O evento apresentou uma segunda noite muito diferente das edições anteriores, com funk, trap, hip-hop e rap, agradando ao público que estava no local e quem acompanhava pela TV.
A primeira edição do Rock in Rio aconteceu em 1985, foi idealizado pelo empresário brasileiro Roberto Medina e contou com a participação de nomes como Def Leppard, Iron Maiden, Queen, Rod Stewart, Scorpions, AC/DC e Yes. Mas também teve Novos Baianos, Ney Matogrosso, Erasmo Carlos, Gilberto Gil, Lulu Santos, Paralamas do Sucesso, Elba Ramalho e Alceu Valença.
Em uma entrevista à GQ, Medina afirma que, por ele, o festival teria mais rock, mas que o ecletismo é a marca registrada do evento. Assim como a primeira line up, o Rock in Rio sempre apostou na mescla de estilos musicais, mas ainda assim o público sempre apontou para um certo “elitismo musical” nas escolhas, principalmente em deixar de fora o funk carioca.
Para aqueles que acompanham a cena musical brasileira, nada mais justo que um festival que tenha sido idealizado no Rio de Janeiro receber atrações que tenham relação direta com a evolução carioca. E se pararmos para analisar com cautela, o fenômeno do funk carioca ganhou proporção e destaque na mesma década em que o Rock in Rio começou, 1980.
Segundo reportagem da revista Veja, Roberto Medina comentou em 2017 que a ausência do funk e da Anitta tinham relação com a falta de planejamento da equipe, que não tinha se programado para montar uma line up nesse estilo. Cinco anos depois dessa declaração, o segundo dia do Rock in Rio finalmente entregou aquilo que há anos o público pedia: coerência.
A segunda noite do evento, que aconteceu no dia 3 de setembro, teve trap, funk, rap e hip-hop, apresentando uma cena musical inteiramente condizente com o público jovem. Nomes como MC Poze do Rodo, Bielzin, Teto, Xamã, Brô MC’s, Papatinho, L7nnon, MC Hariel, MC Carol, PK e Don Juan, atraíram o público e movimentaram as estruturas do dia.
Além disso, outra novidade foi o palco Favela, espaço criado para apresentar artistas da periferia e artistas populares em todos os dias de evento. A noite foi consagrada pelo histórico show do Racionais MC’s, considerado um dos grupos de rap mais importantes do Brasil, e que sempre se posicionou de maneira contrária a eventos desse porte.
Com letras que abordam a realidade da população negra e periférica, a polícia como um instrumento que mais encarcera e mata jovens negros e politica como ferramenta de transformação, o grupo exibiu fotografias de vítimas da violência no Rio de Janeiro, como da ex-vereadora Marielle Franco, e de Carlos Marighella – exibida durante a música Marighella (Mil Faces de Um Homem Leal).
Outro cantor considerado proeminente na cena musical foi o rapper Criolo, alavancado com o álbum Nó Na Orelha e um dos cofundadores da Rinha de MC’s na favela de São Paulo. Além disso, a cantora cabo-verdiana Mayra Andrade ainda fez uma participação especial, também agradando aos que estavam acompanhando o desenrolar.
No palco Mundo, a escalação privilegiou a música eletrônica e o trap, com shows de Alok, Jason Derulo, Marshmello e Post Malone, artista muito conhecido e referenciado pela atual juventude, que mescla estilos musicais e produz canções mais introspectivas, que mexem com o público que o acompanha.
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Muitos reforçaram que o Rock in Rio já não privilegia mais o rock há algumas décadas, e que isso pode ser um reflexo de como a sociedade tem caminhado para uma constante valorização da música, sem colocar mais em pequenas caixinhas separadas. A generificação musical tem mudado, se antes um artista de pop só fazia música desse estilo, hoje são muitos os que demonstram total versatilidade, fluindo entre os mais variados acordes.