“Não tenho tempo pra nada! Preciso de um dia de 30 horas!”
Tenho certeza que não sou a única que já disse isso na vida. Isso quando não o dizemos diariamente. Mas será mesmo que precisamos repetir esta frase? Será que estamos administrando nosso tempo corretamente, ou simplesmente nos expondo a uma demanda de tarefas insanas? Quem foi que começou o conceito de que temos que estar ocupados o tempo todo para sermos bem sucedidos?
Um dia de 30 horas para quê? Dar conta do que temos para fazer ou arranjar mais afazeres e reclamar que ainda faltam mais horas para cumprir a agenda?
Boa parte de nós vive de forma atropelada. Temos jornada tripla de trabalho e pouco tempo para nós mesmos. E nesta jornada assumimos também o papel de motoristas de filhos e de secretariar companheiros.
Temos nossas próprias tarefas particulares, profissionais e sem percebermos adotamos a de outras pessoas (maridos/esposas, filhos, pais e parentes) que poderiam e deveriam ser feitas por eles mesmos.
Todos chegam cansados e, normalmente a mulher assume a casa e sai feito louca e completamente sem auxílio, preparar o jantar, por roupa na máquina, verificar tarefa de filho, separar material do dia seguinte da escola (que deveria ser tarefa deles). Resultado: faltam horas no dia.
Com isso, não conseguimos encontrar prazer naquilo que nos propusemos a fazer. O trabalho se torna maçante e já não apresentamos resultados satisfatórios em termos profissionais e pessoais.
A vida doméstica vira um caos. Falta tempo para sentar e respirar. Para mergulharmos em nós mesmos e percebermos que a corrida da vida está sendo perdida em tarefas sem sentido, no trânsito, e, muitas vezes, em salas de espera de consultórios médicos. Em corredores que não levam a lugar algum.
Precisamos gerenciar melhor nossas vidas. Colocar como prioridade um dolce far niente na grama do quintal ou de um parque. Estipular o que é individual e o que é coletivo e dividir as tarefas entre todos daquele microcosmo – casa ou trabalho. Não ocupar todos os espaços vazios da agenda. Deixar o profissional no escritório e viver o pessoal fora dele. Devolver aos agregados suas individualidades e ensiná-los a ‘contar com você’ e não a ‘depender de você’ (coisas completamente diferentes).
O dia não precisa de 30 horas. Nós que precisamos diminuir o ritmo e a necessidade de arranjar milhões de coisas para fazermos. Desacreditar que estarmos sempre ocupado é sinônimo de sucesso. De nos fatigarmos propositalmente e adoecermos por conta de tanta insatisfação e estresse. Precisamos reconhecer que acamados o dia parecerá ter 30 horas mesmo e será a resposta para o pedido inicial.
E, por fim, saber que filhos vivem bem sem presentes novos, festas caras, aulas de esportes, música, línguas, mas não com pais estressados. E mais infelizes ainda, se órfãos.