Leia ouvindo: Aaron Nazrul – Daylight
Eu sabia exatamente onde aquela situação me levaria. Era uma furada, um caminho sem volta. Era como pegar carona com um desconhecido. Uma ideia de girico, como diz minha sábia avó.
E dai se eu queria ser burra? Uma aventura de alguns dias ou meses. Um coração um pouco mais partido. Algumas lágrimas caídas. Um olhar de deboche, burra. Eu sabia que mais dia ou menos dia ele iria embora, sem olhar para trás ou lembrar de qualquer momento bom. Ele definitivamente não iria me levar com ele. Eu sabia disso antes de arrumar as malas e querer ir junto, sabendo que a felicidade não era destino final.
Intensa demais para deixar de sentir, teimosa demais para desistir. Um geniozinho sem vergonha que até eu às vezes não acredito. Prefiro assim, uma decepção declarada, uma história honesta e sem expectativas. Uma única tentativa de aposta. Entre perdas e ganhos, experiência única.
Muitas mulheres já estiveram no meu lugar, talvez não com tanta consciência do dedo podre, mas quem nunca decidiu seguir em frente mesmo ouvindo do coração um: – Não vá, não. Não sabemos ao certo o caminho para voltar. Memória falha, coração não. O afeto vai embora e leva junto com ele tudo aquilo que foi dito e sentido. Memórias tristes do coração vazio. Irônico, mas bonito.
- Relacionamentos: Casados são mais felizes do que solteiros, afirma pesquisa
Me senti burra, mas também me senti resolvida. A escolha de pisar em ovos foi minha, azar se um deles estourar. A sorte podia estar comigo, mas dessa vez eu não quis usá-la. As vezes é bom ir contra, seguir o caminho contrário, justamente para quebrar a cara e ganhar um novo eixo.
Não tão burra, mas vivida. Eu sabia que dali não sairiam palavras bonitas, viagens planejadas e noites de plena conchinha. Escolhas próprias com sentimentos únicos. Juro que não doeu e nem me pegou de surpresa, foi honesto como eu esperava e como escolhi. Foi perda de tempo, burrice, felicidade com prazo de validade, relação insegura, foi. Foi tudo, mas não foi amor, e eu sabia.
O boicote ao coração foi feito. Daquele coração não sairia amor. O dedo podre foi consciente. A história não vivida também.
Porque as vezes é necessário ser mais razão e menos coração, não por que faz bem, mas porque nos torna mais vivos e mundanos. Sagrados e Profanos. Decepção e expectativa. Amor e não amor. Tudo e nada. Mesmo quando o nada seja exatamente tudo que a gente tenha.