Quantas mães você conhece que só visitam os filhos aos finais de semana por serem divorciadas? E nem parece tão chocante, não é mesmo? Mas quando é o pai quem faz isso, raramente o arranjo tem a mesma aceitação.
A vendedora Rosana Sollua, mãe de Sarah, 6 anos, vive uma situação assim. Ela se separou do pai da menina há cerca de 3 anos e, desde então, a pequena mora com ele.
Depois de receber críticas da própria mãe devido à situação, Rosana desabafou no Facebook, e o post se tornou viral. Ela não esperava que isso acontecesse, mas considerou a repercussão positiva.
“Eu estava bem triste pelo comentário que a minha mãe fez, comecei a escrever e decidi desabafar. Recebi muitas mensagens privadas, incentivos de mães que passaram e ainda estão passando por isso. Eu não imaginava. Fiquei feliz por poder ter ajudado de alguma forma” afirmou Rosana em entrevista à CRESCER.
Veja o texto completo dela abaixo:
“Olá. Pra quem não sabe eu tenho uma filha e ela hoje está fazendo 6 aninhos. Para a surpresa de muitos, não, ela não mora comigo. E é exatamente sobre isso que quero falar.
Hoje, em uma conversa com minha mãe, ela fez o seguinte comentário: ‘Mãe de verdade é aquela que cria’. E eu sem pensar duas vezes indaguei:’ Então quer dizer que eu não sou mãe?’
‘- Você só colocou no mundo, mas não cria, então é como se não fosse’. Aquilo me doeu a alma.
Infelizmente, minha mãe foi criada de um jeito no qual o ensinamento que era passado e que ela prega até hoje é que a mulher foi feita para cuidar dos filhos e do marido, a “dona” do lar. Minha mãe tem 5 filhos, é casada e já passou por muito perrengue, é uma guerreira. Mas infelizmente foi influenciada de tal maneira que a deixou parada no tempo, decadente. O que eu sinto pelos comentários que ela fazia desde criança, é que ela não foi feliz durante sua vida de casada mas que só insistiu por causa dos filhos.
Eu sempre me dei muito bem com ela, ela é uma ótima mãe, porém com meu pai meu relacionamento não era nada bom, vivíamos em pé de guerra. Eu não aceitava e não entendia o porquê meu irmão podia sair livremente e chegar a hora que quisesse e eu não podia. Quando eu saía era tachada de puta, que só saía pra caçar macho. Típico machista. Brigávamos quase todos os dias, era um inferno! Eu era agredida verbalmente quase todos os dias e fisicamente algumas vezes quando eu não me calava e a ira dele aumentava.
Aos 19 eu fiquei grávida quando ainda namorava, tive que sair de casa antes que meu pai descobrisse e me jogasse no olho da rua. Fui morar com o pai da criança.
Fiquei casada por 4 anos, quando não deu mais certo e então decidimos separar. Não dava para insistir num relacionamento na qual eu não era feliz. Nós conversamos e decidimos que nossa filha ficaria com ele já que ele iria morar com a mãe e ela o ajudaria com a Sarah. E eu? Eu não sabia nem onde iria morar. Meu pai não me aceitava de volta em casa e nem eu queria mais viver aquele inferno. Minha mãe não ofereceu ajuda porque sempre foi submissa ao meu pai e tinha medo dele, sei lá. Eu procurei entender, né, e procurei me virar sozinha. Eu fiquei sem rumo e contava apenas com Deus para achar um lugar pra morar. Achei pessoas pra dividir aluguel comigo e desde então, sempre foi assim, de um lado pra outro procurando lugares e pessoas pra morar, afinal de contas aluguel não é barato.
Hoje eu trabalho de dia e faço faculdade à noite, me mudei há menos de um ano e minha vida tá uma loucura, muito corrida. Vejo minha filha aos finais de semana.
Mesmo assim muitas pessoas me criticam pelo fato de ela não morar comigo, mas ninguém sabe da minha vida, ninguém sabe da minha história.
O fato da minha filha não morar comigo não me torna menos mãe e não significa que eu não tenho coração, como muitas pessoas falam. Mas o fato é que as pessoas estão acostumadas com os filhos ficarem com a mãe em caso de separação. E quando acontece o contrário é errado, a mãe é uma louca sem juízo que não tá nem aí pro filho. As pessoas são cruéis. Não! Eu não estou me fazendo de vítima, mas o comentário que minha mãe fez hoje não saiu da minha cabeça. Infelizmente foram duras palavras machistas, sim, machistas! E isso e todas as suas atitudes ao longo da minha criação me fizeram sair da minha zona de conforto mental.
Dói. Dói muito não poder ter minha filha pertinho de mim, dói não poder estar sempre com ela, participando de perto do seu crescimento, da sua educação. Queria estar com ela quando ela gritasse meu nome, queria abraçá-la forte quando ela chorasse, queria dar risada com ela todos os dias. Queria olhar pra ela todos os dias e dizer o quanto eu a amo. Só queria que ela me visse como sua heroína, que sempre estaria perto quando ela gritasse. Dói saber que não sou. Mas enquanto eu respirar ela vai ser o meu motivo para continuar, enquanto eu respirar ela vai ser a minha inspiração, enquanto eu respirar ela vai ser a minha força, minha base, meu alicerce. Enquanto eu respirar ela vai ser o meu motivo de esperança e felicidade. Porque nada nem ninguém vai abalar o amor que eu sinto por ela, Sarah.”