isso“, afirmou Cruz, de acordo com o portal esportivo Medio Tiempo.
Por sua vez, Khelif criticou a decisão. “Participei de muitos torneios e nunca tive problemas, mas quando minhas chances de conquistar a medalha de ouro aumentaram, eles vieram e me impediram, alegando que minhas qualificações eram superiores às das outras mulheres”, disse ela.