“Querido marido: Eu. Preciso. De. Mais. Ajuda”. Assim começa a carta da norte-americana Celeste Erlach que usou a internet para desabafar sobre a falta de ajuda que tem recebido por parte do marido. Ela é mãe de duas crianças e sua carta já foi compartilhada mais de 6 mil vezes e continua sendo vigente até hoje.
Além de trabalhar, ela é profissional de marketing, ela ainda tem sido a responsável por cuidar dos filhos, por fazer todos os serviços domésticos sozinha, como cozinhar e limpar a casa, e isso a levou ao esgotamento físico e mental.
No relato, Celeste teria pedido ao marido para cuidar dos dois filhos do casal, para que ela pudesse dormir mais cedo. Mas de acordo com o texto, o marido teria deixado as crianças chorando “descontroladamente”. Ela relata ter ouvido o choro das crianças e preferiu deixar ao marido a situação, mas “você entrou no quarto 20 minutos depois, com o bebê ainda chorando freneticamente”.
No texto, ela diz que tem passado os dias cuidando dos filhos sozinha e que se sentia exausta, porque além do trabalho e das tarefas domésticas, ela ainda tinha que acordar na madrugada para alimentar um dos filhos, que à época era um bebê ainda.
“O mínimo que você pode fazer é segurá-lo por algumas horas à noite para que eu consiga dormir. Apenas algumas horas de sono. É pedir muito?”, desabafou a mulher.
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A família mora em Nevada, Estados Unidos, e embora Celeste trabalhe somente meio período, ela, em entrevista ao site The Sun, revelou que se sente totalmente esgotada por ter que lidar com todo o trabalho sozinha.
Embora a carta tenha sido escrita em 2018, e compartilhada em uma página nas redes sociais chamada de “Breastfeed Mama Talks”, ela continua sendo atual até hoje. É frequente ver que mulheres assumem totalmente o trabalho doméstico, o cuidado com os filhos e algumas ainda se desdobram em seus trabalhos.
A ideia de que o trabalho doméstico deve ser feito por mulheres é bastante arcaica: segue o parâmetro de que “quem ganha menos, tem que fazer mais”, assumindo que são os homens que, por ganharem mais, têm mais direitos de não se envolverem em tarefas domésticas.
“A ideia de lar, como refúgio do espaço público, da cidade, da competição, e da casa/lar como um espaço feminino, é um modelo desenvolvido neste período [a partir do século 19]”, explica a professora do Departamento de História da Universidade Federal de Santa Catarina, Soraia Carolina de Mello.
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Mesmo com esse padrão vindo a mudar depois do ingresso da mulher no mercado de trabalho, a mulher foi duplamente prejudicada ao ter que assumir uma terceira jornada para cuidar da casa e dos filhos. Essa visão tradicional tem sido reforçada com o passar dos anos ainda mais pelo desequilíbrio salarial existente entre homens e mulheres.
“Em casais em que os dois têm o mesmo nível salarial e cultural, os homens têm preferências por tarefas ‘menos delicadas’, como cuidar do jardim ou limpar a garagem. As construções culturais em torno dos estereótipos de gênero predominam e afetam a autoestima da mulher”, explica a psicóloga Luciene Bandeira, diretora de Saúde Mental do Grupo Conexa.
Ainda, para a professora de História da UFSC, Soraia Carolina de Mello, é necessário ensinar às crianças, desde cedo, que independente de seu sexo, elas podem contribuir com a manutenção da casa. Isso evitaria que o modelo machista continuasse sendo perpetuado nas famílias.
Segundo dados coletados pela DW Brasil, as mulheres gastam cerca de 21 horas semanais para lidar com trabalhas tidas como domésticas, enquanto os homens dedicam somente 10 horas semanais aos mesmos afazeres domésticos.
“Os homens também devem assumir a responsabilidade sobre suas casas, sua alimentação, sua saúde e suas roupas, assim como sobre sua família, como esperamos das pessoas adultas”, explica Sonia.
Para a docente, a busca por soluções não pode ser simplesmente relegada às mulheres, sem se importar com o sobre-carregamento de tarefas domésticas. Sem que isso aconteça, relatos como de Celeste Erlach continuarão sendo cada vez mais vigentes.