Quantas vezes os pais não têm o impulso de tentar resolver todos os problemas dos filhos, colocando-os numa posição que não nasceram para ocupar?
Em 2002, o psiquiatra e escritor Içami Tiba lançou uma de suas obras sobre educação e criação infantil, chamada “Quem ama, educa!” Um de seus principais livros orienta pais sobre a educação de crianças e como a perspectiva desses adultos influencia diretamente na personalidade e nas ações dos filhos no futuro, mostrando que somos responsáveis pelo que não fazemos, mas também pelo que fazemos tentando acertar.
Para Içami Tiba, o papel dos pais não é apenas o de educar, mas de também compreender que os filhos precisam ser criados em segurança para que tenham confiança na hora de partir. Pode parecer confuso, mas o escritor faz alusão aos navios, comparando-os às crianças, construídos para navegar mar adentro.
A dicotomia da educação infantil consiste justamente em fornecer o apego e o acolhimento necessários para que os filhos desenvolvam autoconfiança, tenham capacidade de alcançar a independência mas, na maioria das vezes, são os próprios pais que precisam compreender que não terão as crias para sempre debaixo de suas asas.
O psiquiatra explica que, ao vermos um navio atracado no porto, temos a sensação de que aquele é o local mais seguro onde ele pode estar, e, sem sombra de dúvidas, é mesmo. Mas os navios não foram feitos para ficar parados, apenas permanecem nos portos o tempo suficiente para serem reabastecidos.
Construir uma forte relação com os filhos, para o educador, pode ser similar à relação dos navios com os portos. Sabem onde existe segurança e sempre que precisam voltar recebem tudo aquilo que precisam, mas se lançam nos desafios do desconhecido sem pensar duas vezes em busca dos próprios sonhos e objetivos.
Justamente por isso, a criação neurocompatível se mostra importante para a relação entre os pais e as crianças. Ao nascer, não têm capacidade de se cuidar, precisam dos adultos para absolutamente tudo, desde alimentação até higiene e acolhimento. A sobrevivência dos recém-nascidos se dá pelas mães e pais, que dispõem de tempo e energia para mantê-los em segurança.
Conforme crescem, precisam aprender sobre absolutamente tudo, inclusive – e principalmente – sobre valores, ética e moral. Precisam aprender como se socializar com os demais, e adquirem essa capacidade quando interagem com outras crianças e adultos, seja na escola ou nos demais ambientes.
Somos responsáveis pela segurança dos filhos, mas precisamos ter consciência de que não podemos privá-los das relações com outras pessoas. E, nessa dança de tentar cumprir todas as expectativas que o mundo e os filhos depositam em nós, podemos sentir a necessidade de superproteção, o que pode não ser o melhor caminho.
Se a base educacional e de criação infantil for forte, alicerçada no amor, no afeto e no acolhimento, não importa onde os filhos estejam no mundo, eles vão saber exatamente o que fazer. Eles vão saber quando voltar, e é aí que reside a importância da criação de laços afetivos com as crianças, que jamais vão sentir medo ou receio de nos pedir ajuda.
Nem sempre é fácil criar um filho, existem inúmeros momentos complexos, em que nos sentimos sobrecarregados, mas também existem outros que compensam toda a dificuldade anterior. Ver as crianças se tornarem adultos responsáveis, confiantes e recheados de valores, com sonhos guardados nos bolsos, pode ser a melhor recompensa da maternidade/paternidade.
Não sinta receio quando seu filho tentar dar os primeiros passos sozinho, incentive-o, e se ele cair, mostre que seu colo e seu abraço estarão sempre ali, prontos para ajudá-lo a curar todas as dores. Porque os pais sempre serão o porto seguro dos filhos, principalmente entre as famílias que souberam cultivar uma sólida relação de afeto.