“Lost in Translation”
“Casa Turuna, Imperador… Casa Turuna!”
“Lost in translation” é uma expressão em inglês para determinadas palavras e conceitos intraduzíveis para outro idioma que envolve outra cultura: estava assistindo novamente o DVD da minissérie ‘Anos Rebeldes’ agora há pouco e percebi que talvez as coisas mais interessantes e peculiares de uma época, de um povo, as vezes podem passar despercebidos ou não compreendidos completamente. Um exemplo disso é o diálogo tocante entre a personagem de Heloisa, e o embaixador da Suíça, seqüestrado pelo grupo.
Esse diálogo é a síntese da constatação até comovente das diferenças culturais e de como os costumes podem ser perdidos e nunca traduzidos em sua totalidade, com toda a carga de identidade de um povo, uma nação, uma época.
Na cena em questão, a moça ao se despedir do embaixador, entrega-lhe de presente uma coroa de “Imperador”, daquelas usadas em carnaval, dourada, com pedras coloridas e purpurina. Sem entender bem do que se tratava, o embaixador pergunta a ela o que era aquilo e então ela explica com uma bela metáfora o que aquele tipo de objeto representava para o povo nos três dias de carnaval e que era apenas um adereço vendido numa loja especializada em fantasias.
Mas logo ela percebe com uma expressão de lamento, que sua explicação em palavras não alcançaria a dimensão do significado e a carga simbólica daquele simples e barato adereço de carnaval por mais inteligente que fosse o embaixador. E ela desiste e com a voz embargada, fala apenas: “Casa Turuna, Imperador… casa Turuna. O senhor não vai entender nunca.”
Claro que não é exclusividade do Brasil ter a posse dessas diferenças e peculiaridades; todos os povos e nações a têm e sabem que a têm. Talvez a partir daí, dessa espécie de ‘percepção’ ou ‘memória coletiva’ que constrói a unidade de um povo, nasça certo patriotismo, um sentimento de pertencer a um lugar, a um povo, por mais adaptável que seja alguém que viva fora de sua terra natal. É tão humano quanto compreensível não ser possível captar toda a identidade e identificação de um país e de um povo ao qual não pertencemos, apenas convivemos.
Mesmo quando achamos que estamos completamente integrados, há sempre um “LOST IN TRANSLATION” que não há tradutor do dia-a-dia ou da literatura que seja capaz de trazer à luz, em qualquer outro idioma, a representação exata de expressões que traduzem sentimentos, personalidades e emoções e costumes, que são peculiares e provenientes de outras culturas e que somente podem ser plenamente reconhecidas e compreendidas integralmente por quem pertence ao mesmo lugar.
Em alguns casos, as tentativas de imersão e compreensão na sua totalidade, acabam perdendo-se nos detalhes importantes. Embora seja um ponto de vista meu e um tanto melancólico, acredito que é esta diferença que nos atrai que mantém em cada povo um magnetismo próprio e uma aura única e especial.