Ela já acreditava que não conseguiria mais se envolver com alguém. Foram tantas dores, sofrimentos, frustrações, finais tristes, paixões vazias, recomeços esperançosos e tentativas de dar certo. Mas não deu, não dava, não dá! Sofria só de pensar em ter que começar uma conversa que, ao acaso, poderia desencadear todo um processo de conquista e sedução, que no final, a faria sentir tudo aquilo novamente. Decepção. Sua motivação e felicidade pareciam estar por um fio. Tão frágeis que a qualquer momento sentia que sua vida poderia ruir por não ter mais sentido viver com alguém amorosamente. Pensou consigo mesma, vou ficar sozinha, é melhor pra mim! Assim não sofro, não me decepciono, não me machuco.
Ela decidiu então desapegar-se, ou pelo menos não se prender a alguém. Estava emocionalmente frágil demais para querer arriscar-se. Mas tudo foi acontecendo de uma forma um pouco diferente. Desapegou-se de hábitos antigos, e apegou-se a uma rotina cansativa e inconstante de buscar a felicidade emflashes de contato com alguém. Que alguém? Nem ela sabia. Precisava ser apenas um alguém que preenchesse as lacunas vazias dos seus desejos. Desejo de não voltar a sentir o que já sentiu antes. E doeu. Desejo de experimentar o novo, e desejo de que esse novo traga novas sensações que a faça encontrar seu rumo novamente. Seu norte.
O tempo passou, a fase passou, o momento se foi. Percebeu que não queria mais estar tão perto das pessoas e mesmo assim sentir-se só. Tão só. A solidão era tão grande que já reconhecia como um vício a necessidade de não ser ela mesma. Não é que fazer aquilo tudo era certo ou errado. Podia dar certo para alguém, mas não para ela. A questão é que toda essa mudança em tom de rebeldia não tinha muito a ver com a sua essência. Por mais que estivesse mudada e vivendo pequenos momentos de alegrias noturnas nos finais de semana, essa ainda não era a forma que ela queria viver. A sua forma de viver.
Começou a sentir culpa. Culpa pelos próprios erros, culpa pelos seus acertos, poucos acertos. Sentia culpa até mesmo pelo que os outros consideravam errado em suas próprias atitudes. Precisava culpar alguém, e culpava a si mesma por sentir tanta culpa de si.
Via pessoas aparentemente felizes e sorrindo o tempo todo. O copo na mão e a entrega do corpo parecia algo tão libertador, mas por que aquela experiência não mais trazia esse efeito a ela? Por que a ideia do desapego e racionalidade não conduziam mais à lógica que houvera chegado um dia? Por que “o mais” parecia ser sempre tão pouco agora? Percebeu que esse não era mais o seu caminho. Nunca foi.
Decidiu que quer um amor. Aquele simples mesmo. Ela e alguém, alguém e ela. Sem eternidade, sem juramento falso. Apenas algo verdadeiro. Decidiu que quer ser acordada com um sorriso espontâneo e um abraço apertado. Sim, e o quer, não importa quão banal digam que é. Ela quer. Um abraço que se encaixe ao seu.
Decidiu que quer alguém que cuide dela, não por ela ser inferior, fraca e submissa, mas porque ser cuidada por alguém é confortante. E reconfortante. E se esse alguém for especial é melhor ainda. Mas ela quer cuidar também, mesmo que ele diga: não precisa! Ela quer estar lá, sabendo que ele só se faz de durão, só se faz. Como em um jogo de causas e efeitos. Desejo. Ela percebe que é o jogar o jogo que faz com que ela volte a sua essência. É o sentir que pode perder, e o sentir que pode ganhar. É o incerto e a entrega que proporcionam a intensidade de prazer que ela tanto precisa.
E se disserem que ela está fazendo tudo errado? E se disserem que ela não é mulher de verdade? Que precisa ser livre! Viver sem amarras e sem precisar de homem para ser feliz. As pessoas dizem tantas coisas.
Conversando com si mesma ela compreende que nem tudo que parece é. Ela não precisa de alguém para ser feliz. Ela quer alguém para ser feliz junto com ela, e partilhar momentos de felicidade. Juntos.
Ela percebe que a liberdade que tanto buscava era uma liberdade interna. Uma liberdade que a impede de se aprisionar em relacionamentos sufocantes, mesquinhos, agressivos, egoístas.
Ela então decide que quer amar sem receio, e sem pensar no que os outros dizem que é certo segundo os conceitos deles. Ela só quer amar. Gostar de alguém e ter um nome ao qual poderá chamar para passar os finais de semana juntos. Um único nome. Quer ter a expectativa disso tudo acontecer. Quer criar planos e ter coragem para estabelecer metas.
Ela só cansou da vida de solteira e da pressão para ter que demonstrar que está tudo bem quando não está!
Ela só quer ter liberdade para poder permanecer com alguém, e voluntariamente ser feliz.
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Fonte: Obvious