A obra “Exaltação de Aninha” de Cora Coralina é uma celebração à figura do professor, uma peça fundamental na construção do conhecimento e na formação de futuras gerações. Por meio de poesia, Coralina destaca a importância e a nobreza do papel desempenhado por esses educadores, exaltando sua capacidade de iluminar mentes e tornar o aprendizado uma jornada enriquecedora.
Na primeira parte do texto, somos lembrados de que o professor é comparado ao “sal da terra e a luz do mundo”, elementos essenciais que trazem vida e clareza a um ambiente.
Coralina nos convida a refletir sobre a responsabilidade do professor em transformar sua cadeira em uma cátedra de mestre, elevando seu magistério à magnificência e, ao longo do tempo, tornando-se um excelente mestre.
A autora explora a delicada diferença entre um professor e um mestre, ressaltando que o verdadeiro mestre vai além da simples transmissão de conhecimento.
Ele guia, inspira e ajuda os discípulos em sua jornada educacional, sendo marcado pela ascendência sobre a classe. Coralina destaca a importância dessa irradiação magnética, uma força sutil que emana da personalidade do mestre, tornando-o querido, respeitado e aceito.
A segunda parte traz ainda uma poesia de Cora Coralina, onde ela se autodenomina “espiga e grão que retornam à terra”.
A autora utiliza metáforas agrícolas para descrever sua própria escrita, comparando sua pena a uma enxada que cava, um arado milenar que sulca. Esses versos, carregados de simbolismo, revelam a ligação profunda da autora com a terra, suas raízes e a natureza.
Assim, “Exaltação de Aninha” não apenas enaltece o professor como guia e mentor, mas também nos transporta para o universo poético de Cora Coralina, onde as palavras são ferramentas que cultivam a sabedoria e celebram a vida.
Exaltação de Aninha
(O professor)
Professor, “sois o sal da terra e a luz do mundo”.
Sem vós tudo seria baço e a terra escura.
Professor, faze de tua cadeira,
a cátedra de um mestre.
Se souberes elevar teu magistério,
ele te elevará à magnificência.
Tu és um jovem, sê, com o tempo e competência,
um excelente mestre.
Meu jovem Professor, quem mais ensina e quem mais aprende?
O professor ou o aluno?
De quem maior responsabilidade na classe,
do professor ou do aluno?
Professor, sê um mestre. Há uma diferença sutil
entre este e aquele.
Este leciona e vai prestes a outros afazeres.
Aquele mestreia e ajuda seus discípulos.
O professor tem uma tabela a que se apega.
O mestre excede a qualquer tabela e é sempre um mestre.
Feliz é o professor que aprende ensinando.
A criatura humana pode ter qualidades e faculdades.
Podemos aperfeiçoar as duas.
A mais importante faculdade de quem ensina
é a sua ascendência sobre a classe
Ascendência é uma irradiação magnética, dominadora
que se impõe sem palavras ou gestos,
sem criar atritos, ordem e aproveitamento.
É uma força sensível que emana da personalidade
e a faz querida e respeitada, aceita.
Pode ser consciente, pode ser desenvolvida na escola,
no lar, no trabalho e na sociedade.
Um poder condutor sobre o auditório, filhos, dependentes, alunos.
É tranqüila e atuante. É um alto comando obscuro
e sempre presente. É a marca dos líderes.
A estrada da vida é uma reta marcada de encruzilhadas.
Caminhos certos e errados, encontros e desencontros
do começo ao fim.
Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina.
O melhor professor nem sempre é o de mais saber,
é sim aquele que, modesto, tem a faculdade de transferir
e manter o respeito e a disciplina da classe….
– Cora Coralina, em “Ainda Aninha…”, no livro “Vintém de cobre: meias confissões de Aninha”. 6ª ed., São Paulo: Global Editora, 1997, p. 151.
“Sou espiga e o grão que retornam à terra.
Minha pena (esferográfica) é a enxada que vai cavando,
é o arado milenário que sulca.
Meus versos têm relances de enxada, gume de foice
e o peso do machado.
Cheiro de currais e gosto de terra.”
– Cora Coralina, trecho do poema “A gleba me transfigura”, do livro “Vintém de cobre: meias confissões de Aninha”. 6ª ed., Global Editora, 1996, p.109.