As lendas do folclore brasileiro representam contos narrados pelo povo e transmitidos de geração em geração.
A palavra “folclore” é de origem inglesa, formada por “folk”, que significa “povo”, e “lore”, que significa “conhecimento”, “sabedoria”, “cultura”. Assim, podemos resumir o folclore como uma manifestação cultural que representa histórias, conhecimento e pensamentos de um povo, perpassados através da oralidade.
Valorizar essas histórias através do tempo é fundamental para que a sociedade não se esqueça do passado e de suas raízes, além de incentivar as crianças a aprender mais sobre o povo, a cultura e o país, fortalecendo a identidade brasileira, por exemplo. Os pequenos têm o primeiro contato com essas lendas na escola ou até mesmo dentro de casa, e assim, conseguem aprender e manter viva a história do país, enriquecendo cada vez mais sua cultura.
Há muito tempo, o folclore brasileiro está enraizado nas pessoas, com histórias muito tradicionais espalhadas pelos quatro cantos do país com diversas lendas e personagens famosos. Nesse artigo você irá conhecer melhor alguns deles e suas histórias através dos séculos, como as lendas do boto-cor-de-rosa, da mula sem cabeça, da cuca, do lobisomem e do negrinho do pastoreio. Confira abaixo cada uma delas:
Boto-Cor-De-Rosa
Acredita-se que a lenda do boto-cor-de-rosa ou do “uauiará” deu-se início na região amazônica, baseado na cultura indígena, no entanto, estudiosos afirmam que, até o século XVII, não havia nenhum registro de lendas semelhantes. Reza a lenda que nas noites de lua cheia e nas festas típicas juninas, o boto, que é um animal que vive nos rios da Amazônia, sai dos rios e se transforma em um homem muito atraente.
Segundo a lenda, o boto-cor-de-rosa usa roupas e sapatos brancos, com um grande chapéu para esconder suas narinas, que ficam no topo da cabeça, já que a transformação não é completa. Conquistador, seu objetivo é seduzir as mulheres solteiras da festa para levá-las para o fundo do rio e acasalar. As mulheres engravidam e são abandonadas pelo boto, que volta a viver normalmente nos rios amazônicos.
O boto, inclusive, é muito usado para explicar uma gravidez fora do casamento, e por conta disso, na cultura amazônica costuma ser conhecido como o pai de todos os filhos. O boto-cor-de-rosa é símbolo de luxúria, assim como nos povos gregos, e pode ter algumas diferenças dependendo da região do Brasil.
Lobisomem
A lenda do lobisomem tem diferentes versões em todo o mundo, mas a origem é europeia. No folclore brasileiro, o lobisomem é um homem que, durante as noites de lua cheia, se transforma em um lobo perigoso, que sai à procura de suas vítimas. Acredita-se que a mãe que tem 7 filhas mulheres e o oitavo nasce homem, esse último provavelmente é um lobisomem.
No Norte do Brasil, por exemplo, o lobisomem é conhecido por ser um homem com saúde debilitada, com anemia. Ele se alimenta de sangue humano para compensar sua dieta. Já no Sul, ele é conhecido por se transformar após um incesto. Em outras versões, a lenda diz que esse homem seria transformado apenas em crianças não batizadas.
Segundo a lenda, ainda, o lobisomem se transforma durante à meia noite, e volta a ser humano durante o amanhecer. Ele só pode ser ferido através de uma bala de prata ou objetos cortantes feitos de prata, sendo as únicas formas dele morrer.
Negrinho do Pastoreio
A lenda do negrinho do pastoreio conta a história de um menino escravo que trabalhava para um homem muito malvado. O menino era responsável por pastorear os cavalos, que haviam sido comprados, e ao levá-los para o curral da fazenda novamente, o patrão percebeu que estava faltando um animal, batendo no escravo até sangrar.
No dia seguinte, o menino foi mandado procurar o animal, o achou, mas novamente ele fugiu. Voltando para a senzala, ele levou novas chibatadas do patrão, que o amarrou sobre um formigueiro.
Ao amanhecer, porém, o negrinho do pastoreio estava completamente curado das chibatadas, além de não ter levado nenhuma picada das formigas. Ao seu lado, apareceu uma imagem de Nossa Senhora, consolando-o, além do cavalo que havia fugido. O patrão se arrependeu do que havia feito, pediu perdão e o menino foi embora, montado no animal fujão.
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Essa lenda é muito contada na região sul do Brasil, e cheio no país na época da escravidão. Pessoas que perderam algo, podem acender uma vela e pedir ao negrinho do pastoreio para ajudá-las a encontrar o que foi perdido.
Cuca
Popularmente conhecida pela sua cabeça de jacaré e o corpo de uma velha, feia, enrugada, corcunda, de cabelos brancos e malvada, a cuca é uma personagem muito temida pelas crianças desobedientes. .
Diz a lenda que a cuca rouba as crianças, especialmente aquelas que não querem dormir, ficando à espreita nas casas das pessoas, esperando o momento certo de raptá-las. “Nana neném que a Cuca vem pegar”, é um trecho de uma cantiga de ninar que ficou muito conhecida por conta da personagem, tentando amedrontar as crianças.
Segundo a lenda, a cuca só dorme uma noite a cada 7 anos, e por isso, muitos pais usam a lenda para que os seus filhos possam dormir na hora certa, sem serem raptados por ela. A cuca ficou ainda mais conhecida após os livros e as séries inspiradas de Monteiro Lobato, “Sítio do Pica-Pau Amarelo”.
Curupira
O curupira é outro personagem muito presente no folclore brasileiro. Ele é representado por um menino baixinho de cabelos vermelhos, além dos pés virados para trás. Como um grande protetor da floresta, suas histórias têm origem através dos povos indígenas, populares no Norte do país, com algumas modificações dependendo da região.
Na lenda, o curupira usa seus pés virados para enganar os invasores e caçadores, que entram na floresta para explorar suas riquezas. Eles erram o caminho tentando seguir suas pegadas e ficam perdidos, além de também esquecem o caminho pelo qual entraram. Uma das estratégias do curupira é o assovio sem parar, que usa para atormentar os caçadores.
Os indígenas acreditam que o menino aterroriza aqueles que querem derrubar árvores ou caçar animais, e para fugir de suas travessuras, é preciso dar um nó em um pedaço de cipó. Além disso, o pavor do menino de cabelos é tão grande, que muitos indígenas ofereciam presentes para ele, como fumo e cachaça, para poder entrar na floresta em segurança.
Mula Sem Cabeça
A lenda da mula sem cabeça é uma mula marrom que solta fogo pelo pescoço, já que não tem cabeça. Ela corre disparada pelas matas e florestas, e relincha tão alto que pode ser ouvida a muitos metros de distância, também muito relacionado a um lamento de dor e tristeza. Segundo a história, ela é uma figura amaldiçoada, que foi punida após se relacionar com um padre.
Apesar de variar de região para região, a mula sem cabeça teria sido transformada após essa maldição, que acontece de quinta-feira para a sexta-feira, e só retorna ao seu corpo original quando o galo canta três vezes. Acredita-se que a lenda tem origem europeia e foi trazida ao Brasil pelos portugueses durante a colonização, além de reforçar os valores morais da época.
Boitatá
O boitatá é outra lenda folclórica muito popular, no qual fala de uma grande cobra de fogo que protege os animais e as matas daqueles que querem promover incêndios criminosos. Seu primeiro registro no Brasil aconteceu por José de Anchieta, o padre jesuíta do século XVI, que veio para o país através das embarcações portuguesas.
Segundo a lenda, o boitatá tem também diversos olhos, porque comeu a pupila de muitos animais, do qual expele suas chamas, o que também justifica sua luminosidade. Ele também consegue se transformar em um tronco em chamas para matar os homens que querem destruir a natureza do local, independentemente da forma que assume. Esse personagem também pode ter algumas variações dependendo da região do Brasil.
Saci-pererê
O saci-pererê é uma das lendas do folclore brasileiro mais conhecidas entre as pessoas, representada por um menino negro, de uma perna só, que vive pulando pela floresta com seu capuz vermelho. Esse personagem é brincalhão e travesso, fazendo tranças ou bagunçando a crina dos cavalos durante a noite, além de gostar muito de fumar o seu cachimbo também.
Agitado, ele faz travessuras por onde passa e tem costume de entrar na casa das pessoas para pregar peças, fazendo objetos desaparecerem ou queimando comidas no fogão. O saci-pererê também cria um redemoinho, levantando sujeira e poeira, e assustando as pessoas. Segundo a lenda, para capturá-lo, é preciso lançar uma peneira no redemoinho, pegar o seu gorro e colocá-lo dentro de uma garrafa para não escapar.
Vitória-Régia
Muito conhecida na região norte do Brasil, a lenda da vitória-régia conta a história de Naiá, uma jovem e linda guerreira, que sonhava em conhecer e se aproximar da Lua, que também é chamada de Jaci pelos povos indígenas. Diz a lenda que a Lua era um Deus que namorava jovens indígenas, levando-as consigo, deixando a forma humana para se transformar em uma estrela no céu.
Certo noite, Naiá viu o reflexo da lua nas águas de um rio e acreditou que o Deus havia descido do céu para se banhar ali. Sem pensar duas vezes, ela se atirou no rio, e vendo que aquilo era uma ilusão, tentou voltar e não conseguiu, morrendo afogada. Comovido pela admiração dela, o Deus da Lua decidiu transformar a jovem em uma estrela diferente das demais, chamada de estrela das águas, a vitória-régia. Seria por conta da lenda que essa planta só abre durante a noite, exalando seu perfume.
Iara
Outra personagem do folclore brasileiro é Iara, a mãe d’água, que também tem origem indígena. Ela é uma sereia, com um corpo de mulher da cintura para cima, enquanto da cintura para baixo tem uma cauda de peixe. Belíssima, ela atrai os pescadores e outros homens da região através da sua canção irresistível, fazendo-os pular dentro do rio. Ela também tem o poder de cegar quem a admira, e leva os homens que foram atraídos para o fundo do rio, matando-os.
Segundo a lenda, antes de ser uma sereia, Iara era uma bela e corajosa índia, que despertava muita inveja das pessoas da tribo, inclusive de seus irmãos homens. Por conta disso, certa noite, quando Iara dormia, seus irmãos entraram na cabana para matá-la, mas ela se defendeu e os matou, fugindo pela floresta com medo do pai.
Seu pai, porém, a encontrou, e como punição, lhe jogou no Rio Negro com Solimões. Os peixes a trouxeram à superfície, e sob o reflexo da lua cheia, se transformou em uma sereia e passou a matar os homens.
Outra lendas populares
Assim como o boitatá, a cuca, o lobisomem e todas as outras histórias contadas nesse artigo, o folclore brasileiro é rico em lendas populares, sendo impossível informar todas elas em apenas um artigo. De qualquer forma, elas representam a cultura do nosso país e mostram lições importantes que podem ser retiradas delas. Algumas que podemos citar são: Lenda do bicho-papão, lenda da caipora, lenda do corpo-seco, lenda do papai noel, lenda da alamoa e lenda do bumba meu boi.