Encontrando a quietude da mente…
Parece que a cultura moderna convida ao vício de pensamento constante. À atividade mental constante. Não falo propriamente de raciocínio, mas de impressões que vamos tirando do ambiente, como flashes fugazes que captamos por automatismo, e que em longo prazo se tornam parte de nós, e passam a habitar a nossa mente, mesmo sem estarmos a viver as situações em concreto.
Como, por exemplo, a insegurança. Se uma pessoa é confiante em si mesma e na sua imagem, se for especialmente suscetível àquilo que vê na televisão e às fotografias de modelos nas revistas, capta a mensagem que estes meios estão a difundir.
Para os anúncios de moda, cosméticos, entre outros, a insegurança dá lucro, por isso dá-se a falsa noção de que as pessoas não são naturalmente bonitas como são, e que é sempre preciso este ou aquele produto para ser perfeito.
É um paradigma impingido em todo o lado, porque os meios de comunicação estão em todo o lado, e assim se assimila uma crença, mesmo sem o termos feito deliberadamente.
A pessoa que antes era confiante na sua imagem passa gradualmente a sentir-se insegura, e os seus próprios pensamentos transformam-se, criando finalmente uma crença que fica enraizada.
Isto não acontece apenas devido aos meios de comunicação, mas a qualquer coisa que assimilarmos do ambiente que nos rodeia, por perdermos a nossa capacidade de discernimento. O que vem dos outros, se for convincente o suficiente, pode muitas vezes sobrepôr-se àquilo que vem de nós. Normalmente é o argumento mais credível que vence, ou até o tom em que é dito.
Para pensarmos por nós mesmos sem sermos influenciados por crenças que nos limitam ou denigrem, podemos treinar uma mentalidade positiva sobre nós mesmos e sobre a vida, até esta se tornar um padrão de crenças enraizadas. Ao termos esta mentalidade treinada, esta passa a adotar-se no nosso comportamento, e mesmo nas situações mais confusas, conseguimos manter a postura e não deixar que as condições nos moldem as crenças para pior.
Mas ainda mais importante que isso, temos que retomar à nossa essência. O nosso verdadeiro eu é mais alargado e imperceptível que achamos.
O “eu” não é o que vivemos, a nossa posição social, o nosso cargo e nem mesmo aquilo que pensamos. A nossa verdadeira essência encontra-se no não-pensamento, num estado de quietude mental que apenas pode ser encontrado e entendido individualmente.
Há várias técnicas que nos ajudam a acalmar e silenciar a mente.
Estas apenas funcionam verdadeiramente se estivermos a sós, sem uma influência externa que nos distraia e nos convide voltar ao burburinho mental.
Pensar não é o problema, mas esse barulho mental em excesso é que nos bloqueia muitas vezes e nos faz esquecer quem somos nós realmente e qual o nosso verdadeiro propósito.
Dá-nos a ilusão de que temos de estar sempre em movimento, sempre a pensar e que o silêncio é algo negativo. E que devemos sempre seguir o raciocínio a que os pensamentos nos levam, porque nós somos estes pensamentos, porque nós é que os pensamos. Mas a verdade está sempre na ausência de burburinho, porque finalmente conseguimos acalmar e sentimos que nada mais precisa ser feito.
O exemplo que dei de uma pessoa que passa a ser insegura por absorver estímulos à sua volta e mensagens negativas espalhadas pelos media, é um exemplo de como a ausência desses momentos de silêncio mental resulta numa assimilação de algo em que não acreditamos verdadeiramente.
Os momentos de ausência de pensamentos são, na verdade, momentos de pura presença. Quando nos permitimos finalmente descansar de todo aquele estímulo bombardeado por todos os lados durante o dia, retornamos à nossa essência. Sem sermos definidos e influenciados pelas circunstâncias externas, finalmente entendemos o que é a paz, e que ela é encontrada, sempre, dentro de nós.
Nós encontramo-nos dentro.
É por isso que não adianta acharmos que a nossa essência reside nos clubes a que pertencemos, na religião em que acreditamos ou no trabalho que fazemos. Todas as categorias que nos encapsulam dão a ilusão de que nós somos aquilo e nada mais. Achamos que essa identidade é parte inseparável de nós quando, na verdade, nos separa de nós mesmos e do Todo.
Como acontece com as nações que entram em guerra pelo dinheiro.
A lei do mais fraco é o mantra entoado nas mentes dos que orquestram essas guerras, como se as outras nações fossem partes descartáveis do Mundo e da Humanidade.
Mas todos somos Um, e na verdade não há separação. E a própria Terra é uma pequena parte do que a Humanidade realmente é, e tanto uma como outra são experiências temporárias de como a Consciência se manifesta.
Somos Consciência. Simplesmente somos, sem definições, atributos, rótulos. Essa existência pura parece vazia de significado, mas a própria sensação de vazio é que lhe dá o significado, porque tanto somos o Tudo, como o Nada.
Eu sou o que sou. O autoconhecimento é um mistério interminável e profundo, por não se explicar por palavras nem ações, apenas pela experiência individual. Vivendo a quietude da mente, redescobres-se e encontre o seu propósito. Nem que seja simplesmente existir.