O carioca Paulo Santangelo, engenheiro de comunicações, mudou-se para Guarda do Embaú, na Grande Florianópolis, em 2010, devido ao trabalho.
Sem imaginar, sua vida tomou um rumo inesperado. Paulo, que nunca tinha cuidado de um cachorro até os 41 anos, hoje é o principal responsável por cuidar de cerca de 400 animais em um abrigo.
Ele declara que dedicou sua vida aos cachorros, trabalhando integralmente no abrigo com o auxílio de voluntários e doadores de ração.
Paulo se encarrega de dar moradia, alimentar, castrar, vacinar, realizar exames veterinários, medicar, realizar fisioterapia, auxiliar cadelas prenhas a terem os filhotes de forma segura, além de outros cuidados essenciais.
No momento, o local acolhe cães em diversas condições: resgatados de maus-tratos ou atropelamentos, cadelas prenhas ou com suas ninhadas, filhotes abandonados sem suas mães, cães necessitando de isolamento devido a doenças contagiosas, além de adultos saudáveis e idosos. Todos estão castrados e vacinados.
Dorinha mudou a história de Paulo
Paulo relata que ao percorrer o caminho de sua casa na praia da Guarda do Embaú até seu antigo local de trabalho em Capoeiras, notava a presença de muitos cachorros abandonados. O zelador sentia incômodo diante da vulnerabilidade dos animais, enquanto as pessoas pareciam não se importar com a situação.
“Eu comecei a olhar para eles e senti que tinha que fazer alguma coisa”, afirma Paulo.
Em 2012, durante esse percurso, Paulo deparou-se com um cachorro atropelado, com a mandíbula quebrada, e o encaminhou para uma clínica veterinária. Após a recuperação do cão, Paulo passou a compreender a necessidade dos animais e decidiu participar de feiras de adoção para proporcionar novos lares.
Nesse intervalo, o cuidador conheceu uma cadelinha chamada Dorinha, que surgiu em sua porta e lhe ensinou valiosas lições sobre os animais:
“Ela aparecia todos os dias na minha casa, e um dia ela sumiu. Eu que nunca tive preocupação com animais, fiquei preocupado porque ela havia sumido. Até que um mês depois, em um dia de chuva, ela voltou, bem magrinha e com as “tetas” inchadas. Eu coloquei ela pra dentro da minha casa, fechei a porta e fui para o trabalho, quando eu voltei, ela tinha destruído a casa toda. Levei ela no veterinário, e ele disse que a cadela havia tido filhotes em algum lugar e estava inquieta porque precisava amamentá-los. Eu cheguei em casa e soltei ela, e ela sumiu de novo por uns três dias. Quando ela reapareceu, as “tetas” já estavam murchas, então eu pensei “os filhotes sobreviveram””, relata Paulo.
O engenheiro deparou-se com Dorinha e seus três filhotes em meio ao mato, resgatando-os e trazendo para casa. A partir desse momento, Paulo começou a oferecer cuidados personalizados aos cães, vacinando, castrando e participando de feiras de adoções.
Com o aumento no número de cães resgatados, tornando impraticável a manutenção na hospedagem, Paulo mudou-se para um sítio, que agora abriga 400 cães.
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Mais abandonos do que adoções
Paulo continua engajado em feiras de adoção, procurando lares amorosos para os cachorros. No entanto, “a conta não fecha”, pois, apesar das adoções frequentes, o número de cães abandonados em seu sítio continua crescendo.
“As pessoas ficaram sabendo que eu tenho um local grande e que eu acolho os cachorros e começaram a trazer para mim. Já ouvi gente dizendo “se você não aceitar eu vou matar”, e aí eu acabo pegando”.
Por essa razão, Paulo não revela a localização exata de seu sítio, apenas indicando que está na região da Grande Florianópolis. Para visitar o abrigo, é preciso preencher o formulário de adoção disponível no site criado pelo cuidador.
“Aqui eu cuido muito bem deles, mas eu tenho certeza que em um lar, com uma família exclusiva, eles seriam mais felizes”.
De acordo com o responsável, o abrigo recebe aproximadamente 30 solicitações de ajuda diariamente e conta com o suporte de uma voluntária na tentativa de atender a todas. Além disso, as despesas só crescem: os custos com ração já ultrapassam R$ 17 mil por mês, e as despesas veterinárias acumulam dívidas superiores a R$ 20 mil.
Paulo relata que tudo isso acontece simultaneamente ao descaso das políticas públicas para os animais em situação de rua. Ele acredita que a solução para resolver o problema do abandono é simples: promover mutirões de castração:
“Em apenas um dia de mutirão de castração da para evitar mais de duas mil vidas nascerem e serem abandonadas.”
Confira fotos de alguns dos cães cuidados por Paulo:
Como ajudar
Existem várias maneiras de apoiar Paulo nessa causa. Se você não puder adotar um cachorro, também pode contribuir fazendo uma “vaquinha” para ajudar na compra de ração, doando dinheiro, oferecendo-se como voluntário para auxiliar na limpeza das instalações e no cuidado com os cãezinhos, ajudando no transporte deles para feiras e clínicas veterinárias, entre outras formas.
Se você possuir uma clínica veterinária, agropecuária, farmácia ou outra empresa dessa área, também pode colaborar por meio de parcerias.