A única coisa que as crianças aprendem quando são tratadas com agressividade é a tratar todos da mesma forma.
A criação infantil está entre os maiores desafios que as pessoas encontram na vida inteira. Imagina a responsabilidade de gerar uma criança, vê-la nascer e precisar ensinar absolutamente tudo para ela, desde as coisas mais básicas, como andar, falar e até a desenvolver pensamento crítico acerca das situações do mundo.
Soma-se a isso o fato de que grande parte dos pais estão sobrecarregados, em busca de mais dinheiro para que os filhos tenham melhores oportunidades na vida. Dessa forma, vamos entrando num ciclo no qual nossos filhos precisam de adultos que lhes ensinem sobre o mundo, a vida, não adultos sobrecarregados com o trabalho e a sensação de que a casa e a vida estão desmoronando.
Inseridos nas frenéticas rotinas da cidade, muitas vezes, terminamos o dia com um estresse que chega a ser difícil mensurar ou definir em palavras. Nesses momentos, acabamos descontando nas crianças todas as nossas frustrações, principalmente se elas demonstram qualquer tipo de irritação ou dificuldade para lidar com alguma situação.
Chega a ser irônico que as pessoas que deveriam ajudá-las a compreender seu espaço no mundo são as mesmas que usam ameaças e, em alguns casos, até agressão física. O maior problema de perder a paciência é justamente o momento em que as relações se transformam em construções hierarquizadas, em que um está sempre no topo.
Que direito nós temos de invadir seus espaços e gritar, proferir ameaças? O mesmo que um adulto tem de fazer isso contra nós. A psicóloga cognitivo-comportamental da Universidade Autônoma de Guerrero (México), Maricela Fonseca Analco, explica que a ameaça é um recurso que herdamos, já que fazemos isso por experiência própria.
O maior problema da ameaça é que seu único objetivo é intimidar e, justamente por isso, não deve ser encarada como uma ferramenta educacional. Existem duas formas de interpretar as ameaças: medo ou impulso à transgressão. Quando as crianças se veem ameaçadas, podem sentir que precisam gritar, não cumprir regras e outras coisas que façam com que a atenção se volte para suas necessidades.
Um dos principais impactos das ameaças na educação dos filhos é o distanciamento emocional dos pais. Caso isso aconteça quando a criança é pequena, há chances de que isso resulte em dificuldade ainda maior em fases posteriores de desenvolvimento e crescimento.
As ameaças ferem a autoestima, a criança passa a se sentir dispensável, como se não fizesse diferença nenhuma na vida dos adultos. Elas podem ficar estressadas e até ter a formação do seu caráter afetada, assim como a personalidade. Podendo ainda prejudicar o desenvolvimento físico e motor da criança.
Um dos primeiros passos para melhorar essa realidade são os adultos firmarem o compromisso de deixar para trás essa forma de parentalidade excludente e hierarquizante, substituindo-a pela disciplina positiva, tendo empatia com o processo de desenvolvimento das crianças, ensinando-as a viver em sociedade, de maneira gentil e includente.
Nem sempre atingimos nosso melhor, em muitas ocasiões, sentimos que estamos em falta, que não podemos dar tudo o que nossos pequenos nos exigem. Mas isso não significa que não vamos continuar tentando, e é justamente por isso que devemos sempre prezar pela solução de todos os possíveis conflitos que existam, e sabemos que eles vêm aos montes.
Essa é uma das melhores maneiras de garantir que seu filho saiba como lidar com os momentos em que tudo dá errado com calma e respeito. Ensinar sobre as consequências dos nossos atos surte muito mais efeito do que partir para agressões, por exemplo. Existe uma infinidade de possibilidades de lidar com as crianças, e todas podem envolver respeito.