Dois anos depois do acidente que tirou seus movimentos das pernas, Robério descobriu o esporte para pessoas com deficiência, e se tornou jogador de tênis.
As dificuldades que cada pessoa enfrenta são impossíveis de ser comparadas com as que o outro vive, pois cada uma tem a própria realidade e trajetória, e o que parece ser simples para algumas, pode ter uma complexidade enorme para outras.
Mas, assim como o sofrimento não pode ser hierarquizado, também compreendemos quando as adversidades por que alguém passa são difíceis para qualquer um aguentar.
Acidentes, pobreza, fome, solidão, doença e abandono, essas são algumas das coisas mais complexas de se aceitar, mas, infelizmente, temos de conviver com elas. Perder um ente querido, ver os filhos vivendo em situação de insegurança alimentar, sentir-se sozinho, são tantas as coisas que podem nos causar medo e nos paralisar, que chega a ser difícil de elencar.
Em 2014, Robério da Silva saía para trabalhar quando sofreu uma tragédia – foi atingido por uma bala perdida. Segundo informações, ele foi confundido com outra pessoa naquele momento e acabou sofrendo as consequências por um ataque de arma de fogo.
O tiro deixou-o paraplégico, fazendo sua vida mudar completamente, já que passou a andar de cadeira de rodas. Atualmente, com 28 anos, Robério precisou se tornar entregador em Fortaleza, no Ceará, para sustentar a família. Com a esposa desempregada por conta da atual crise sanitária e econômica do país, ele precisou adaptar a própria cadeira de rodas para usá-la como meio de transporte para trabalhar.
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Recentemente, enquanto fazia suas entregas, ele foi flagrado por outro morador, que filmou a forma como se deslocava pela cidade para cumprir sua jornada. O vídeo circulou nas redes sociais e foi postado também pelo Jornal Jangadeiro, que começou a investigar quem seria o homem e por que estaria naquela situação.
Por mais que o trabalho e o esforço sejam vistos como “edificantes”, é preciso ficar atento às condições em que Robério trabalha. Ele precisa usar a própria cadeira de rodas como veículo e se arrisca no convívio das ruas, em meio a um trânsito complexo e perigoso, apenas para conseguir trabalhar em uma função que remunera mal.
Robério chega a receber auxílio emergencial do governo, porém o valor é tão baixo que é impossível sustentar a mulher e os dois filhos, um de 12 anos e o outro de 7. Por isso, acaba trabalhando como entregador todos os dias das 18h às 23h, em Fortaleza. Além de pai e marido, ele também é atleta e descobriu no tênis sua força e vontade de viver, em 2016, dois anos depois do seu acidente.
Robério já participou de mais de 10 campeonatos de tênis paralímpico e ganhou torneios importantes, como o Campeonato Cearense e até um prêmio internacional no esporte. As entregas acabam sendo uma forma de treinar o físico enquanto ganha dinheiro, mas o risco de sofrer outro acidente é grande.
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Pensando nisso, foi organizada uma vaquinha on-line para Robério e sua família, com o principal objetivo de deixá-lo em casa por pelo menos mais seis meses, sem que precise fazer as entregas todas as noites.
Ele também gostaria de abrir uma oficina de cadeira de rodas, e parte do dinheiro investir no próprio negócio, pagando o aluguel do espaço e até comprando equipamentos. Com meta de R$ 50 mil, os organizadores ainda explicam que gostariam de comprar duas cadeiras de rodas para ele, uma esportiva e outra para o dia a dia.