Nossos valores estão trocados. Agora vale muito mais parecer algo do que verdadeiramente sê-lo!
Não é segredo para ninguém que vivemos em uma época de aparências! É claro, desde muito antes das redes sociais e da internet, mostrar o seu status era algo tido como descolado, e parecer importante era o objetivo de várias pessoas. Mas com o advento de aplicativos como Instagram, Facebook e Snapchat, cada vez mais pessoas podem maquiar a sua realidade e criar a própria versão da verdade, distanciando-se assim cada vez mais de quem as acompanha. Chega a ser irônica essa forma que escolhemos usar tais redes, visto que o principal objetivo era justamente aproximar mais as pessoas.
Essas vidas compartilhadas que não condizem com o que está acontecendo de fato devem ser nosso maior exemplo na atualidade da demonstração de como se tornou mais importante parece ser algo do que sê-lo. Mais do que gostaríamos de admitir, nós estamos pensando na melhor forma de uma foto ser publicada para que transpareça apenas o que queremos, postagens que causem inveja a quem não está vivendo aquela vida, e olhe que nem quem fez a publicação está curtindo tanto assim!
E quer saber a pior parte? Mesmo que já estejamos cientes dessa encenação, as pessoas que a fazem são recompensadas cada vez mais. O jogo da falsidade é muito lucrativo para alguns!
A psicologia ainda está tentando entender por que nós voltamos e mordemos a isca. Por que mantemos sob nosso campo de visão pessoas que sabemos que não vivem como mostram suas imagens, mas mesmo assim ver seus registros nos deixa insatisfeitos com o que conquistamos. Essa provocação de sentimentos primários negativos de que a internet é capaz continuará sendo espantosa por muitos e muitos anos, arrisco dizer.
É triste pensar que estamos glorificando pessoas por serem falsas e criticando aquelas que são verdadeiras!
Esperamos e até aplaudimos mais um retrato da vida perfeita, com corpos perfeitos e nenhum sinal de verdadeira humanidade. Esse tipo de conteúdo não é estranho para nós, talvez já estejamos até imunes a eles. Mas, se cruzamos nas redes sociais com alguém expressando verdadeira emoção, sem filtros, agimos como se o simples fato de o outro sentir algo natural fosse uma grande falha.
O choro não é postado. A decepção não é compartilhada. Nossos tombos, se assim desejarmos, nunca verão a luz do dia, pelo menos não pelas nossas mãos. Em pouco tempo, fomos ensinados que esses momentos não são dignos de postagem, logo não são dignos de os sentir na mesma proporção. É como se não nos déssemos espaço para sentir o que quer seja, pois isso não combina com nossa estética do sucesso.
E é por conta dessa lógica que não conseguimos vencer a falsidade! Por negar nossas emoções e suprimir o que verdadeiramente pensamos, abrimos caminho para que os mestres da fabricação atinjam o topo.
Pois o que pode parecer inofensivo, apenas uma tela da qual você tem “total” controle, é capaz de invadir nossa vida real em pouco tempo. Não subestime o poder de alguém que sabe usar o condão da falsidade a seu favor! São essas as pessoas que atingem lugares de prestígio nas empresas, as mais populares nos círculos sociais. Saiba que a “mágica” que esses indivíduos usam nada mais é que a manipulação, eles adaptam sua narrativa aonde quer que vão e obliteram qualquer um que consiga vislumbrar um buraco em suas histórias.
Como vencemos essa onda de apatia? É simples, embora não seja fácil.
Precisamos ser mais abertos com os nossos sentimentos e dos outros. Fale o que pensa, declare suas sensações e não tenha medo de sair do personagem perfeito, ele nem é tudo isso! Seus defeitos lhe dão repertório e uma complexidade tão necessária.
Apenas quando aceitarmos nossas emoções é que poderemos mudar essa ordem, em que os fingidores se dão bem e os honestos são os prejudicados.